- NOVA JERUSALÉM
Quando nasci,
tanta dor senti
que gritei de protesto…
Desde então
procuro a sua ausência
sorrindo com lágrimas
e pés cansados…
Ainda moço, falaram-me
de uma cidade justa
chamada Nova Jerusalém
cujos muros são compreensão
e a dor irmã
palavra insana e sem sentido.
Depois de muitas buscas
e já com os anos pesando,
encontrei a cidade sagrada.
Aproximei-me dos seus portões de bronze,
toquei nos seus ferrolhos de ferro
e abriram-se…
Vi então um ancião –
tão velho como a noite,
de cabelos brilhantes como o Sol
sentado num tronco de azinheira
– e perguntei-lhe: – "É-me lícito
entrar no descanso que procuro
desde o primeiro pulsar no meu peito?"
O ancião agarrou num livro
e leu do verbo das coisas ditas:
– “Só é digno de entrar na cidade santa
quem tenha as mãos limpas,
o coração puro
e saiba amar.”
Ditas estas palavras,
fechou o livro e continuou
sentado com o Sol no tronco de azinheira.
Então pensei para comigo
e disse-lhe: – "As minhas mãos
estão sangrando o sangue da minha mãe
que não viu o meu rosto;
o meu coração está manchado
pelo ódio
que sinto pelo mal
que me afronta sem razão;
e não sei amar,
como diz o Nazareno,
sem ser hipócrita, verme
e indigno de mim…"
O ancião voltou a abrir o livro
e leu com a tez serena e enegrecida
pela testemunha das auroras:
– “Pelas tuas palavras serás salvo
e pelas tuas palavras serás condenado…”
Percebi então que a cidade santa
não era para mim
pois até no Paraíso
uns são mais iguais que outros.
E grito; sim, grito de protesto…
Sem comentários:
Enviar um comentário