terça-feira, 1 de abril de 2008

SANTIAGO: BILHÕES PARA O PETRÓLEO OU PARA A AUTONOMIA ENERGÉTICA?

O meu dia começou há pouco mais de duas horas – percorri os jornais do Mundo a ver se encontrava algo de substancialmente bom para alimentar a minha alma. Paro em Cabo Verde e, para meu regozijo, verifico que há dias bons; dias em que se tem boas notícias para compensar as más.

As vítimas da ELECTRA devem estar a respirar fundo e a pensar que pode estar a aparecer luz ao fundo do túnel escuro que a empresa transformou as suas vidas na capital do país.

Mas será que é assim? Será que é mesmo assim? – penso.

É que a notícia de que o Governo, através do Ministro da Economia, Crescimento e Competitividade, José Brito, assinou um acordo de financiamento com o Governo do Japão para financiar, em parceria com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD – o tal que não serve para nada…), um «mega projecto» de energia para Santiago soa bem.

Soa ainda melhor ouvir falar em bilhões de escudos e saber que estes vão ser investidos na terra e que vão ficar na terra. Mas já não soa tão bem antever que – ao que se percebe entre linhas – esse dinheiro vá ser investido em formas tradicionais de energia: combustíveis fósseis. Isto é, que acabará por sair do país de forma indirecta; pois irá em grande parte para material circulante e, imagino, para reestruturação da ELECTRA…

É que estamos a falar de um investimento susceptível de criar uma autonomia energética sustentada para Santiago (ou pelo menos de parte substancial da ilha) e que pode vir a ser desperdiçada se investida na lógica da resolução dos problemas imediatos.

A médio e longo prazo – não me canso de dizer isso – é imperativo criar-se uma autonomia energética para o país, ilha a ilha (se necessário Concelho a Concelho), para não termos de depender do exterior. Santiago, com este volume de investimento(s), pode(rá) caminhar nesse sentido e ser a primeira ilha substancialmente independente em termos energéticos; o que beneficiaria não somente Santiago mas todo o país.

Não quero ser céptico, mas parece-me que nos arriscamos a ficar presos a sistemas energéticos sem futuro se não pensarmos um pouco mais além; mais além da dependência dos mercados de energia.

Gastar fundos em sistemas de transporte de energia para ao interior quando se pode criar sistemas autónomas de produção de energia da(s) ilha(s) – que poderão servir, inclusive, como forma de financiamento das autarquias – não parece ser uma solução de exequibilidade sustentável.

Pensar em grande não é a mesma coisa que pensar em coisas grandes ou grandes coisas; quer dizer pensar com sentido de estratégia e de futuro. É de pensar em grande que o país precisa; não é, necessariamente, de «mega projectos» que podem colocar o país, ainda mais, dependente do exterior.

Apraz-me, no entanto, verificar que o Governo se movimenta no sentido de considerar as energias renováveis como alternativa energética para o país e que procura soluções para o problema energético e, ao que parece, vai aparecendo fumo branco.

Estará próximo, espero, o dia em que o Governo entenderá que um país como Cabo Verde deve dar prioridade às energias renováveis e não ver nelas uma mera alternativa aos derivados do petróleo. O futuro espera por nós, mas não faz para nos fazer mais felizes ou mais capazes; isso é obra nossa.

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