- O CANTO DOS PIRILAMPOS
Epitáfio testamentário de um poeta:
«Era um Deus louco
que amava
sob o canto dos pirilampos.
Era um Deus louco
que amava
com as mãos inocentes sangrando.
Era um Deus louco
que amava
com lágrimas eternamente rios
em mim…
Era um Deus louco
que amava
com egoísmo extremo e eterno
– medo que trouxe igual saudade
de mim no plenilúnio da hora.
Era um Deus louco
que amava,
que nunca conheci ou amei
como amo-me, gândara de ti,
por imperativo de viver
e de ser eternamente eu.
Era um Deus louco
que amava
no momento que me perdi
com a plena convicção da perdição
empolgando meu coração
com sonhos tão longínquos
como um sonho e a banda do Norte
podem ser…
E era, enfim…
um Deus louco que amava
quando, com vontade renegada,
colhi da bailar eternidade
uma flor mais que flor
permanecendo o orvalho eterno
de uma manhã adiada
e nunca nascida no rosto.
E permanece na sombra de tudo o que sou
essa imagem de Deus
que Deus amou e perdeu
por amar um sonho e uma loucura
mais do que Eu.
E, à beira da minha porta,
misturado com o pó que já foi gente,
escondem-se os pirilampos
que no silêncio mais silencioso que o silêncio
das negras noites canibais
acordam-me com um canto sem palavras
e perguntam-me para onde vou
ao que eu respondo sempre: – “Sou um rio
manando sem fonte para o deserto sem fim
que espera-me landa
como uma mãe um filho perdido”.
Ah, sempre, sempre a sorrir, os pirilampos…
E brilham, brilham como uma trilha
sem nome. Sou eu, eu
voltando da aventura. Enterrem-me, ali mesmo.» - Maio, 1992
- Mad, Mad, Mad Minerva - Illustration for Memories of Surrealism (1968)
domingo, 13 de abril de 2008
Publicada por Virgilio Brandao à(s) 6:23:00 da tarde
Etiquetas: cultura, my poetry, narcisismos
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