- CARTA DE JORGE LUIS BORGES A ESTELA CANTO (i)
«Hoy, viernes 18.
Querida Estela:
No sé cuándo leerás estas líneas, no sé si estás aquí o en el Uruguay. Creo que este año prescindiré de otras vacaciones que las que me tocaron en Adrogué. (Ahí están derribando los eucaliptos para edificar un colegio.) Me abruman las tareas: un prólogo para las Novelas Ejemplares, otro para el Paradise Lost, otro para un libro de Emerson, un cuento para un libro mío, antológico, que ilustrará Elizabeth Wrede, la lectura (nominal) de cuatro volúmenes para el Premio Nacional de Filosofía, la de otras tantas piezas de teatro para un certamen, la innumerable redacción de solapas, noticias y contratapas.
Querida Estela:
No sé cuándo leerás estas líneas, no sé si estás aquí o en el Uruguay. Creo que este año prescindiré de otras vacaciones que las que me tocaron en Adrogué. (Ahí están derribando los eucaliptos para edificar un colegio.) Me abruman las tareas: un prólogo para las Novelas Ejemplares, otro para el Paradise Lost, otro para un libro de Emerson, un cuento para un libro mío, antológico, que ilustrará Elizabeth Wrede, la lectura (nominal) de cuatro volúmenes para el Premio Nacional de Filosofía, la de otras tantas piezas de teatro para un certamen, la innumerable redacción de solapas, noticias y contratapas.
Nunca, Estela, me he sentido más cerca de ti; te imagino y te pienso continuamente, pero siempre de espaldas o de perfil. Fuera de los Bioy no veo a nadie. Te deseo mucha felicidad,
Georgie.
Tengo un décimo de lotería para nosotros dos, curiosa multiplicación de la incertidumbre.»
. Nota de Estela Canto à esta carta:
Desde los primeros momentos, esta carta debe ser de diciembre 1944, Borges tiende a hacerme participar de su vida, de sus preocupaciones, de sus tareas. Pero: ¿por qué siempre me ve «de espaldas o de perfil»? in Estela Canto, Borges a Contraluz
(i) Quem sabe se, oportunamente, não publicarei outras cartas da JL Borges à esta sua Laura (todos os grandes poetas têm uma Laura, ainda que inconfessadas). Se não me esquecer, como – lembrei-me agora – das Cartas de Maria Luiza a Napoleão...
- Imagem: Dali, Portrait of My Dead Brother, 1963
9 comentários:
Quando li este texto ontem nem me apercebi que estava em castelhano. Só hoje dei por isso. Continua pelos visto a ser a minha segunda língua :)
Tenho uma pergunta para ti Virgílio.
O que é que levou Estela a fazer anotações nas cartas que o Georgie lhe escreveu? Foi para publicar o livro ou foi simplesmente porque lhe dava prazer? Leu e anotou todas de seguida ou foi ao sabor do seu desejo? É certamente um passatempo invulgar ( ou talvez não, não sei ) e foi este pormenor da história deles que me fez sorrir.
Joshua: bela segunda língua!
Olha, sobre a tua pergunta, infelizmente – digo infelizmente pois Estela Canto era a «Laura» de Borges (mesmo tendo casado duas vezes) – foram anotadas para o livro.
O amor entre ambos era desigual, desde o princípio, como a mesma diz (ao falar do tempo em que se conheceram e):
«Me quería. Yo lo admiraba intelectualmente y gozaba con su compañía.»
Isso, na verdade, nunca mudou. Borges amá-la-ia toda a vida. Pois é... um homem homem e o verdadeiro poeta não se consegue passar anos a dizer algo que não seja verdadeiro.
Pudera que fosse um passatempo, um acariciar de memorias... Mas não: algo bem mais simples - uma obra (esperada e desejada pelos amantes do poeta) sobre JL Borges. Para mim esta obra de Estela Canto é um forma de traição ao amor que Borges lhe tinha.
Mas isso sou a pensar… a ser julgador – eventualmente injusto. Mas, para perceberes o que digo, anota que muitas das cartas estão «sem fecha»... Mas ela, que as tinha, não poderia (tê-lo-ia feito se o amasse de verdade) ter colocado as datas?
Enfim...
:-)
Bem, como mereces, vou publicar uma outra carta de Borges a Estela Canto. Para perceberes melhor a minha resposta e dar maior sentido à alma da pregunta.
O amor entre duas pessoas é sempre desigual. Ou na intensidade ou na forma ou em outra coisa qualquer. Acho eu.
De qualquer forma também reparei na relativa imprecisão das datas. Porque é que tu pensas que se ela o amasse verdadeiramente teria colocado as datas?
Gostei da carta que publicaste posteriormente. Não há dúvida que Borges para além do amor tem sentido de humor. É no mínimo interessante.
Joshua,
Sobre a desigualdade do amor, concordo contigo. Não poderia estar mais de acordo.
Sobre a data das cartas… receber uma carta da pessoa amada é algo de maravilhoso – um momento que nos tira o fôlego, trava o nosso pensamento e fica, fica além da vida.
Se não tiver data, a coisa mais natural – assim como os rios nascem e o sol desponta no oriente – seria colocar a data, para proteger essa data da erosão da memória. Era o que eu faria…
É.. o humor de Borges. Destino de poeta, direi.
Mas, deixa-me confessar-te isto (se calhar não deveria): eu colecciono cartas – dá-me um prazer particular lê-las: desde a paixão de Borges e Napoleão (engraçado, quer Estela Canto quer a Imperatriz Maria Luísa desertaram-nos…), passando pela “seriedade” de Einstein, Freud, Lutero, Luís XVI, Eça de Queiroz… à loucura de Van Gogh.
Mas o que gosto mesmo, ó Jushua, é de receber love letters; essas sim, são especiais e não têm nada a ver com passatempo (o tempo nunca passará por elas). Coisas de poetas, Joshua, coisas de poetas… sonhadores do amor.
Por vezes penso que se não fosse a Estela Canto sonhada pelo Borges destas cartas não teria, hoje, o Borges que me encanta.
:-)
Pois é. Estou de acordo contigo em relação às datas e ao método de as preservar, era o que eu faria também :), só que nunca na vida me exprimiria dessa forma tão dramática, como se de repente receber uma carta pudesse ser assim tão avassaldor, mas enfim tu é que és o poeta.
Quanto às love letters que tanto gostas de receber pode ser que tenhas sorte, afinal vem aí o dia dos namorados!
Pois... isso é de quem ama.
Mas ela nunca amou o Borges, de verdade.
Cá estou eu a fazer considerações... sem perguntar: mas quem nunca partiu um coração? sim, vem aí o dia dos namorados, sim. :-)
PS: Ah, receber uma carta pode ser a coisa mais preciosa deste mundo, uma forma de beijo velando a alma com palavras.
"O amor entre duas pessoas é sempre desigual. Ou na intensidade ou na forma ou em outra coisa qualquer. Acho eu." concordo,è verdade,porque sinto e acho bem por ser assim porque senão não havia aquela quimica( o de fazer a pessoa amada feliz...)ah e segundo a cantora rihana nòs as mulheres fazemos de tudo para deichar os nossos namorados ou maridos felizes que esquecemos de nòs mesmos,numa parte concordo com ela mas noutra não porque se fazemos alguèm feliz,sentimo-nos felizes.
dia bom
"O amor entre duas pessoas é sempre desigual. Ou na intensidade ou na forma ou em outra coisa qualquer. Acho eu." concordo,è verdade,porque sinto e acho bem por ser assim porque senão não havia aquela quimica( o de fazer a pessoa amada feliz...)ah e segundo a cantora rihana nòs as mulheres fazemos de tudo para deichar os nossos namorados ou maridos felizes que esquecemos de nòs mesmos,numa parte concordo com ela mas noutra não porque se fazemos alguèm feliz,sentimo-nos felizes.
dia bom
Ah, marisa! Gostei: «porque se fazemos alguém feliz,sentimo-nos felizes».
Parece coisa escrita por mim. :-)
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