- AS DESGRAÇAS ENDÓGENAS DA TACV
A empresa TACV tem muitos problemas, mas alguns nascem no seio da sua estrutura, da sua gestão e da falta de «cultura de empresa» dos seus trabalhadores que não vêm a mesma como «sua», como algo de que fazem parte integrante e que os seus sucessos, insucessos e erros são partilhados por todos. A empresa é como um corpo e neste todos os membros devem colaborar uns com os outros; de outro modo o corpo entra em colapso (a não ser que se cure as partes que não funcionam bem) e morre.
A semana passada um casal amigo viajando de Holanda para passar as férias em Cabo Verde fez escala em Lisboa e passou o dia com a minha família. Na sua passagem aérea dizia que o avião partia às 20 horas, mas a verdade é que saiu as 19:00 horas. Se fosse eu, que gosto de fazer check in de última hora, teria ficado em terra.
No ano passado, uma amiga fez escala em Lisboa, proveniente de Milão para estar uma temporada em Cabo Verde. Mas o que lhe aconteceu em Lisboa deixou-lhe com os nervos em franja. Foi-lhe comunicada, no aeroporto de Lisboa, que não poderia viajar para Cabo Verde nessa noite porque não tinha lugar no avião! Ela e mais de, pelo menos, uma dezena de pessoas... Conclusão: o balcão dos TACV no aeroporto de Lisboa, cumprindo com as regras comunitárias, pagou-lhe de imediato pouco mais de 400 euros e envio-a num táxi para o hotel Radisson, no Campo Grande, onde jantou, dormiu e no dia seguinte seguiu viagem.
Perguntou-me como é que era possível, e lá tive de explicar-lhe as práticas de over booking de agências e companhias aéreas, as manobras comerciais de concorrência, etc... A administração dos TACV deve(rá) estar atenta à estas situações e à outras que minam a capacidade financeira da empresa como uma goteira um tanque de água. Uma dessas situações será a que me contou no outro dia uma amiga, indignada por não poder viajar na data desejada.
Mas não é só isso, há mais, muito mais. Disseram-me que os trabalhadores da TACV têm algumas regalias (justificáveis no âmbito dos acordos de empresa), nomeadamente o de viajarem pagando somente as taxas e que, ao que parece, é usado e abusado por alguns familiares de trabalhadores da companhia. Dizia-me uma amiga – que queria viajar para ir visitar familiares que não vê há cerca de uma década – desgostosa com o facto de um seu amigo, familiar de um trabalhador da empresa, ter lugar garantido para ir passear à terra pela n vezes já este ano.
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«Não entendo: borlista tem lugar, mas eu não...» – lamentava-se.
Há muito que aprendi que as coisas nunca são exactamente como nos contam; mas, a ser assim mesmo, é preocupante numa companhia com as fragilidades da TACV e na presente conjuntura. Ao que me disse, um dos antigos administradores da TACV teve alguns dissabores familiares neste aspecto, pois entendia que quando os familiares viajavam deveriam pagar as passagens como os demais cidadãos. Mas não afrontou os trabalhadores; sendo certo que o deveria ter feito, caso existissem ou existam regalias desproporcionadas à realidade económica da empresa.
Numa altura em que a empresa precisa, como todas as companhias aéreas do Mundo, de contenção de despesas e de gerar mais receitas, o uso abusivo de regalias da empresa é de censurar. Note-se, no entanto, que é justo que a empresa conceda algumas regalias aos seus trabalhadores e seus familiares directos – cônjuge, descendentes e ascendentes – mas tal deve ter um limite que não pode nem deve ultrapassar o razoável ou constituir um ónus para a companhia.
Faz sentido que os trabalhadores tenham uma viajem gratuita durante o período anual de férias, eventualmente extensível à sua família, e que esta tenha um desconto (substancial ou não) nas viagens. A empresa deve ter uma lógica de empresa mercantil e como tal deve pensar – além de proporcionar um serviço de qualidade –, em maximizar os seus proventos, principalmente agora que os custos operacionais têm aumentado substancialmente. Os trabalhadores têm um papel importante nisso e podem e devem ajudar a sustentar os objectivos da empresa, local donde vem o seu sustento.
A adesão às novas tecnologias, criando uma base de dados e de monitorização de reservas, com um código de reserva específico para os trabalhadores da empresa e seus familiares – com limitação de uso ao pré determinado – poderia ser útil à empresa. A existência de uma central única de reservas, também poderia ajudar. Certamente que pouparia e ganharia dinheiro; assim como o uso de linhas telefónicas via Internet (que são gratuitas ou de custos substancialmente baixos e que deveriam ser de uso corrente em toda a administração e empresas do Estado) e outras soluções de gestão corrente análogas poderiam ajudar na contenção dos custos da empresa. Isso para não dizer que a companhia, pelo relevante serviço público que presta ao país, deveria ter (se já não tem) acesso ao combustível a um valor inferior ao do mercado e que impediria o agravamento dos preços das passagens aéreas e das taxas. Situações excepcionais exigem medidas excepcionais.
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A galinha de ovos de ouro deu uma boa canja e soube bem a coxa frita...
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Imagem: F16 da NASA
Imagem: F16 da NASA
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