sábado, 21 de junho de 2008

  • O ADEUS DE GILLES FILIATREAULT À TACV

O Governo de Cabo Verde decidiu afastar Gilles Filiatreault da gestão da TACV, tendo, ao que se diz, nomeado António Neves – irmão do Primeiro Ministro – para ocupar o cargo de Administrador da empresa.


A notícia não é aquilo que se pode chamar de uma boa notícia para os objectivos da empresa. Tal desfecho quer dizer que o canadiano não conseguiu alcançar os objectivos a que se propôs e que, na opinião do Governo, não iria ou não seria capaz de os alcançar.

Se assim é, nada de mais natural. Esta situação era previsível – na altura da sua contratação e no momento de avaliação da TACV como activo do Estado susceptível de quer de ser uma mais valia para as contas do país quer da sua imagem externa – ou não?

Parece-me que o Governo deveria ter apostado num nacional de competências reconhecidas desde o início do processo de saneamento financeiro, reconversão e – eventualmente – privatização da empresa.

Os conflitos laborais, a gestão menos adequada – empiricamente o cidadão comum verifica coisas de difícil compreensão, nomeadamente: o anúncio do encerramento da agência da companhia na Praia, os conflitos laborais (com despedimentos que se vieram a confirmar à margem da lei; quando o que se aconselha, nestes casos, é ou a reconversão dos trabalhadores dentro do quadro laboral da empresa ou o acordo amigável de rescisão de contratos) e uma prática de «over booking» em algumas paragens da Europa (nomeadamente em Portugal) que tem custos consideráveis para a companhia no âmbito da legislação da União Europeia.

Note-se que esta última situação era uma das razões que quase levou a TAP à falência quando estava num grupo com a SWISS AIR. Há mais, mas não vem ao caso – agora. Tudo isso era sintoma de que algo não ia bem nos objectivos traçados pelo Governo e pelo Administrador contratado para um dado fim. O adeus, parece, assim, tardio; espero que não tarde demais.

Será uma questão de eleição errada dos meios para prosseguir os fins ou, pelo contrário, estamos perante um diagnóstico errado sobre o que é a situação real da TACV e das suas reais necessidades?

A ver vamos.

Ah, e quanto vai custar às contas do Estado a rescisão do contrato? É que não acredito que um gestor experiente não tenha previsto no contrato esta possibilidade e salvaguardado a sua posição. É, certamente, mais um rombo nas contas da empresa, mas – e o Governo deve ter ponderado isso – do mal escolhe-se sempre o menor. E, ao que parece o mal menor é a saída Gilles Filiatreault do processo.

O que resta saber é se a nova Administração vai seguir a rota traçada ou se vai rever os fins e objectivos (imediatos, médio e longo prazos) para a empresa que não se pode dar ao luxo de andar à deriva em termos de gestão, nem cometer mais erros. Existem coisas em que não se pode ter posições e/ou acções erráticas.

E, por essa razão, é um grande risco político o Primeiro Ministro nomear o irmão para o cargo de Administrador da TACV – não é que ache isso nada de mais, desde que o homem em causa seja tecnicamente competente –, pois politicamente não deixará de sofrer ataques cruzados e poderá sofrer beliscões ou ferimentos graves.

Na verdade, com esta dupla decisão, a TACV precisa de mostrar resultados no final deste ciclo de gestão, quer para o bem-estar da saúde social e financeira da empresa quer para a saúde política do Primeiro Ministro. É que uma má escolha agora, depois da derrota das eleições autárquicas, retira o espaço de glória que beneficia e goza no seio do PAICV.

PS: Não será tão que cedo que os emigrantes verão reduzidos os preços das passagens aéreas para o país. Até porque, em rigor, tal não depende somente da TACV...
  • Imagem: Alecos Fassianos, A luta

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