domingo, 29 de junho de 2008

  • CURIOSIDADE MATA?
A curiosidade matou o gato, diz o povo. Ao gato, até pode ter morto. Mas será assim com as pessoas? Plutarco diz-nos que Júlio César poderia ter salvo a sua vida se, a caminho da reunião do Senado, tivesse lido um papel que lhe foi entregue – mas deixou-o para depois; não foi curioso e avisado o suficiente.

Algo análogo é narrado por Herodiano e Aelius Spartianus sobre Caracalla; se tivesse tido tempo para ler a sua correspondência – durante a campanha asiática ou Alexandrina – e não a tivesse entregue a Macrinus, Prefeito do Pretório, para ler e despachar enquanto ia caçar. Se o tivesse sido curioso o bastante para saber as novas de Roma, Macrinus não saberia do aviso do Prefeito de Roma de que os deuses previam a morte do Imperador às suas mãos. Consequência: para salvar a sua vida, Macrinus assassina Caracalla.

A curiosidade, não mata; em regra salva o curioso.

Arquias, tirano de Tebas, foi – através de um escrito – avisado por um cidadão ateniense da conjura revolucionária de Pelópidas contra o seu reino tirano, mas não atentou no escrito. Estava jantar e – perante a correspondência – disse aos seus convivas: «deixaremos para amanhã». Mas o amanhã nunca chegou, ou chegou tarde demais.

A curiosidade não é um defeito, é uma virtude análoga (tem a mesma natureza) à prudência e, não raras vezes, salva mais do que condena: uma pessoa avisada é um ser responsável e preparada para o imprevisto.

Tenho tempo para saber, para fazer, para amar, para... – dizemos constantemente, como se fossemos senhores do tempo e da vida, mas não. Na existência o imprevisto ou o acaso (aconselho a leitura de Jean-Louis Boursin, «As Estruturas do Acaso», para a compreensão da real dimensão do «acaso») desempenha um papel muito mais relevante do que a vontade.

Na verdade o imprevisto, assim como a morte – o mais previsível de todos os imprevistos – nos livra de todos os compromissos. Estar atento sobre o que se passa à nossa volta é uma virtude que evita um acrescento de dores.
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É..., bem sabiam os senadores romanos o que faziam quando – durante os banquetes – ficavam junto a locais onde poderiam receber notícias urgentes e, mais avisado ainda, Chandragupta ao inventar essa coisa que hoje chamamos de serviços secretos e deles incumbiu os olhos e os ouvidos da sua multidão de filhos...
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  • Imagem: Angels and Demons, Luis Royo

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