quarta-feira, 23 de abril de 2008

Hipnos and Tanatos (Sleep and his half-brother Death) -Waterhouse, John William (1874)

  • TARDE. VÉSPERA DE NASCER

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Ontem foi assinalado o dia “Dia Internacional do Livro e dos Direitos de Autor” e o meu momento de reflexão foi dedicado a terminar a leitura de «My Name is Red” de Orhan Pamuk (definhava, injustamente, na fila de espera). Um livro poético, belo e digno de ser lido.

Ficaram-me na memória uma voz amante: “And already everything has lost its primal mystery” (p.186). E repetiu-se, sempre: “You can tell them you were spreading salve onto my wounds […]” (p.493).

Verbo final: “For the sake of a delightful and convincing story, there isn´t a lie Orhan wouldn´t deign to tell” (p. 503). Pelo Amor, também – penso. É que as histórias e as mulheres gozam da mesma natureza, não é?

Lembro. Quando fiz os exames de acesso à Universidade de Lisboa (a primeira e famigerada PGA) lembro-me de ter de comentar uma frase de António Sérgio que dizia – salvo imprecisão de memória – que “um ivro que não é lido, não existe”. Passados estes anos todos, tenho a mesma opinião de então; e esperava, agora que penso nisso, ter mudado de opinião.

Ler este livro de Pamuk fez-me reviver esse exame e o prazer de então: dizer que há livros que, mesmo não lidos, existem. É que, de certeza – digo hoje –, deve haver uma ponte do Arco Iris em letras onde as belas histórias esperam entre o paraíso e a alma do leitor.

«My Name is Red” deixou essa ponte e está, agora, a navegar pela minha alma. Principalmente hoje; hoje que resolvi ter uma tarde para mim: para não fazer nada que tenha de fazer. Desejo: escutar Heimdall com Freya na ponta da pena, sim; e cair nos braços do Mar de Abril, tu a dizer: “You are spreading salve onto my wounds”.

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