quinta-feira, 10 de abril de 2008

  • COLÍRIO IMPREVISTO

    Um dia, passeava
    pelas sete colinas desta cidade
    descuidada de tudo
    quando vi um velho cego
    sentado numa dessas escadas de xistos
    que branqueiam as avenidas
    e, sem dinheiro, disse-lhe: “ Boa tarde!...”
    E ia seguindo o meu caminho,
    quase envergonhado por estar teso,
    quando escutei um murmúrio...
    – … Boa tarde! Obrigado…
    Intrigado, voltei atrás e perguntei-lhe:
    – Porque me disse obrigado? Não lhe dei nada…
    – Pensa que não – respondeu da escuridão
    brilhando como uma super nova –,
    mas deu-me uma boa tarde,
    viu em mim uma pessoa…

    Fiquei, nessa tarde,
    redimido dos meus silêncios
    e as minhas trevas ganharam sentido.
    . Abril de 1981.

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