- DE MANDELA A ÓSCAR ROMERO – O HUMANISMO LIBERTÁRIO
A maioria das pessoas com quem falo e Nelson Mandela aparece como tópico lembram-se, sempre, da política. Mandela, deixou o poder voluntariamente, e por isso é um exemplo para os africanos – dizem todos. É verdade. Mas isso, isso não é nem tem nada de extraordinário no plano da política; extraordinário mesmo, a este nível, foi Chandragupta. Mandela só cumpriu com o seu dever, e isso não merece nenhum galardão, pois é o mínimo que se pode exigir a uma pessoa: que cumpra com o seu dever. Mas Nelson Mandela é um ser humano extraordinário, sim. Não por ser um político extraordinário, mas por ser um ser humano… humano.
Dá que pensar, por vezes dói-me até, como conseguimos transformar o cumprimento do dever num mérito, numa excepção digna de galardão e não na regra. Quem faz o seu dever não merece nenhuma outra recompensa para além daquela que emerge do dever cumprido. Existe uma diferença entre o ordinário e o extraordinário, e tal tem vindo a desaparecer na percepção social da humanidade. Isso, na verdade, tem desumanizado o homem, tem-no afastado, por adquirido social prático, da lei natural que lhe é imanente. O extraordinário está em ir para além do dever, para além do que nos impele a natureza, fazer o que o outro não faria – mais: o que o outro não faria por nós!
E impressiona em Nelson Mandela este exemplo: agarrar nas mãos do seu inimigo, perdoar-lhe o mal causado. Compreender o outro, e, compreendendo-o, perdoar-lhe. Isso é humano, verdadeiramente humano. Nelson Mandela, que gosto de ver como um verdadeiro cristão animista, é, neste sentido, mais cristão que João Paulo II e Benedictus XVI que não perdoaram a teologia da libertação (na verdade teologia libertária) de Leonardo Boff, Rubem Alves e outros defensores da teologia cidadã. Desmond Tutu, Ximenos Belo, D. Manuel (Bispo de Setúbal) estão próximos desta teologia libertária, mas não vão tão longe como foram Leonardo Boff e, de certa forma e noutro registo, César Romero.
O perdão é a essência do cristianismo, assim como o diálogo mitigado e balizado pelos princípios. Há um problema de natureza, de paradigma na teologia da libertação e que se confronta com o cristianismo cristocêntrico? Sim, há, mas nada que não seja superável. Óscar Romero dizia, de forma clara e precisa (mas que pode levar a interpretações nocivas), que a «Igreja cristã tinha uma preferência 1 pelos pobres» e ouve, há, muita gente que confunde isso com a teologia da libertação, que em verdade, não é de libertação mas sim libertária quando entendida no plano político — como já vem de Tomás de Aquino e o seu direito à revolta contra a injustiça — pois no estrito plano da teologia, o cristianismo é, em si mesmo e todo ele, pois é a sua essência, uma teologia da libertação, e da libertação do homem total: corpo, alma e espírito.
O problema é a politização do Evangelho — uma tentativa, inclusive, de a minar com o ideário marxista. Este é, ainda que não compreendida, a razão maior das resistências da Igreja à teologia da cidadania popular, à teologia da libertação. São, na verdade, várias faces do humanismo contemporâneo, de um humanismo que, por vezes, desespera, procura e se deixa seduzir pelo discurso-caminho que parece fácil, mas cujo fim, cujo é o que diz Coélet. Salva-nos homens humanos, pessoas com sentido de humanidade comprometida com o outro, como Nelson Mandela.
Mandela, sem grandes teorizações, mostra-nos que o que o homem precisa não é grandes construções teóricas e de títulos académicos — que são, também, necessárias e socialmente úteis — mas de acção em favor daqueles que mais precisam, daqueles que não têm voz. O facto da O facto das Nações Unidas ter criado um Dia de Mandela é da mais elementar justiça, e faz-me crer em dia melhores, numa humanidade melhor.
Imagem: Nelson Mandela e Frederik de Klerk
Dá que pensar, por vezes dói-me até, como conseguimos transformar o cumprimento do dever num mérito, numa excepção digna de galardão e não na regra. Quem faz o seu dever não merece nenhuma outra recompensa para além daquela que emerge do dever cumprido. Existe uma diferença entre o ordinário e o extraordinário, e tal tem vindo a desaparecer na percepção social da humanidade. Isso, na verdade, tem desumanizado o homem, tem-no afastado, por adquirido social prático, da lei natural que lhe é imanente. O extraordinário está em ir para além do dever, para além do que nos impele a natureza, fazer o que o outro não faria – mais: o que o outro não faria por nós!
E impressiona em Nelson Mandela este exemplo: agarrar nas mãos do seu inimigo, perdoar-lhe o mal causado. Compreender o outro, e, compreendendo-o, perdoar-lhe. Isso é humano, verdadeiramente humano. Nelson Mandela, que gosto de ver como um verdadeiro cristão animista, é, neste sentido, mais cristão que João Paulo II e Benedictus XVI que não perdoaram a teologia da libertação (na verdade teologia libertária) de Leonardo Boff, Rubem Alves e outros defensores da teologia cidadã. Desmond Tutu, Ximenos Belo, D. Manuel (Bispo de Setúbal) estão próximos desta teologia libertária, mas não vão tão longe como foram Leonardo Boff e, de certa forma e noutro registo, César Romero.
O perdão é a essência do cristianismo, assim como o diálogo mitigado e balizado pelos princípios. Há um problema de natureza, de paradigma na teologia da libertação e que se confronta com o cristianismo cristocêntrico? Sim, há, mas nada que não seja superável. Óscar Romero dizia, de forma clara e precisa (mas que pode levar a interpretações nocivas), que a «Igreja cristã tinha uma preferência 1 pelos pobres» e ouve, há, muita gente que confunde isso com a teologia da libertação, que em verdade, não é de libertação mas sim libertária quando entendida no plano político — como já vem de Tomás de Aquino e o seu direito à revolta contra a injustiça — pois no estrito plano da teologia, o cristianismo é, em si mesmo e todo ele, pois é a sua essência, uma teologia da libertação, e da libertação do homem total: corpo, alma e espírito.
O problema é a politização do Evangelho — uma tentativa, inclusive, de a minar com o ideário marxista. Este é, ainda que não compreendida, a razão maior das resistências da Igreja à teologia da cidadania popular, à teologia da libertação. São, na verdade, várias faces do humanismo contemporâneo, de um humanismo que, por vezes, desespera, procura e se deixa seduzir pelo discurso-caminho que parece fácil, mas cujo fim, cujo é o que diz Coélet. Salva-nos homens humanos, pessoas com sentido de humanidade comprometida com o outro, como Nelson Mandela.
Mandela, sem grandes teorizações, mostra-nos que o que o homem precisa não é grandes construções teóricas e de títulos académicos — que são, também, necessárias e socialmente úteis — mas de acção em favor daqueles que mais precisam, daqueles que não têm voz. O facto da O facto das Nações Unidas ter criado um Dia de Mandela é da mais elementar justiça, e faz-me crer em dia melhores, numa humanidade melhor.
Imagem: Nelson Mandela e Frederik de Klerk
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