segunda-feira, 28 de abril de 2008

  • CAPITAL DE NOVA TERRA-LONGE

De terra esquecida e ostracizada, passaste à capital da nação – 500 anos, quinhentos longos anos de desaguadouro de dores e de sonhos, mas nem por isso és uma cidade amada e cuidada; falta-te descobrir a esquadria da utopia.

Tens nome de cidade, mas não te tratam o corpo como tal; serás, de Polis, um filho menor da miragem de cidade-Estado? Pergunta aos Sólons das tuas esquinas limpas; sim, pergunta, ó Praia dos esteios.

És capital, mas não investem em ti o que tens da tua natureza; o sonho passeia pelas tuas ruas e perde-se como uma morna em Andrómeda sem porto de volta – mas os teus filhos são pródigos.

Teu nome é resgatada borda do Mar, lugar de descanso do mais longínquo pleito da terra, e esperas o silêncio das mãos canibais. Dá-me; sim, dá-me ao longe os teus dias passados de gozo e mudos de mal; sim, dá-me o teu capital paz de ontem. “Ó Praia de todas as esperas, deixa-me nadar no teu mar urbano sem medo, sem a escuridão que despertam os gongons de faca” – gritam teus filhos próximos.

És a imagem imperfeita da nação, por isso não te consigo ver na noite escura; teu brilho perde-se nos jardins de mãos em recato de acção dos pais da pátria que só te despertam para o dia do julgamento e da festa. Não te vêm, não escutam o teu pulsar de coração da terra a germinar gigantes sobre o mundo; um dia acordarás e não caberás em ti.

E navega no teu nervo essa esperança, mas não vês. O que vês pelas tuas ruas, ó Praia dormida, é o lixo da inconsciência, os animais famintos, gente perseguida por gente-gentio e caçadores engravatados de espada cega e mão grande das raias do continente. A tua esperança, Praia, teima em não mudar de destino.

Ah, não escutes, Praia dos estais, quem te diz que és e te faz d´Jôna, não. Mesmo na noite escura, mesmo nas tardes secas, mesmo com as pernas abertas, és, de todo, bela. És, sim és, a ponta maior da finisterra, capital da terra-longe dos filhos paridos longe de ti. Ah, és esteira de sonho lactente - escutei de voz sibilina nos teus cumes.

  • Imagem: Floresta, Japão