quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Agora, neste período de abundância (para muitos indesejada) de chuva, lembrei-me deste poema que escrevi há já algum tempo. Os que não têm memória não entendem o que é a chuva e o seu valor para a terra – em especial para a terra seca, espremida até de sonhos.
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  • COMO GRITARAM EM 47

    O sol nasceu
    com a impiedade de quem ama todos
    da mesma forma.

    De repente, um grito assola o dia.
    Um grito de mulher:
    Ó povo!, q´dime... nhe fidje já morrê.
    Já ninguém ouvia.

    Trabalhavam os homens nos campos de pedras
    e no porto ingrato;
    espremendo a terra seca,
    as mulheres pariam filhos para terra-longe consumir;
    os meninos dormitavam nos sonhos ocidentais
    e caminhava o dia triunfante
    no descanso e na beleza.
  • Iamgem: Hector and Andromache, De Chirico

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