terça-feira, 30 de dezembro de 2008

  • Justiça poética...


Trailer de Watchman

  • WHO WATCHES THE WATCHMAN?

Ando a revisitar Watchman, de Alan Moore e Dave Gibbons – uma das obras mais extraordinárias e complexas jamais feitas em BD (e não só…) e que, para minha felicidade, soube que está em pós produção e que chegará aos ecrãs em 2009.

Se Zack Snyder conseguir passar essa obra para o cinema, com um mínimo de fidelidade (que já será uma tarefa gigantesca), então poderei pensar – sonhar, com a minha infância e o meu poeta – que, um dia destes, verei a A Saga de Thanos na tela do cinema.

Estas duas obras são os grandes épicos da BD, uma da DC Comics e a outra da Marvel. Vem aí mais do que heróis… muito mais do que aventura para entreter a alma; vem aí uma obra de conteúdo humano e filosófico profundos. O título e a substância da obra encontram as suas origens no aforismo de Juvenal: Quis custodiet ipsos custodes? (Juvenal, Satires, VI.347), isto é, Who waches the watchman? Sim, a grande questão é saber – quem vigia os vigias?

E não se pense que estou a pensar nos últimos casos que dão uma ideia muito pouco simpática do Supremo Tribunal de Justiça de Cabo Verde... são vigias, sim. Mas nisso de bd, é sem palavras! mesmo...

E, de Watchman, leio, como se escutasse, o diálogo definitivo entre Jon (Dr. Manhatan) e Adrian:

– I did the right thing, didn’t I? it all worked out in the end.
– “In the end?” Nothing ends Adrian. Nothing ever ends…

Será? Será mesmo?… Oh!, Deus...

domingo, 28 de dezembro de 2008

  • O PIB E CHANDRAGUPTA

– Só o Monte Cara me vê… que sou eu?
– És povo!, eu te vejo…
– Amas o meu mal até a raiz, não é?
– Não, de todo não! Eu só quero o bem, pão para todos todas as manhãs.
– Então, porque não fazes o que é preciso? Onde está o meu pão de mel?

O senhor da terra, não lendo Chandragupta, voou até Lisboa.

O MEU POETA E AS CIRCUNSTÂNCIAS


«As circunstâncias, por vezes, conspiram contra o bem e a felicidade…» – diz-me o meu poeta.

Eu nem sei o que responder-lhe; pois, como o outro poeta, dói-me mesmo a cabeça e o universo. Mais... agora dói-me o meu amor ferido de ausência.
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  • Imagem: Ghandi trabalhando

sábado, 27 de dezembro de 2008

À Marisa Fernandes


  • ALMA D´UM CRÊBO TCHEU
Sete mil pés de ti
arvoram os porões de alma espúria
da Argos às margens do Tarrafal
e teu olhar silente.

Procura, como seiva raiz parideira,
teu ventre de alma-verbo-penitente
– ruas de nova Jerusalém aqui.

– É a Norte! – gritam sete mil pés convictos.
– É a Sul, no berço do barco-beijo do Atlântico,
a oeste da terra firme – insiste a Argos.

Norte »« Sul. Su l«» Norte. Lutam
o tempo de um sonho.
Acumina.

A Argos e sete mil pés de ti navegam
«Norte. Sul «» Norte. O lugar.

E eu (de orelha furada escravo,
argonauta de ti, das tuas horas sim)
– tenho todos os pés do Mundo
para te encontrar – menos tu,
pétala, ardósia viva, mar sendento, Om,
santa d´Um crêbo tcheu e mais:
como a mãe de todas as línguas
és YHWH e não sei dizer-te
alma de Um crêbo tcheu só num dia.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

PROMESSA PARA 2009
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O meu poeta perguntou-me se tinha ou não alguma resolução para o blog em 2009. Respondi que, em princípio, não. Mas insistiu em que eu tomasse uma resolução qualquer, algo de radical: como acabar com o blog, erase it – propôs, friamente. Para me livrar dele (até porque passei estes dias com uma dor de cabeça maior do que o Universo e o coração de Deus e nem deu para telefonar às pessoas amadas, aos amigos a desejar bom Natal nem receber chamadas de ninguém ou ler um pouco mais de La actualidad de lo bello de Gadamer e de Habeas Corpus de António Zetti Assunção; aquele sobre a ars combinatoria do pasado e do presente da arte e este sobre a práctica e a jurisprudencia do Supremo Tribunal Federal do Brasil) – disse-lhe:

– Depois falaremos sobre a tua ideia, meu poeta. Mas, caso não venha a seguir o teu conselho, prometo-te uma coisa: Em 2009, só deixarei de publicar imagens como as de Kim Kardashian, Nicole Naraian e Jennifer Walcot ou a arte de Milo Manara e Luis Royo se deixar de gostar delas (é mais provável que Gabriel apareça com uma nova qualquer - que pode até ser má…) ou o Tchinda siga algum conselho engenhoso e case com uma bela crioula.

  • Imagem: Darker Than Black

Isto não é uma mulher, é arte.

  • Imagem de Luis Royo

«So this is christmas...» – John Lennon

  • Imagem: John Lennon e Yoko Ono

  • O PIOR E O MELHOR DO MUNDO EM 2008
Por esta altura ocorre a toda a gente – é quase uma tradição do mundo novo e global – de eleger os melhores e os piores do Mundo. Não vou ser excepção, e vou dizer o que, para mim e a minha visão do Mundo, foi o melhor e o pior de 2008. Uma única escolha, minha, pois a opinião dos demais nisso não me importa para nada neste aspecto: é uma decisão ditatorial e com a justiça de mim mesmo.

Assim sendo, elejo como A INDIFERENÇA como o pior de 2008 – basta olharmos para um espelho (não!, não precisa de olhar para os outros, para o Mundo), sermos juízes e carrascos de nós mesmo para percebermos da Justiça desta minha decisão.

Nesta mesma linha de pensar e sentir o Mundo, não poderia deixar de eleger ANGELINA JOLIE como a melhor pessoa de 2008; quer pelo seu combate à indiferença no plano institucional – enquanto Embaixadora da Boa Vontade da Organização das Nações Unidas – que no plano das suas acções pessoais em prol dos mais pobres entre os pobres. Do Sudão ao Líbano, passando pelo Equador, Tailândia, Paquistão, Chade, Costa Rica, Tanzânia, Cambodja, Índia, Namíbia, Serra Leoa, Sri Lanka… a sua presença, humana e financeira, é sentida na realidade das pessoas, de pessoas concretas que vem as suas vidas tocadas pela sua solidariedade activa e incondicional. Até nos Estados Unidos – aparentemente não necessitado de ajuda – o seu humanismo e preocupação se faz sentir e, por exemplo, promove a defesa de crianças filhas de imigrantes em processos de expulsão.

E Barack Obama? – perguntar-me-ão. Tem-se, quase unanimemente (serei eu o quase?), Barack Obama como a figura do ano. E perguntarei: – Porquê? Sim, que fez Barack Obama (além das suas promessas eleitorais e de semear a esperança de um renascimento da América), para melhorar a vida das pessoas, de pessoas em concreto? A resposta é… candidatou-se à presidência dos Estados Unidos e ganhou; nada mais. Protagonizou o facto mediático do ano, é certo; mas a vida vive-se nos locais por onde Angelina Jolie andou – tem andado há anos… – e fez a diferença, muitas vezes entre a vida e a morte, entre a esperança e a desesperança. Fez e faz a humanidade acreditar que existe, ainda, uma humanidade humanizada. Imaginemos que, seguindo o seu exemplo, as pessoas abastadas do Mundo adoptassem uma criança órfã, só
uma. Imagine… Para mim, é, de todo e definitivamente, a personalidade do ano. Avé Angelina!
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  • Imagem: Angelina Jolie consolando uma criança

  • Só uma não é/será dispensável...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS

  • Imagem: William Bouguereau

  • A QUESTÃO MARGOSA

O blogue Café Margoso, do João Branco, faz anos por esta altura do Natal e não posso deixar, hoje, de fazer um post a Margoso: com uma “pergunta cafeana” (não é kafkiana, não…) e margosa:

– Será que se Jesus Cristo fosse mulher mostraria uma imagem del(e)a assim?

  • Imagem: Kim Kardashian

  • CONSELHO NATALÍCIO AO MEU AMIGO FUMADOR
Meu amigo, tentas deixar de fumar desde o ano de 1990… assim te conheci nos corredores da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa: a tentar deixar de fumar. O meu conselho, a minha oferenda para ti, meu amigo, é que pares de tentar!, pois ou deixas de fumar, ou então é mera perda de tempo e de anima o tentares. O que não percebes, o meu amigo, é que enquanto tentas deixar de fumar perdes o prazer que está no fumar; não fazes nem uma coisa nem outra.

Neste Natal vou dar-te um conselho sobre fumar que, tenho a certeza, vai convencer-te a nunca mais pensares em deixar de fumar – vai renovar o teu prazer e dar-lhe um novo sentido e uma nova roupagem. E se resistires à novidade, aos sentidos, à natureza e à transmutação ufana deste prazer invocarei arcana voz:

«Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos, é a vós somente que dedico esta obra; alimentai-vos de seus princípios que favorecem vossas paixões; essas paixões que horrorizam os frios e tolos moralistas, são apenas os meios que a natureza emprega para submeter os homens aos fins que se propõe. Não resistais a essas paixões deliciosas: seus órgãos são os únicos que vos devem conduzir à felicidade» – sentencia o Marquês de Sade na dedicatória da edição prima de A Filosofia da Alcova.

É, meu amigo, como diz o luso poeta: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; todo o Mundo é feito de mudança… Espera, meu amigo, que soprarei nos teus ouvidos – como ratinho faminto na noite escura – a novidade de conhecer depois de conhecer. É os Lusíadas transmutado. E se me disseres que é má ideia esta novidade, também te lembrarei, sem piedade da verdade (coisa devida aos amigos), o que diziam os antigos: habent sua fata libellios maus livros também têm seu destino. Espero não chegar aqui…
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Mas, com conselho ou não... que tenhas um Feliz Natal.

Nota: Escrito a duas mãos com o meu poeta – que não conhece o meu amigo –, em função de conselheiro e a dizer-me, constantemente: – «VB, olha o que vais dizer...» Oh, Eloha! desmancha prazeres, o meu poeta...

Exórdio de Natal…
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  • DEL DAR Y EL RECIBIR
Había una vez un hombre que poseía todo un valle lleno de agujas. Y un día, la madre de Jesús acudió a aquel hombre y le dijo:

– Amigo mío, la túnica de mi hijo se rasgó, y tengo que remendársela antes de que salga para el templo. ¿Quieres darme una de tus agujas?

Pero, en vez de darle la aguja, aquel hombre pronunció un erudito discurso acerca del dar y del recibir, para que María se lo repitiera a su Hijo antes de que éste saliera para el templo.
Khalil Gibran, El Loco
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  • Imagem: Luis Royo

  • REMANSILLOS
Me miré en tus ojos
pensando en tu alma.
Adelfa blanca.

Me miré en tus ojos
pensando en tu boca.
Adelfa roja.

Me miré en tus ojos.
¡Pero estabas muerta!
Adelfa negra.
Federico García Lorca

  • COISAS DE ATENTAR

O cancro da mama é um dos grandes flagelos do nosso tempo. Prevenir é preciso e não custa nada. Se é mulher, informe-se e/ou consulte o seu médico; merece isso.

  • EXÓRDIO DE UM POST MARGOSO

«Dante se equivocou. A Divina Comédia, por natureza, terá terminado assim» – disse-me o meu poeta.

  • Imagem: Denise Richards

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

  • NATAL E JOSÉ LUIZ TAVARES

Está aí o Natal. Como é tradição, fazem-se oferendas – como fizeram ao menino Jesus quando nasceu. A ele ofertaram ouro, incenso e mirra; ouro significando a sua realeza, incenso a sua divindade e mirra a dor que sofreria. Assim, uma prenda é, deve ser, mais do que uma coisa – deve ser e ter um simbolismo.

Eu, com se sabe, gosto de ler e acho que o livro é uma das formas de excelência da cultura e que não se esgota na sua forma nem no seu sentido instrumental. No tempo em que se vota neste ou naquele, com mérito ou demérito de proximidade e de amizade, é necessário cultivar a alma, buscar a excelência como o pomo de ouro da alma.

A ter de oferecer um livro a alguém, ofereceria uma das obras de José Luiz Tavares, o poeta cabo-verdiano que, no quadro da produção poética cabo-verdiana, revela uma anima de inspiração e transpiração estéticas incomuns. Os amiúdes ataques anónimos que sofre – de almas pequenas que sonham ser grandes mas nunca serão – é, também, prova da maioridade de uma obra em construção e digna de ser conhecida e reconhecida. Há mais na poética cabo-verdiana que o passado forçadamente eucaliptico – da herança colonial, claridosa e pós claridosa – mais que «os ressurrectos nomes dos mortos», diria o poeta.

E se o Natal é tempo de (re)nascimento e de desnudar a beleza recôndita, nada como ofertar aos outros e si mesmo a poesia de José Luiz Tavares que é, em si mesma, um horizonte novo – esculpido de um logos prenhe de ilhas inconstruídas – da poesia cabo-verdiana e de língua portuguesa. Escrita de verbo mufino, mofina muitas almas rasantes; é certo. Já agora, espero que um dia destes o Ministério da Educação acorde da sua hibernação cultural e coloque a sua obra nos curricula do ensino da língua portuguesa nas escolas cabo-verdianas, pois a sua poética não deve nada aos clássicos. Seria, sim, uma forma de Natal temporão para o ensino do português em Cabo Verde e de reconhecimento do que merece ser reconhecido; pois o país corre o sério e mais que provável risco, como tem acontecido noutros casos, de ter de importar o reconhecimento feito em terra-longe aos filhos da terra.

Ah!, e não nos devemos esquecer que a melhor forma de se homenagear um poeta é comprando e lendo os seus livros. Comprar um livro é coisa pouca se comparada com o prazer, o orgasmo de alma que é ler poesia de excelência e de invulgar logos, como é o caso da poética de José Luiz Tavares. Eu acho que quem gosta de livro de livros e de poesia deve a si mesmo o prendar-se com tão estruturada e ufana poesia. Sim, a poesia de José Luiz Tavares tem, de certo modo e neste momento, como dizia, uma dada e verdadeira dimensão eucaliptica e desafia o futuro da poesia cabo-verdiana.

Será por isso que a sua obra mais recente passou despercebido em Cabo Verde? Talvez, talvez… mas que fazer? Os povos diasporizados são assim mesmo, prenhes de ingratidão; no caso de Cabo Verde grassa o medo da excelência. Mas como esconder uma candeia na noite escura? Como?...

  • LAS SONÁMBULAS
En mi ciudad natal vivían una mujer y sus hija, que caminaban dormidas.

Una noche, mientras el silencio envolvía al mundo, la mujer y su hija caminaron dormidas hasta que se reunieron en el jardín envuelto en un velo de niebla.

Y la madre habló primero:

– ¡Al fin! –dijo. ¡Al fin puedo decírtelo, mi enemiga! ¡A ti, que destrozaste mi juventud, y que has vivido edificando tu vida en las ruinas de la mía! ¡Tengo deseos de matarte!

Luego, la hija habló, en estos términos:

– ¡Oh mujer odiosa, egoísta y vieja! ¡Te interpones entre mi libérrimo ego y yo! ¡Quisieras que mi vida fuera un eco de tu propia vida marchita! ¡Desearías que estuvieras muerta!

En aquel instante cantó el gallo, y ambas mujeres despertaron.

– ¿Eres tú, tesoro? – dijo la madre amablemente.

– Sí; soy yo, madre querida – respondió la hija con la misma amabilidad.
in Khalil Gibran, El Loco
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  • Imagem: Luis Royo, Subversive Beauty

domingo, 21 de dezembro de 2008

AS CITAÇÕES. DE AGRIPA AO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE CABO VERDE
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As citações são coisas terríveis…

Procurava uma Lei sobre o sistema tributário cabo-verdiano no site da Imprensa Nacional de Cabo Verde (uma iniciativa muito, mas muito aplaudível!) e, por curiosidade insatisfeita, fui verificar se as imprecisões e os erros de citação do Acórdão nº 24/2008 do Supremo Tribunal de Justiça (enquanto Tribunal Constitucional), publicado na I Série do Boletim Oficial da República de Cabo Verde tinham sido expurgados do texto publicado pelo referido Tribunal Supremo. Mas não!, foi publicado assim mesmo… o que, infelizmente, não me surpreendeu.

Voltei à minha leitura, à Filosofia Oculta de Cornélio Agripa. Mas não é que deparei-me com uma citação de Virgílio que me pareceu estranha… mas familiar. Fui em busca da citação e do seu sentido, estranho no contexto e forma de citação. «Meris perdió la voz porque los lobos le vieron primero», cita, de Virgílio (sem nota bibliográfica, como era comum no século XVI), Agripa, Filosofia Oculta, Livro I, Cap. XX. A referência aos lobos disse-me que só poderia ser uma passagem das Bucólicas, de todo. Não me enganei, e lá encontrei a passagem do magnus Virgílio, na Écloga IX, 85-91:

“Os anos tiram tudo; até tiram a memória:
Lembro-me que, sendo ainda mancebo,
A cantar passava os dias inteiros.
Hoje esquecido estou de muitos versos.
Meris não tem a mesma voz que tinha,
Os lobos virão a Meris primeiro.”

De Agripa tenho que esse trata de uma traição da memória ou da tradução; dos Conselheiros, tenho como certo se tratar de uma falta de rigor necessário. Mudam-se os tempos mas não muda a finitude da nossa memória e a sua propensão para o erro e o equívoco. Ficaria bem aos Juízes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça uma maior proficiência na elaboração dos acórdãos, nomeadamente no que concerne às obras referenciadas.

Bem, fico por aqui… a minha mãe está a fazer chamuças e eu sou o provador oficial dos temperos, além de que é Natal e azucrinar cabeças alheias é, neste período, pouco simpático. Lá vou eu, qual menino mindelense que lambia as terrinas de fazer bolos de Natal, fazer de Neemias familiar…

  • I wish You a better luck…

Dante et Virgile au Enfers, William Bouguereau

XII

Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras cousas
E cantavam de amor literariamente.
(Depois — eu nunca li Virgílio.
Para que o havia eu de ler?)
Mas os pastores de Virgílio, coitados, são Virgílio,
E a Natureza é bela e antiga.
Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos

  • O SUICÍDIO COMO (DES)VENTURA E O HOMEM DEUS

Impressiona, mas a segunda causa de morte em Portugal é o suicídio, sendo um ¼ dos mesmos pessoas idosas. Este último facto não me surpreende, se se considerar a forma socialmente desumana como são tratados os que construíram com sangue, suor e lágrimas – invocando Churchill no seu melhor – a sociedade que hoje beneficiamos. Hoje, sem dúvida, o velho adágio popular de que «velhos são os trapos» ganhou o sentido de que os velhos são trapos, pois são, em regra, abandonados à sua sorte pelas suas famílias quando passam a ser um empecilho social. Infelizmente, não me admira este sentido da sociedade portuguesa.

Mas uma coisa devo dizer, porque é justo: o actual Governo português tem feito algum esforço – não sei se dentro da reserva do possível… – para melhorar a vida dos idosos, nomeadamente com o aumento substancial das reformas que, por razões económicas (às vezes só por essa razão), acaba por ancorá-los nas famílias. Os maus tratos silenciosos emergentes da indiferença, o sentido de se ser um fardo para as suas as famílias ajudará, em muito, a um desfecho de vida não sonhada ou desejada mas que, em dada perspectiva, é uma lição de dignidade profunda, um acto de afirmação da vontade de se sentir humano na decisão, de afirmação uma humanidade radical no ocaso da existência…

A vida é preciosa; demasiado, se calhar… a única coisa que se cruza no seu caminho, qual areia na praia, é a vontade. Só se deve viver enquanto se tiver medo da morte, diria Kierkegaard. Enquanto não se tiver a coragem de Séneca ou do Capitão Gancho para procurar a maior aventura? – pergunto eu.

Por vezes contendo comigo mesmo a convencer-me do erro judaico-islámico-cristão de ver a vida como nada mais do que um estádio pré eternidade; isto é, a vida como nada menos do que um esboço carnal do continuum existencial. Mas se assim é, porque o suicídio é visto como um atentado contra a vida, contra a existência? Na verdade, parece-me, existe um contra senso nesta ideia que vem das memórias dos antigos, pois não é verdade que Jesus Cristo, o meu Mestre, cometeu suicídio?

Sim, suicídio; pois quem poderia ou pode matar Deus – se exceptuarmos os devaneios nihilistas – senão o próprio Deus? Mas isso, mesmo considerando o romance que existe no universo – da perspectiva do panteísmo cristão – é uma questão de liberdade, de escolha; análoga, mas diferente em substância de análise, à eutanásia. Se Deus pode escolher morrer, porque o cidadão desgraçado e sofredor não pode? Só porque não é Deus? Chega não ser tudo? Qual é a medida de diferença da vontade de Deus e da vontade do homem? Seria bom escutar Tomás de Aquino, mas deixemo-lo… não quero invocar o direito à rebelião justa…

Poderão dizer-me, até, que Deus é Deus e que o homem é o homem; que são seres existencialmente diferentes. Concordo, em parte. A parte que concordo é a de que a humanidade é substancialmente diferente da divindade não revelada; isso porque o homem, esta humanidade disforme e capaz das coisas mais hediondas, é, segundo o salmista, um pouco menor do que Eloha – o Deus criador… mais: participa da natureza divina, dizia S. Paulo aos cidadãos de Éfeso. Sim, de jure e em substância somos Deus. O nosso destino, parafraseando Paul Billheimer, é o trono da existência. Indo mais longe, à conclusão panteística necessária, direi que o nosso destino é ser Deus em si mesmo, em todas as coisas.

Coisa estranha… e depois, não creio que haja alguma Laura à espera de versos, dúzias de virgens para serem desfloradas por homens no ocaso dos dias ou por crianças da vida; não, não creio que se possa viver os Lusiádas – a do calói e a do poeta – no outro lado da aventura. Nesta perspectiva, escolher viver é mais sábio; ainda que escolher a morte de Séneca seja mais livre, mais divino na acção. Se calhar, Deus até que tem razão… mas o melhor é mesmo viver!, sacrificar a liberdade e a ventura de escolher agir como Deus. Como dizia Terêncio Homo sum: nihil humani a me alienum puto. É mais humano. E o mais humano do humano, está no darwinismo, no conatus essendi de Espinosa.

Por isso Hórus foi levado para o Egipto, fugindo de Set; por isso Maria e José seguiram os mesmos passos, em direcção ao Egipto, para a vida. Assim nasceu o Natal, conto arcano dos deuses dos faraós africanos que, desaguando em Armarna, Akhenaton legou-nos essa epifania prima do Deus único. O nascimento glorioso do Sol, Solstício de inverno, nascimento da vida, Natal...

Afinal, os deuses também morrem na memória e ao homem, esse sobrevivente das eras, resta viver como bom despenseiro do tempo, um bom gestor de talentos. Invocando Séneca: «Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido. O facto é o seguinte: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos; nem somos dela carentes, mas somos esbanjadores» (Séneca, Sobre a Brevidade da Vida, I.1). “Quero ser homem, viver desventuras mil. Se quiserem que seja Deus, de facto, terão de me levar; com o meu pé, não vou!” – diz-me o meu poeta. Subscrevo as palavras do meu poeta, se bem que dispensava as desventuras e nunca ter de gritar: Ely, Ely

E, hoje, 21 de Dezembro, nos confins dos tempos, nasceu o Natal.

  • Imagem: Alexis Akrithakis, Idéogramme suicidaire (1978)

  • Ciampolo atormentado por demónios (gravura para o Canto XXII do Inferno de Dante Alighieri), William Blake

sábado, 20 de dezembro de 2008

  • Todos já precisámos de uma mãozinha…

  • A CIDADA VELHA E A HUMANIDADE CABO-VERDIANA

Cidade Velha. Por ela passou as minhas raízes. Algures, misturado com as pedras centenárias, está o ADN do escravo que me deu cor, vida, origem… A Cidade velha não é monumento de cultura para inglês ver, não. É Altar devido à negritude que construiu as ilhas e deu, também, morna e seiva à alma crioula e cor e samba ao Brasil. Altar!, sim. Os descendentes de Nimrod passaram pelas ilhas e edificaram com o seu sangue e as suas lágrimas não uma Babel mas uma nação.

A Cidade Velha é património de e da humanidade antes de o ser. A Cidade Velha é património da minha humanidade, da que me forma os ossos e da que forma a alma que transporto; e isso não precisa do reconhecimento de ninguém, só precisa do recanto do lalarium que tem nas raias da meu ser. O reconhecimento da UNESCO – se o Ministério da Cultura levar a bom porto a candidatura, o que se espera – só poderá ser um maius para os cabo-verdianos, só pode(rá) e deve(rá) ter um efeito meramente declarativo daquilo que é. É que se precisamos, ainda, do reconhecimento da UNESCO para ver na Cidade Velha o berço da cabo-verdianidade, então estamos muito mais falhos de cultura do que é patente.

O reconhecimento externo é outra coisa… mas, como bem dizia Goethe, «quem tem muito dentro de si pouco ou nada precisa do exterior». Resta saber é se o que temos dentro de nós, como povo e como nação, nos basta ou se precisamos de economizar, também, o que temos na alma.

  • Imagem: Cidade Velha, Santiago, Cabo Verde (Google Earth)

  • ESTRANHAS OPÇÕES
Bridgite Bardot, há alguns anos, afastou-se dos homens para dedicar-se aos animais. Porque terá sido? Ao que parece desistiu de ter esperança na humanidade. Uma outra perspectiva, eventada, é de que não suportaria que os seus admiradores a vissem com as marcas do tempo.

Mas, será que ninguém avisou a demolidora de corações que a beleza gasta-se, que a juventude é uma espécie de gripe que o tempo cura com rugas e dores inesperadas e certas, que a humanidade é um projecto de sonho, uma obra de arte antropomórfica? Seja como for, perdeu-se demasiado com essa sua opção, digna e respeitável – mas contra natura. Um crime contra a arte, contra a natureza; pois se é certo que ficará na memória dos homens, numa espécie de imortalidade estética, a verdade é que, com a sua morte (que viva, ainda, longos anos), desaparecerá da natureza. É uma pena…
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  • Imagem: Bridgite Bardot

"Aquele cuja felicidade é interior, que é activo e regozija dentro de si, e cujo objectivo volta-se para o seu próprio íntimo é de facto o místico perfeito. Ele liberta-se no Supremo e por fim alcança o Supremo", Bhagavad-Gïta, V.24
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  • Imagem: Inverno na Finlándia

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

  • O MEU POETA
«Todos esperam o seu Natal» – respondeu-me, hoje, o meu poeta.

  • EU E O MEU POETA
Dizia, ontem, ao meu poeta:

– Às vezes, olhando a minha alma, vejo que se parece com o S. Paulo (ou seria Saulo de Tarso?) que chegou ao Areópago de Atenas e disse aos epicureus e estóicos que pregava o «Deus desconhecido». Eu, quero conhecer todos os deuses para poder pregar um prego na sua indiferença. Enquanto isso não acontece, vou pregando o homem desconhecido.
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  • Imagem: Carpa ornamental

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

  • QUANDO O ÓDIO TRIUMFA

Serei eu que estarei a ver mal? Deve ser… a maioria tem sempre razão, não é? Vox populi vox Dei. Mas… a verdade é que eu, não raras vezes, discordo do que de Deus se tem escrito, logo, prima facies, dEle. Mas deixando Deus no seu canto a olhar para nós, a sua crise. O facto é que o Mundo tornou-se tão estranho que as pessoas que criticam o mal e a maldade aplaudem um acto de agressão. A qualidade da vítima não justifica o acto em si. O bem, lentamente, vai morrendo na alma das pessoas, vencido, pela irracionalidade gerada pelo mal que tanto afronta os homens bons. Com ele morre, também, os que amamos.

Imagino, daqui do sobrado da minha alma, George W. Bush a perdoar o homem (seria uma acção muita assertiva politicamente para o Presidente, mas uma má mensagem como factor de prevenção do crime em geral – o que muita gente não entende ou não quer entender) e a recostar-se no seu Rancho texano na companhia da sua querida Barbara e uma garrafa de Jack Daniels (essa madava-lhe eu, pois sei que o agarraria e iria para os prados matar as mágoa, calar o mal da História que o afronta e deixaria o mundo em paz). Os que aplaudem o mal, deveriam, também, envergonhar-se da sua lucidez vestida de ódio subliminar, emoldurado pelo mal, e carpir as mágoas da sua inconsciência.

E, enquanto todos aplaudem o acto odioso, o agente do mesmo irá enfrentar a justiça e sofrer as consequências do seu “heroísmo”, sem palmas... Irá, durante algum tempo, haver algum ruído em volta da questão, ma acabará esquecido por todos os que acham belo o que fez – basta aparecer o “facto novo” da perspectiva dos Media. É a desumanização global da acção, da razão… é sempre assim, quando o ódio e a irracionalidade triunfam e servem de exemplos. Quero é ver o que fará o pai e a mãe, que aplaudem o atirador de sapatos e de beijos de indignidade, quando o seus filhos atirarem sapatos ao professor odioso, ao Ministro tido como incompetente, ao agente do Estado corrupto… Deixamos que sejam semeadas coisas estranhas no nosso ser, e depois ficamos surpresos com a colheita. E perguntamos, então, why, why me?...

Lembro-me, agora, de um poema do Papa João Paulo II, Shores of Silence (13) numas das suas obras (Karol Wojtyla, Poems, Vatican, 1979, p.18):
[…]
«God and the universe dwelt at the heart,
but the universe was losing light,
slowly becoming the song of His Reason,
the lowest planet»

Pois… pode-se semear outras coisas e o triunfo pode não ser do mal. Sim, tenho de concordar com Salomão, «o que estraga a vinha não são as raposas, são as raposinhas». Libelinhas, libelinhas… devem ser escutadas.

  • Imagem: O jornalista Muntadar al-Zaidi atirando o sapato ao Presidente Bush.

Fotis Kontoglou, The Happy Konek-Konek King of Isprovana is Meditating on the Nature of Man, detail (1932). Fresco from the artist’s home, today in the National Gallery, Athens, Greece.
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Eu, também...

«Happy is that death which thrusts not itself upon men in their pleasant years, yet comes to them at the oft-repeated cry of their sorrow. Sad is it how death turns away from the unhappy with so deaf an ear, and will not close, cruel, the eyes that weep. Ill is it to trust to Fortune’s fickle bounty, and while yet she smiled upon me, the hour of gloom had well-nigh overwhelmed my head. Now has the cloud put off its alluring face, wherefore without scruple my life drags out its wearying delays.

[…]

What is it, mortal man, that has cast you down into grief and mourning? You have seen something unwonted, it would seem, something strange to you. But if you think that Fortune has changed towards you, you are wrong. These are ever her ways: this is her very nature. She has with you preserved her own constancy by her very change. She was ever changeable at the time when she smiled upon you, when she was mocking you with the allurements of false good fortune. You have discovered both the different faces of the blind goddess.» in Boécio, The Consolation of Philosophy, II
.
  • Imagem: Study (Young Male Nude, Seated beside the Sea), Hippolyte Flandrin

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

EU TROUXE À ARTE

Sento-me com disposição prazeirosa.
Trouxe à Arte desejos e sensações;
coisas meio-vislumbradas,
faces ou linhas, certas memórias indistintas
de amores incumpridos. Deixem-me submeter-me à Arte: Ela sabe [como moldar formas de Beleza,
quase imperceptivelmente completando a vida,
misturando impressões, misturando dia com dia.

Constantinos Kavafys

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

  • O MEU POETA E O ALUPEC
«VB, será que Manuel Veiga, o Ministro da Cultura, pensará que pode fintar uma Resolução da Assembleia Nacional com 10 anos de existência e desertada há muito com uma Mesa-Redonda de experts do ALUPEC?» – perguntou-me o meu poeta.

  • Está a nascer um tempo novo nos Estados Unidos da América?

  • ASILADOS DA PRISÃO DE GUANTÁNAMO?

Há coisas que dá que pensar, e muito. Portugal, depois de recusar asilo político a um dos filhos de Osama Bin Laden, resolveu aceitar conceder asilo a prisioneiros detidos em Guantánamo, Cuba. É de louvar, conceder asilo a quem dela precise… mas não somente a alguns para show off internacional, não. Deve ser para todos, sem discriminações de situação.

Esta situação irá aumentar, certamente, em 200 ou 300% o número de asilos concedidos no país no ano de 2008. Lembro a dimensão mais que restritiva do sistema de asilo do país e a sua aplicação aquando do conflito aramado angolano… mesmo com o conflito armado a decorrer um angolano não conseguia o estatuto de asilado, daí o êxodo para o Reino Unido. Isso é passado – dir-me-á. É verdade, é passado; mas no presente o que se passa é que basta haver a suspeita de que determinada pessoa se encontra relacionada com o crime organizado ou com o terrorismo (informações que o SEF recolhe do SIS) para ser-lhe negada a autorização de residência, asilo, protecção humanitária ou um visto de entrada no país.

Isto é, a decisão do Governo português faz inferir que se está perante uma alteração de política ou que uns são, efectivamente, mais iguais do que os outros? Ou, ainda, que o pragmatismo político pode mais do que as normas jurídicas em si mesmas? O Diabo pode bem escolher que em nenhuma das escolhas o Governo fica bem; paradoxalmente numa coisa que até é, à partida, boa e louvável.

Mas depois de dar asilo temporário (ainda que nunca o tenha assumido publicamente) a Jean-Pierre Bemba, Senhor da guerra congolês, não se sabe bem o que pensar, o que dizer. O que mais pode haver aí para surpreender o cidadão? Que é uma forma de penitência pela Reunião dos Açores que determinou a Guerra do Iraque e pela passagem de aviões norte-americanos por território português em direcção a Guantánamo – que parece ser, cada vez mais, muito mais do que uma meras suspeitas –, isso parece ser claro e evidente.

  • Imagem: Prisão de Guantánamo

  • O FIM DE UM TEMPO TOLERÁVEL
George W. Bush teve uma despedida inusual em Bagdad, Iraque. Um jornalista, num acto de summa afronta, resolveu atirar os seus sapatos ao Presidente norte-americano. Um episódio triste, mas que revela, como disse o jornalista, que this is the end, não somente da presidência errática de George W. Bush mas de uma era de jornalistas probos e de um relacionamento de confiança dos Serviços Secretos com os media presentes em conferências de imprensa.

Salva-se o bom humor do Presidente Bush – “tudo o que posso dizer é que era um número 44” – disse, em reacção ao acto hediondo do jornalista.

domingo, 14 de dezembro de 2008

«Ó mãe Uut! Estende sobre mim as tuas asas como as estrelas eternas!» – inscrição sobre o sarcófago do Faraó Tutankamon, filho de Amenofis IV (Akenathon) e Nefertiri, o casal solar

  • OS GENOCÍDIOS

Bill Clinton, depois de deixar a presidência dos EUA, fez um acto de contrição por não ter agido a tempo de evitar o genocídio do Ruanda e do Burundi – cujo Tribunal Pena Internacional, ao que tudo indica e como já era de prever, o Conselho de Segurança da ONU se prepara para extingir… sem julgamento dos criminosos que estão, hoje, no poder.

George W. Bush, vem, agora, alertar Barack Obama para o problema do Sudão, como se ainda não fosse Presidente dos EUA e não tivesse tido dois mandatos para fazer alguma coisa para resolver o desastre humanitário causado por um hediondo genocício que ocorre em Darfur há mais de uma década…

Será que Barack Obama vai fingir não ver e, no final do(s) mandato(s), deixar para o próximo o fechar a porta das desgraças de África? Não sei; só sei que quero ver o que vem aí e isso pode bem ser que um dia destes nós, os africanos, não teremos portas para ninguém fechar. Pior... nem mãos termos para fechar seja o que for. O genocídio de uns são chamados holocausto, os genocídios de África são desastres humanitários… como se tivessem como causa um terramoto, um tsunami, um dilúvio… an act of God... e não acções e omissões criminosas de uma humanidade demasiado light.

Tenho um nome para isso!

  • Video: Darfur, Sudão.

PROMETEO, Goethe

¡Cubre tu cielo Zeus
con bruma de nubes
y como un jovenzuelo
que cardos decapita
ejercítate en robles y altas montañas!
Tienes que dejarme
mi tierra sin embargo
y mi choza
que tú no has hecho
y mi hogar
cuyo fuego
me envidias.

No conozco nada más pobre
bajo el sol que vosotros, dioses.
Alimentáis parcamente
de ofrendas
y aliento de oraciones
vuestra majestad
y viviríais en la miseria
si no fueran
niños y mendigos
locos llenos de esperanza.

Cuando era un niño
no sabía nada de nada,
dirigía mi ojo extraviado
al sol, como si allí hubiera
un oído para oír mi queja,
un corazón como el mío
que de mi apuro se compadeciera.

¿Quién me ayudó contra
la arrogancia de los titanes,
quien me salvó de la esclavitud
de la muerte?
No lo has logrado todo tú,
santo corazón ardiente
y ardías joven y bien,
engañado, gracia de salvación
para el durmiente allí arriba.

¿Honrarte? ¿Por qué?
¿Has paliado los dolores
alguna vez del agravado,
has aplacado las lágrimas
alguna vez del angustiado?
¿No me ha forjado hombre
el poderoso tiempo
y el eterno destino,
mis señores y los tuyos?

Te figuras acaso
que debía odiar la vida,
huir al desierto,
porque no todos los sueños floridos
de las mañanas de la infancia
maduraron.

¡Aquí estoy sentado, forma hombres
a mi semejanza,
una estirpe que a mí sea igual
en sufrir, llorar,
gozar y alegrarse
y en no respetarte
como yo!
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  • Imagem: Johann Wolfgang Goethe

sábado, 13 de dezembro de 2008

  • A ESCRAVATURA... HOJE, SEGUNDO A UNESCO
Sou, não raras vezes, acusado por alguns leitores deste blog de falar demais sobre a escravatura, de ser obcecado pelo assunto. Confesso não saber se a critica é justa ou não, o que sei é que é matéria digna de não ser esquecida. A este propósito a UNESCO publicou um estudo sobre a escravatura da autoria do Wilberforce Institute for the study of Slavery and Emancipation e Joel Quirk: “Unfinished Business: A Comparative Survey of Historical and Contemporary Slavery”.

Transcrevo aqui o capítulo dedicado a Portugal. Para ler, ficar a saber e não esquecer! Pois…

PORTUGAL

The three cases outlined above have long dominated discussion of the legal abolition of slavery. While there are undoubtedly valid reasons for this analytical focus, it is also necessary to consider parallel developments in other parts of the globe, which frequently occurred through quite different trajectories. One major point of departure here concerns the political dynamics surrounding legal abolition in Portugal.

As we saw in chapter two, the Portuguese dominated both the early history and final stages of the Trans-Atlantic slave trade, ultimately carrying far more slaves than any other European power. This overall dominance was bound up in two colonial fiefdoms, Angola and Brazil, which were pre-eminent source and destination regions for Trans-Atlantic slavery. In stark contrast to Britain and the United States, Portugal never saw the emergence of a popular anti-slavery movement, and instead primarily came to legal abolition as a cumulative result of external pressures and contingent circumstances.

When the British Parliament abolished national involvement in the Trans-Atlantic slave trade in 1807, the Portuguese were ‘profoundly unaware of the issue of abolition’ (Marques 2006, 10). This began to change in 1808, at least at a diplomatic level, when the vulnerable Portuguese government, which was reliant upon British support at many stages over the course of the nineteenth century, reluctantly entered into a series of treaties restricting slave trading (1810, 1815, 1817). Having limited leverage, the Portuguese conceded the right of the British navy to search suspect vessels in 1817, but were able to limit the abolition of slave trading to north of the equator, thereby strategically defending the core of the valuable trade to Brazil.

This exception ostensibly closed in 1822, following Brazilian independence (foreign slave trading had been prohibited), which divided responsibility for a then flourishing slave trade into two distinct jurisdictions. In both countries public opinion remained hostile to the heavy handed British, while significant commercial interests in Portugal, Brazil and Angola (where metropolitan control was tenuous) favoured a continuation of slave trading. Frustrated by Portuguese intransigence, the British eventually resorted to the drastic step of unilaterally seizing slave traders operating under Portuguese colours, forcing the justifiably outraged Portuguese into signing a new treaty in 1842.

While this treaty gave legal support to the efforts of the British navy to interdict slave traders, it was not in itself sufficient to end illegal slave trading to Brazil, which eventually ended somewhat unexpectedly in the early 1850s, following the use of similarly coercive measures against Brazil (see Bethel 1970; Marques 2006; Miers 1975, 23-30 It also appears, however, that Portuguese behaviour changed in important ways in the 1840s. This involved a qualified commitment by the Portuguese navy to suppressing illegal slave trading in African coastal waters, which resulted in a much lower incidence of slaving vessels using the Portuguese flag (with other flags now being preferred) and changes in the locations where slavers purchased slaves in Africa. For Joao Pedro Marques, this transformation can be chiefly traced to questions of honour: “The big difference in relation to earlier periods was the convergence of national honour and abolitionism … The political elites in government and in the Cortes came to see abolition as an unavoidable necessity, not only for humanitarian reasons or future economic interests, but mainly because Portuguese respectability was at stake” (Marques 2006, 181).

In this formulation, it is not necessary to be a committed abolitionist to take up the cause (or, more commonly, signal the appearance of commitment to the cause): challenges to collective honour instead serve as a catalyst for various reforms. This is important on several levels, providing both a key insight into why many states took formal steps against slavery in the absence of popular anti-slavery sentiment, and an equally important insight into why many of these measures proved largely ineffective.

Once the main point at issue is appearance, rather than substance, there will always be many strategies available to uphold collective honour while leaving key features of the status quo largely intact. On this front, the Portuguese commitment to anti-slavery proved to be fairly limited. While slavery itself was ostensibly abolished in 1869, a complex mix of legalized forced labour and breaches of relevant regulation ensured that slavery effectively continued long after this date. Despite its best efforts to uphold national honour, Portugal would be vulnerable to British pressure into the twentieth century, paving the way for a series of further scandals and conflicts over disguised slave systems in operation within colonial Africa (Duffy 1967; Grant 2005, 109-134).

Grant, K. 2005. A Civilised Savagery: Britain and the New Slaveries in Africa, 1884-1926. New York: Routledge
Marques, J. 2006. The Sounds of Silence: Nineteenth-Century Portugal and the Abolition of the Slave Trade. New York: Berghahn Books
Duffy, J. 1967. A Question of Slavery. Oxford: Clarendon Press.
Miers, S. 1975. Britain and the Ending of the Slave Trade. New York: Africana Publishing Company
Bethel, L. 1970. The Abolition of the Brazilian Slave Trade: Britain, Brazil and the Slave Trade Question 1807-1869. Cambridge: Cambridge University Press.
UNESCO
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  • Imagem: Jovens escravos, hoje...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

  • ELECTRA
“¿Qué cosa veo? ¿Qué cortejo de mujeres con negros velos es ese que avanza? ¿A qué desgracia asignarlo? ¿Acaso un nuevo sufrimiento se cierne sobre el palacio? ¿O acierto suponiendo que llevan a mi padre las libaciones que apaciguan a los muertos? No puede ser otra cosa, porque con ellas va, creo, Electra, mi hermana, que se distingue por su llanto amargo” – Orestes, in Ésquilo, Las Coéforas, Primeiro Acto, cena 1

  • CARPE DIEM

No pretendas saber, pues no está permitido,
el fin que a mí y a ti, Leucónoe,
nos tienen asignados los dioses,
ni consultes los números Babilónicos.
Mejor será aceptar lo que venga,
ya sean muchos los inviernos que Júpiter
te conceda, o sea éste el último,
el que ahora hace que el mar Tirreno
rompa contra los opuestos cantiles.
No seas loca, filtra tus vinos
y adapta al breve espacio de tu vida
una esperanza larga.
Mientras hablamos, huye el tiempo envidioso.
Vive el día de hoy. Captúralo.
No fíes del incierto mañana.
Horácio, Carminum, I. 11

  • Imagem: Venus and Cupido, William Adolphe Bouguereau

O MEU POETA

"VB, não estará, desde os anos 70, a decorrer uma aplicação prática das teorias de Malthus sobre a população em algumas partes do Mundo, nomeadamente em África?" – perguntou-me o
meu poeta.
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Vou reler Kissinger... e depois de revê-lo com os olhos de hoje, falarei com o meu poeta.

  • MEMÓRIAS DA HISTÓRIA
A “intervenção por razões humanitárias” dos Estados Unidos da América na Somália…

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O POVO QUE PAGUE A CRISE… NÃO É PRINCÍPIO

Li no Expresso das Ilhas que a oposição ao Governo não é contra a “Taxa de Iluminação Pública” mas sim contra a forma como a mesma foi aprovada. A questão que me ocorreu logo foi: Será que se o Governo vir a apresentar um projecto de Lei da Taxa de Iluminação Pública a decisão torna-se justa, somente porque é tomada por uma maioria qualificada de deputados e não pelo Governo?

A questão, para além da natureza tributária da relação jurídica de serviço de iluminação pública e usufruto do mesmo, não é de nomem; é mais profunda. Podemos fazer de Humpty-Dumpty que não mudamos a natureza das coisas; podemos, como Platão faz no Cratilo, até achar que nomem se encontra a essência das coisas… podemos... tanta coisa podemos. O que não devemos é impor um fardo injusto ao povo, fazê-lo pagar o que o Estado não paga quando deve pagar.

“Os ricos que paguem a crise”…– brocardo do passado. Hoje, é: paguemos a crise dos ricos. E em Cabo Verde o que se passa é algo análogo. Bons exemplos, pois… Se o Estado descentralizado não pode pagar ou não quer pagar, que seja o povo a pagar: o povo que pague a crise financeira das autarquias.

Volto ao que li. Acho que o MPD não leu o que diz a declaração de voto – telegráfico mas elucidativo – do Juiz Conselheiro Raúl Querido que, no penúltimo parágrafo, remete a questão para outro plano. Para o dos princípios, pois claro. É que, é bom lembrar, 2/3 da Assembleia Nacional não postergam os princípios constitucionais… do Estado de Direito Democrático.

  • Imagem: Chanel nº.5, Andy Wharol

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

  • RESISTIR
A lidar com a maldade alheia e a curar uma inusitada gripe. O que será pior?...

Tive, hoje, tempo e paciência para ler o acórdão Nº 24/08 de 05 de Dezembro de 2008 do Supremo Tribunal Constitucional de Cabo Verde, enquanto Tribunal Constitucional sobre a taxa de iluminação pública (in asemana).

Faz amanhã 60 anos que foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Avé! Francisco de Vitória, J.P. Humpreys, René Cassin… fárois do tempo, candeias da justiça…

E o Mundo teima em ser uma terra dolorida, cega, surda… cruel.

E tem um convite incessante, tentador, justo: ceder ao mal, à lei de Talião.

Há que resistir.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Nabucodonosor, William Blake

  • MEMÓRIAS DA HUMANIDADE
Retomo a partilha de Vida De Los Filósofos Más Ilustres de Diógenes Laércio. Hoje, é a vez de Cleobulo de Lindo, um dos sete sábios da antiguidade clássica.

CLEOBULO DE LINDO

l. Cleobulo, hijo de Evágoras, fue nativo de Lindo, o según dice Duris, de Caria. Algunos lo suponen descendiente de Hércules, y dicen que fue robusto y hermoso de cuerpo, y que estudió Filosofia en Egipto. Que tuvo una hija llamada Cleobulina, la cual compuso enigmas en versos hexámetros, y a la que menciona Cratino en su drama que lleva este mismo nombre en número plural, y que renovó en Atenas el templo de Minerva, que había construido Danao.

2. Compuso cánticos y sentencias oscuras hasta en tres mil versos. Algunos dicen que fue suyo el epitafio puesto a Midas:

Una virgen de bronce soy que yago
recostada de Midas al sepulcro.
Mientras fluyan las aguas, y se eleven
de la tierra los árboles frondosos;
mientras renazca el sol, y resplandezca
en las esferas la argentada luna;
mientras corran los ríos, y los mares
por las riberas extenderán sus olas,
aquí estaré, vertiendo triste llanto
sobre esta sepultura, y advirtiendo
a todo pasajero y caminante
que en ella sepultado yace Midas.

En prueba de lo cual trae un cántico de Simónides, que dice así:

¿Qué mente habrá que pueda
alabar dignamente
a Cleobulo, indígena de Lindo,
que a los ríos perennes,
floridas primaveras,
a los rayos del sol, dorada luna,
y a las marinas olas
permanentes columnas antepone?
Inferior a los dioseses todo lo criado.
Hasta la dura piedra
quebranta mortal mano;
pero es consejo de varón insano.

Esto hace constar que este epitafio no es de Homero, como dicen, ya que éste precedió a Midas por muchos años. En los Comentarios de Pánfilo se observa este enigma suyo, que significa el año:

Tiene un padre doce hijos,
y cada uno de ellos hijas treinta,
todas bien diferentes en aspecto;
pues por un lado blancas como nieve,
oscuras por el otro se presentan.
También, siendo inmortales, mueren todas.

De sus adomenos son célebres los siguientes:

Reina en la mayor parte de los hombres
con gran verbosidad mucha ignorancia.
Si tienes ocasión, hacer procura
alguna cosa ilustre y admirable.
Nunca seas ingrato, nunca vano.

3. Opinaba que es conveniente casar a las hijas jóvenes en edad, pero maduras en la prudencia; enseñando por ello que las jóvenes deben ser instruidas. Que conviene favorecer al amigo para que lo sea más, y al enemigo para hacerlo amigo. Guardarse de la calumnia de los amigos y de las asechanzas de los enemigos. También que cuando uno salga de casa, piense primero qué es lo que ha de hacer; y cuando vuelva, qué es lo que ha hecho. Encargaba mucho el ejercicio corporal. Que antes procuremos el escuchar que el ser escuchados. Que amemos más el estudio que la ignorancia. Que la lengua no sea maldiciente. Que seamos familiares de la virtud, y extraños del vicio. Huir de la injusticia, aconsejar a la patria lo mejor, refrenar los apetitos, no hacer cosa alguna por fuerza, instruir a los hijos, deshacer las enemistades.
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A la mujer ni halagarla ni reñirla delante de otros, porque lo primero, indica demencia; y lo segundo, furor. Que no se ha de reñir al doméstico cuando está embriagado. Decía: Cásate con mujer de tu igual, porque si la eliges más noble que tú, los suyos te mandarán. No rías del que es perseguido con burlas y ofensas, porque se hará tu enemigo. En tus prosperidades no te ensoberbezcas, ni en las adversidades te abatas de ánimo. Aprende a sufrir con fortaleza los reveses de la fortuna.

4. Murió viejo, de setenta años; y en su sepulcro se le puso este epitafio:

A Cleobulo sabio muerto llora
su patria Lindo, a quien el mar circuye.

Su apotegma es: La medida es lo mejor de todas las cosas. Escribió a Solón la carta siguiente:

CLEOBULO A SOLÓN
Son muchos los amigos que tienes, y todos con casa propia. Yo pienso que Lindo sería muy buena tierra para vivir Sólón, por ser ciudad libre. Es isla de mar; y si quieres habitar en ella, ningún daño te vendrá de Pisístrato, y concurrirán a verte amigos de todas partes.