terça-feira, 20 de outubro de 2009

  • BERNARD KOUCHNER, O PRAGMÁTICO

Bernard Kouchner, disse em entrevista ao Le Figaro que os afegãos «deverão se entender»… Pois é, mas não é isso que a União Europeia e os Estados Unidos da América andam a tentar há anos? Será que é tempo de lembrar-se o que Luís XVI dizia a Turgot : «Não se pode obrigar um povo a ser feliz». Mas pode-se fazer feliz os poderosos, isso sim.

Bernard Kouchner, Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, tem uma perspectiva muito interessante do Direito internacional, e por vezes aparece com tiradas surpreendentes, como no caso da extradição de Roman Polansky, em que anunciou que «iria escrever», em conjunto com o seu homólogo da Polónia, Radoslaw Sikorski, à Hillary Clinton para pedir a libertação do realizador de nacionalidade francesa e de origem polaca. Como se a secretária de Estado norte-americana mandasse no sistema judicial suíço ou estado-unidense.

Dizia Bernard Kouchner que «não acusamos a justiça internacional, mas sim a maneira como foi utilizada», i.e., que Polansky foi convidado a ir para visitar a Suíça e foi preso no âmbito de uma acção da polícia helvética que considerou ser uma história «sinistra», pois o tratamento dado a Roman Polansky «não foi muito simpático». E porquê? Porque «um homem de tal talento, reconhecido no mundo inteiro, reconhecido no país onde foi detido» deveria ter um tratamento diferenciado. Ah!, Polansky, seja dito, é amigo de Bernard Kouchner… A Justiça funciona assim, infelizmente, mas há que manter as aparências, não é?

O chefe da diplomacia francesa é, decididamente, o homem indicado para conseguir com que os dois candidatos à Presidência do Afeganistão — ambos com culpas no cartório na massiva fraude eleitoral que ocorreu no país cheguem a um consenso. As leis? Ah, isso pouco importa. Há que ser-se simpático, pragmático e, se possível, salvar a cabeça do Presidente Karzai, o amigo do ocidente. As pessoas se entenderão, de uma maneira ou de outra. Política, real politics.

A solução, a única solução que se admite num Estado que se quer de Direito é só uma: uma segunda volta das eleições; isso na impossibilidade (a jurisprundência dos interesses...) de se inabilitar os dois candidatos que recorreram à fraude. Deveriam, ambos entender-se numa coisa: nenhum eles tem condições éticas e morias para ser Presidente do Afeganistão. Mas não é isso que Bernard Kouchner quer se entendam, não Kouchner é de uma Europa política pragmática, demasiado pragmática.

Imagem: Bernard Kouchner, Ministro dos Negócios Estrangeiros da França

1 comentário:

Ariane Morais-Abreu disse...

Por acaso é o meu ministro mais on s'en passerait fort bien!! Nao precisam de ministro pelas aquelas bandas, o armazem brada material obsoleta...