- O BALANÇO DE UM AMORDAÇADO
Era a primavera dos sonhos,
sem sentido.
Era a imortalidade na mão,
sem sentido.
Era a redenção colectiva sem Marx,
sem sentido.
Era o retorno dos guerreiros e da flor,
a última gaivota assombrada no Tejo,
sem sentido.
Era o aroma do sorriso do meu novo amor,
sem sentido.
Era o pálido grená
dos pequenos lábios de desejo,
sem sentido.
Era Wilde consumido
e Khalil crucificado na pena,
sem sentido.
Era a última mulher nua vista pelos homens,
e gritava,
sem sentido.
Era o homem feio com coração de menino
olhando-te nos olhos, e sorrias de dor,
sem sentido.
Era Cunegundes sem aventuras, Dulcineia,
Santa Joana e S. Francisco de Assis
no berço a olhar-nos,
sem sentido.
Era o discurso de Mãe
na juventude das descobertas,
sem sentido.
Era o nácar da alma
cinzelado pelos dias,
sem sentido.
Era o pó dos dias de operário
definhando na poesia,
sem sentido.
Era a opressão que sofre os dias do negro
e a noite sem estrelas,
sem sentido.
Era em mim
a luta fratricida de Darwin,
sem sentido.
Era, dizia Mulungo no último suspiro,
uma boa vida…
E ficou à espera
que o eterno se arrependesse.
2 comentários:
E se o sentido é o sem sentido?
Belo poema.
Carla,
Sim, e se... cabe-nos descobrir ou não perder tempo com isso. Fica-se/viaja-se entre a liberdade e a livre necessidade?
Merci,
dia bom
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