- COLÍRIO IMPREVISTO
Um dia, passeava
pelas sete colinas desta cidade
descuidada de tudo
quando vi um velho cego
sentado numa dessas escadas de xistos
que branqueiam as avenidas
e, sem dinheiro, disse-lhe: “ Boa tarde!...”
E ia seguindo o meu caminho,
quase envergonhado por estar teso,
quando escutei um murmúrio...
– … Boa tarde! Obrigado…
Intrigado, voltei atrás e perguntei-lhe:
– Porque me disse obrigado? Não lhe dei nada…
– Pensa que não – respondeu da escuridão
brilhando como uma super nova –,
mas deu-me uma boa tarde,
viu em mim uma pessoa…
Fiquei, nessa tarde,
redimido dos meus silêncios
e as minhas trevas ganharam sentido.
. Abril de 1981.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Publicada por Virgilio Brandao à(s) 1:57:00 da manhã
Etiquetas: cultura, memórias, my poetry, narcisismos
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