- NO PAÍS DOS SACANAS – Jorge de Sena
Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas
E todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
Para fazer funcionar fraternamente
A humidade da próstata ou das glândulas lacrimais,
Para além da rivalidade, invejas e mesquinharias
Em que tanto se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de heróis e santos o país,
E ver se se convertem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
Ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
Porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
Que a nobreza, a dignidade, a independência,
a Justiça, a bondade, etc., etc., sejam
Outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
A um ponto que os mais não capazes de atingir.
.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então neste país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
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- Tigre Siberiano, Rússia (tinha este tigre guardado para um poema de Borges... pobre tigrinho, sacaneado pelas circunstâncias.)
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