sábado, 5 de julho de 2008

Promessa de 5 de Julho ao Daniel Rendell

  • PÁTRIA MINHA

Ah! Pátria minha, és um adágio
na alma dos meus dias-menino aí,
na Matiota com cavalo marinho dançando
pés descalços na Praça Nova
e com este sonho que agora és tu.

Ó, minha morena morna!, lembraste
do meu primeiro beijo sonhado,
do meu deserto primeiro amor,
da minha letra alfa desenhada com espanto,
da descoberta da hora rotunda, santa,
do conhecimento do oriente feminino,
do palmilhar a terra como um Deus de odores
e das tardes infindas de partir sentado
com asas que herdei de ti? Sim...

Lembre-te comigo, amada minha,
dos dias verdes que sonhávamos
e que vemos adiados,
petrificados como Monte Cara
o canto primo das nonas de Julho.
– Ah, como queríamos ver os seus olhos!

... As manhãs de amor-de- um-dia e Sol
nascendo e morrendo na tarde e no Mar,
todos os dias; sim, todos os dias
como a dor que nos afagava a alma
a modo de hímen complacente, novidade...
– Oh, que benfazejo matiz nos engolia!...

Ao longe, procuro-te na extensão do teu sim
e trazes-me, amante minha, o teu mel
e dou-te o meu leite. Sim, somos, tu e eu,
terra prometida na dádiva. Aunados.

Somaste de perfeição a tua idade,
não és o Alexandre vingador que sonhamos
nas lágrimas das tardes desabrochas de dor,
nas noites escuras de gongons fardados,
nas areias negras do teu corpo mouro,
no pão duro, rochoso e nosso de cada dia,
no bife de caneca de oração tardia...

Ah!, pátria minha, amada amante prima,
o teu destino de Messias no madeiro
não me consola o sonho brado de nós.

Ó minha pátria amada! És tchom
de Nossa Senhora d´boca vrôde pá tchom,
primaterra final, umbigo planar.
Sim, doce amada minha, bordão de espera,
Mãe-córnea de sonho
farelhão, és
e serás sempre e para sempre, o amor,
a bruma da raiz funda dos meus amores.

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