- DEUS À CHUVA
Ontem à noite vi Deus
a passear nas sombras da chuva.
Sorriu-me, e persegui-o.
Ia fugindo das fundas, do coio e do mal
a brotar do viscoso «Deus não existe…»
Encontrei-o na seiva de uma folha
nascida de árvore inominada
— voltou a sorrir-me, e beijei-o.
Mas pensava em ti, longe, aí.
E onde estava Deus, outra vez?
Procurei-o, sedento de falar,
de ouvir tudo o que sempre quis.
«Mas onde estás, ó Deus!?» — gritei.
Com lágrimas nos olhos, vi-O
outra vez: era um menino negrinho
a sorrir e a balançar-se de enigmas
nos braços da mãe: tinha o meu olhar.
— «O que eu queria ver eras tu» — disse-me,
enquanto seguia, verbo rasgado,
nos meus sonhos de ti
para te ver, e beijar-te
com os meus olhos mutuados.
----- Lisboa, 15 de Novembro de 2009
Imagem: Jovem pescador, Bua, Indonésia
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