quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

  • CONSELHO NATALÍCIO AO MEU AMIGO FUMADOR
Meu amigo, tentas deixar de fumar desde o ano de 1990… assim te conheci nos corredores da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa: a tentar deixar de fumar. O meu conselho, a minha oferenda para ti, meu amigo, é que pares de tentar!, pois ou deixas de fumar, ou então é mera perda de tempo e de anima o tentares. O que não percebes, o meu amigo, é que enquanto tentas deixar de fumar perdes o prazer que está no fumar; não fazes nem uma coisa nem outra.

Neste Natal vou dar-te um conselho sobre fumar que, tenho a certeza, vai convencer-te a nunca mais pensares em deixar de fumar – vai renovar o teu prazer e dar-lhe um novo sentido e uma nova roupagem. E se resistires à novidade, aos sentidos, à natureza e à transmutação ufana deste prazer invocarei arcana voz:

«Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos, é a vós somente que dedico esta obra; alimentai-vos de seus princípios que favorecem vossas paixões; essas paixões que horrorizam os frios e tolos moralistas, são apenas os meios que a natureza emprega para submeter os homens aos fins que se propõe. Não resistais a essas paixões deliciosas: seus órgãos são os únicos que vos devem conduzir à felicidade» – sentencia o Marquês de Sade na dedicatória da edição prima de A Filosofia da Alcova.

É, meu amigo, como diz o luso poeta: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; todo o Mundo é feito de mudança… Espera, meu amigo, que soprarei nos teus ouvidos – como ratinho faminto na noite escura – a novidade de conhecer depois de conhecer. É os Lusíadas transmutado. E se me disseres que é má ideia esta novidade, também te lembrarei, sem piedade da verdade (coisa devida aos amigos), o que diziam os antigos: habent sua fata libellios maus livros também têm seu destino. Espero não chegar aqui…
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Mas, com conselho ou não... que tenhas um Feliz Natal.

Nota: Escrito a duas mãos com o meu poeta – que não conhece o meu amigo –, em função de conselheiro e a dizer-me, constantemente: – «VB, olha o que vais dizer...» Oh, Eloha! desmancha prazeres, o meu poeta...

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