terça-feira, 3 de junho de 2008

  • O CANTO DOS PIRILAMPOS

Escrito na campa de um poeta:

“ Era um Deus louco
que amava
sob o canto dos pirilampos.

Era um Deus louco
que amava
com as mãos pingando sangue inocente.

Era um Deus louco
que amava
com lágrimas eternamente rios
em mim…

Era um Deus louco
que amava
com egoísmo extremo e medo eterno
que me trouxe igual saudade.

Era um Deus louco
que amava
que nunca conheci ou amei
com amo-me
por imperativo de viver
e de ser eternamente eu.

Era um Deus louco
que amava
no momento que me perdi
com a plena convicção da perdição
empolgando meu coração
com sonhos tão longínquos
como um sonho e a banda do Norte
pode ser…

E era, enfim…
Um Deus louco que amava
quando com vontade renegada
colhi da eternidade uma flor
mais que flor
permanecendo o orvalho eterno
de uma manhã adiada
e nunca nascida no rosto.

E permanece na sombra de tudo o que sou
essa imagem de Deus
que Deus amou e perdeu
por amr um sonho e uma loucura
mais do que simples ternura.

E, à beira da minha porta,
misturado com o pó que já foi gente,
escondem-se os pirilampos
que no silêncio mais silencioso que o silêncio
da negras noites
acordam-me com um canto sem palavras
e perguntam-me para onde vou
ao que eu respondo: – “Sou um rio sem fonte
manando para o deserto sem fim
que espera-me
como uma mãe um filho perdido”.

Sempre, sempre a sorrir, os pirilampos…
E brilham, brilham como uma trilha
Sem nome. Enterrem-me ali mesmo.”
.

Imagem: Nymphs finding the head of Orpheus , Waterhouse, John Williams (1900)