- A CHUVA E A MÁ GESTÃO DAS CIDADES
Choveu em Cabo Verde.
– Que boa noticia – pensamos nós, os que estamos longe de tchom d´nôs terra. Mas não, as notícias recebidas são as mesmas do velho e triste fado: inundações generalizadas e uma incompreensível (e inaceitável) incapacidade de retenção das águas das chuvas para fins úteis e evitar os efeitos destrutivos das mesmas.
Ninguém acredita que os governos que precederam o actual não eram capazes de resolver este problema estrutural do país, nem que este governo e as autarquias não sejam capazes de o fazer. E nem me venham falar na velha história da falta de meios! Tal, hoje, não é aceitável de todo.
Bem, se não são incapacidades nem incompetências ou falta absoluta de meios, o que se passa? Sim, o que se passa? Uma explicação – mesmo uma explicaçãozinha – ao povo não faria nem faz mal a ninguém. Não é favor nenhum, é dever que se tem para com o povo; assim como o povo tem esse mesmo direito/dever de esperar e exigir uma explicação – já que os seus representantes no Parlamento não o fazem e se enraizou na sociedade cabo-verdiana um sentimento fatalista de que se está perante uma inevitabilidade. Mas não, longe disso!
É que o país não está, felizmente, perante um Katrina ou um Gustav, não; estamos perante uma carência franciscana de infra-estruturas básicas que o governo e as autarquias têm o dever de criar e de sustentar de uma forma, pelo menos, satisfatória. Não é assim, porquê?
A acção omissiva dos gestores da coisa pública, isto é governos e autarcas, fazem com que a bênção que é a chuva se torne uma maldição para a nossa terra; assim, ficaremos cada vez mais uma terra seca e a ter verde somente na alma, como a Sinfonia de Vasco Martins que escuto enquanto escrevo este texto.
A milhares de anos de distância temos o exemplo do Egipto cujos governantes fizeram com que as cheias – uma aparente maldição – se tornasse numa bênção para o seu povo e para o mundo de então. Seremos menos engenhosos e menos capazes? Não creio, de todo! Temos é, claramente, uma má gestão das nossas cidades e dos nossos meios; até conseguimos fazer com que uma bênção se torne num mal – o que acaba por ofuscar as outras coisas boas que se fez e se vai fazendo no país. ----------
- Imagem: Avenue of sphinxes, Luxor, Egypt
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