segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

  • NATAL E JOSÉ LUIZ TAVARES

Está aí o Natal. Como é tradição, fazem-se oferendas – como fizeram ao menino Jesus quando nasceu. A ele ofertaram ouro, incenso e mirra; ouro significando a sua realeza, incenso a sua divindade e mirra a dor que sofreria. Assim, uma prenda é, deve ser, mais do que uma coisa – deve ser e ter um simbolismo.

Eu, com se sabe, gosto de ler e acho que o livro é uma das formas de excelência da cultura e que não se esgota na sua forma nem no seu sentido instrumental. No tempo em que se vota neste ou naquele, com mérito ou demérito de proximidade e de amizade, é necessário cultivar a alma, buscar a excelência como o pomo de ouro da alma.

A ter de oferecer um livro a alguém, ofereceria uma das obras de José Luiz Tavares, o poeta cabo-verdiano que, no quadro da produção poética cabo-verdiana, revela uma anima de inspiração e transpiração estéticas incomuns. Os amiúdes ataques anónimos que sofre – de almas pequenas que sonham ser grandes mas nunca serão – é, também, prova da maioridade de uma obra em construção e digna de ser conhecida e reconhecida. Há mais na poética cabo-verdiana que o passado forçadamente eucaliptico – da herança colonial, claridosa e pós claridosa – mais que «os ressurrectos nomes dos mortos», diria o poeta.

E se o Natal é tempo de (re)nascimento e de desnudar a beleza recôndita, nada como ofertar aos outros e si mesmo a poesia de José Luiz Tavares que é, em si mesma, um horizonte novo – esculpido de um logos prenhe de ilhas inconstruídas – da poesia cabo-verdiana e de língua portuguesa. Escrita de verbo mufino, mofina muitas almas rasantes; é certo. Já agora, espero que um dia destes o Ministério da Educação acorde da sua hibernação cultural e coloque a sua obra nos curricula do ensino da língua portuguesa nas escolas cabo-verdianas, pois a sua poética não deve nada aos clássicos. Seria, sim, uma forma de Natal temporão para o ensino do português em Cabo Verde e de reconhecimento do que merece ser reconhecido; pois o país corre o sério e mais que provável risco, como tem acontecido noutros casos, de ter de importar o reconhecimento feito em terra-longe aos filhos da terra.

Ah!, e não nos devemos esquecer que a melhor forma de se homenagear um poeta é comprando e lendo os seus livros. Comprar um livro é coisa pouca se comparada com o prazer, o orgasmo de alma que é ler poesia de excelência e de invulgar logos, como é o caso da poética de José Luiz Tavares. Eu acho que quem gosta de livro de livros e de poesia deve a si mesmo o prendar-se com tão estruturada e ufana poesia. Sim, a poesia de José Luiz Tavares tem, de certo modo e neste momento, como dizia, uma dada e verdadeira dimensão eucaliptica e desafia o futuro da poesia cabo-verdiana.

Será por isso que a sua obra mais recente passou despercebido em Cabo Verde? Talvez, talvez… mas que fazer? Os povos diasporizados são assim mesmo, prenhes de ingratidão; no caso de Cabo Verde grassa o medo da excelência. Mas como esconder uma candeia na noite escura? Como?...

6 comentários:

Anónimo disse...

Quem qui cré nhorré, nhorré

Incontestavelmente é José Luís Tavares um dos maiores poetas caboverdeanos da actualidade.

Não nos matraca com as fangonhices de "falta de chuva","saudade", melosos sentimentalismos e ressentimentos belelecos dos poetastros com cartões de entrada grátis no palco sagrado da poesia.

Muito pelo contrário, a "palavra", cada palavra, em cada verso de José Luís Tavares é uma pérola incrustada, é uma jóia, não uma coisa qualquer susceptível de substituição genérica.

É o que nos faz sentir, momentaneamente, em perfeita harmonia com tudo o que nos rodeia, connosco próprios, com o nosso total passado, com as nossas crenças e descrenças.

José Luís Tavares não é um poeta de moda, de circunstância. Não é um fogo-fátuo.

Os nossos "estetas oficias", não terão a jeito instrumentos capazes de qualificar e "classificar" o nosso Poeta Tavares.

É sina, realmente. Os Tavares, poetas caboverdeanos, têm a sina TOP. Paciência.

Diria um respeitado, inteligente e proeminente vulto da minha ilha: "Quem qui cré nhorré, nhorré!" - tinha, esse meu amigo, a quem respeitei sempre e respeito a memória, dificuldades em pronunciar o "m".

Anónimo disse...

A ingratidao nao é o "apanage" dos diasporizados, nao!!

Gostaria fazer aqui um deal com alguem de boa vontade porque fica dificil encontrar aqui em Paris livro do José Luiz Tavares, ainda falta muito para que a divulgaçao da cultura cabo-verdiana seja aceitavel por essas bandas. O deal consiste numa troca de livro (ou outro produto cultural) de preço (e peço) equivalente que posso enviar pelos correios. Gostaria também acrescentar que se a sua poesia vale a nossa curiosidade e leitura, outro Poeta também merece nesta parenthesis a nossa distinçao por ter levado ha muitos anos a sua arte poetica nos campos desertados da filosofia. Também escreve um português que merece ser estudado e matutado... Chama-se Valdemar Velhinho Rodrigues. Com certeza, a excelência aterroriza os mediocres!!! Por sinal vêm os dois das terras interiores.

Virgilio Brandao disse...

Olha, podemos fazer o seguinte: compro e mando-te um exemplar de «Paraiso Apagado por um Trovão» ou de «Agreste Matéria Mundo» do José Luiz Tavares e tu mandas-me um do Velhinho.

O que achas?

Dia bom: :-)

Anónimo disse...

Obrigada Virgilio pela oferta!! Mas so tenho livros do Vadinho em exemplares unicos, tens de pedir a Larissa. Pensava em troca com livros ou discos francês. Quanto custam os exemplares do JLT porque se nao é demasiado caro, gostaria adquirir os dois. Qual é o editor? Posso talvez comprar online. Merci pour tes réponses... Fui ver a exposiçao Villeglé. Ha varias publicaçoes!!

Virgilio Brandao disse...

Que inveja, Ariane... que inveja!

Tenho de ir até Paris e ao Mindelo alimentar a alma.

Basta fazeres uma pesquisa na net que encontras os livros dele...
:-)

Anónimo disse...

Obrigada!

A exposiçao Villeglé da conta de algumas problematicas do seculo XX mas nao duraram seculos estas colagens que mal preparadas foram do ponto de vista tecnico. Dommage!!