quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Com afecto
  • SON(H)O MIGRANTE
Para o Virgílo
.
Inventa na palavra o sopro
De tudo o que em silêncio
Morre feito sonho ou canção;
Ensina-me o ler que antes de ler
Se aprende pelo vício da voz lendo,
Rouquidão mansa que molda
O barro informe da primeira letra;
Ensina-me o amor que se escreve
Com a boca sabendo a terra
E letras de mil aromas que só
Teus olhos de jasmim me lêem;
.
É tarde, e tardas no veneno
Que a tua ausência destila;
Escuto o grito de gritar-te
Para reinventar a memória
De dizer-te antes de partir;
.
Por soletrar estão ainda as letras
Desta caligrafia anónima, partitura
De um cântico em clave de mi(m).
Diz-me quando chegares,
Migrante vagabundo das estrelas
Para que lado do meu son(h)o
se abre a porta da minha alma?
José Eduardo Cunha
.
Imagem: Fotografia de José Eduardo Cunha

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