- INDEMNIZAÇÃO PELO COLONIALISMO ITALIANO. O INICIO DA JUSTIÇA?
O acordo entre a Líbia e a Itália para este país compensar a nação líbia pelo período de colonização foi alcançado e assinado um tratado sobre a questão.
A antiga nação colonizadora irá compensar o povo líbio pelas décadas e colonização com um investimento de cinco biliões de dólares a serem aplicados em projectos de desenvolvimento.
Muammar Al Qathafi reclama, há anos, a responsabilização das antigas potências colonizadoras e a consequente indemnização dos povos africanos vítimas dos crimes e dos abusos da colonização. Este acordo é, para ele em particular, uma grande vitória, não somente pessoal mas também para o seu discurso aplicado à toda a África e cimenta uma posição de autoridade discursiva no concerto dos líderes africanos que podem e devem ver nisto um exemplo.
Muammar Al Qathafi acaba de demonstrar que é possível alcançar o que é devido sem conflito. Agora, não se pode dizer – quer as vitimas quer as antigas potencias coloniais europeias – que não é possível conseguir-se as indemnizações devidas. Podemos, com este acordo, ter assistido a um novo paradigma de plano de desenvolvimento em África; o que, a acontecer, será mais do que justo. A seu tempo – que não se deve esperar mas criar – veremos.
A Itália, num simbólico gesto de boa vontade, entregou a Vénus de Cyrene – obra de arte roubada pelos soldados italianos do tempo colonial – à Líbia. Bem, o que sei é que não verei retornar à África a imensidão de tesouros roubados, nomeadamente o obelisco retirado pelos romanos ao tempo de Karnak em Luxor, Egipto, e hoje na praça de S. Pedro em Roma, nem mesmo a imensidão de objectos que enriquecem os museus ocidentais; mas estamos perante um princípio.
Pedir desculpas pelo mal causado e fazer o possível para compensar a vítima revela muito mais do que aparente. Confesso que – mesmo considerando os interesses laterais inerentes ao acordo – não esperava isso de um Governo liderado por Berlusconi.
É uma grande vitória diplomática de Muammar Al Qathafi, do povo líbio e dos africanos em geral. É um momento para a História. Ah, e não é que estes países sempre tiveram relações particulares; pois nasceu na Líbia o primeiro Imperador africano do Império romano: Lucius Septimius Severus. E, sendo advogado do Diabo, é bom que se saiba que também a Itália e a Península Ibérica (Hispânia – Portugal e Espanha) estiveram sobre o jugo africano; bastará lembrar as guerras púnicas e as suas origens. Mutatis mutandis para as situações, claro!
- Imagens: Vénus de Cyrene e Vénus de Cyrene a ser entregue por Belusconi a Qathafi.
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