quinta-feira, 19 de novembro de 2009

  • DEUS À CHUVA

    Ontem à noite vi Deus
    a passear nas sombras da chuva.
    Sorriu-me, e persegui-o.
    Ia fugindo das fundas, do coio e do mal
    a brotar do viscoso «Deus não existe…»

    Encontrei-o na seiva de uma folha
    nascida de árvore inominada
    — voltou a sorrir-me, e beijei-o.
    Mas pensava em ti, longe, aí.

    E onde estava Deus, outra vez?
    Procurei-o, sedento de falar,
    de ouvir tudo o que sempre quis.
    «Mas onde estás, ó Deus!?» — gritei.

    Com lágrimas nos olhos, vi-O
    outra vez: era um menino negrinho
    a sorrir e a balançar-se de enigmas
    nos braços da mãe: tinha o meu olhar.
    — «O que eu queria ver eras tu» — disse-me,
    enquanto seguia, verbo rasgado,
    nos meus sonhos de ti
    para te ver, e beijar-te
    com os meus olhos mutuados.
    ----- Lisboa, 15 de Novembro de 2009
Prima forma: Liberal

Imagem: Jovem pescador, Bua, Indonésia

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