- A CRISE SELECTIVA E A ARISTODEMOCRACIA
Assim vai Portugal – uns a viver de forma escandalosamente opulenta e outros a sobreviver nas ruas, debaixo das pontes e em casas onde não há ar condicionado, sedas, marfim, presunto pata negra e de pato, Barca Velha e Albariño, caviar beluga e champanhe a rodos... mas sim ratos, piolhos e, com sorte, uma côdea de pão com manteiga para comer com leite com prazo a expirar do Banco Alimentar. A crise existe, sim. Mas é selectiva, muito selectiva. «Os pobres que paguem a crise» – é o lema da aristodemocarcia política, os nobres da moderdinade, esses que emergiram da Revolução e das independências para livrar os povos oprimidos do jugo opressor. O povo, assim como a instauração da República em 1910, trocou um jugo por outro.
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Mas pode ser que um dia o povo acorde, e faça uma revolução silenciosa nas urnas – pois Abril, nunca mais se verá; os militares estão adormecidos e domesticados pelas delicias de Cápua e pela «ordem democrática». E lembro-me, agora, do poema Os Conjurados de Jorge Luis Borges – sim, oxalá este meu desejo de despertar do povo seja profético.
Imagem: BMW série 7
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