segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

  • A POSSIBILIDADE DO DEUS CRIADOR E A CIÊNCIA

Sobre os mistérios mais profundos da existência a ciência continua a tactear – é um facto. A explicação científica da origem do universo é, pelo menos de momento e cada vez mais (basta seguir os desenvolvimentos mais recentes da física), um conjunto de possibilidades – o que é bastante claro nas palavras de Stephen Hawking numa conferência proferida na NASA em 1999 e cujas premissas continuam, hoje, as mesmas. Diz-nos este académico que:

«The Universe must have had a beginning if
__ Einstein’s General Theory of Relativity is correct
__ The energy density is positive
__ The universe contains the amount of matter we observe» (Hawking, Stephen: The Future of Quantum Cosmology, Department of Applied Mathematics and Theoretical Physics, University of Cambridge, Cambridge, United Kingdom, August, 1999). Sem mais… é a ciência no seu plano actual.

O que é dizer que a perspectiva criacionista do universo não se encontra, de todo, afastada pela ciência. Ademais, ela não é, de todo, incompatível com a existência de uma explicação científica das ideias de criação e evolução. Fé e razão só são excludentes para quem pensa a partir de pré conceitos (não confundir com preconceito), não para quem pensa os dados como são, objectivamente e descobrindo a realidade das coisas. Até porque, de um ponto de vista apriorístico, a humanidade e sua dimensão moral postula a existência de Deus. Mas esta é, de todo, uma outra questão.

Na verdade a discussão da Física como ciência deixou de estar no plano empírico e voltou às suas origens e encontra-se, hoje, no plano teorético da filosofia (relembro, a talho de foice, que foi o empirismo que, no ocidente, desligou a filosofia da teologia). E não pode haver um Deus que tenha determinado padrões de desenvolvimento no universo e, de seguida, a tenha deixado desenvolver de acordo com tais comandos?

É uma possibilidade, assim como a de Deus não existir. Só que esta possibilidade negativa não tem um postulado racional e determinado como a possibilidade de Deus existir. É, de todo, uma proposição de fé. Quem crê em Deus tem-no como existente pode, como eu, admitir a possibilidade do erro na forma de ver e de sentir a Sua existência. Agora, dizer que Deus não existe – sem mais e não admitindo a possibilidade da sua existência – é que é dogmático, de todo. É que – para que conste – existe uma diferença substancial entre o que é possibilidade teorética e o dogmatismo opinativo.

Mas o que fazer? A moda é, desde há algum tempo, não acreditar em Deus e, alijando as nossas responsabilidades como pessoas, colocar o opróbrio das nossas maldades em Deus. Mas, que eu saiba, Deus não deu a ninguém nenhum mandato para praticar o mal e desumanizar a existência humana. Pelo contrário – todas as religiões têm uma forma análoga da regra de oiro. Se calhar os males que sofremos emergem exactamente deste facto: de negarmos Deus e os valores que emergem de uma ideia de bem que dele emana. A forma mais fácil (e como adoramos o fácil…) de darmos guarida ao mal é negarmos Deus, logo os valores que ele representa e que em nós deve(ria) manifestar-se.

É que, como diz Kant, «A moral conduz, pois, inevitavelmente à religião, pela qual se estende, fora do homem, à ideia de um legislador moral poderoso, em cuja vontade é fim último (da criação do mundo) o que ao mesmo tempo pode e deve ser o fim último do homem» (Kant, A Religião Nos Limites Da Simples Razão, Edições 70, Lisboa, 1992, p.14). E, na verdade, qual é a diferença substancial entre a razão e a fé quando confrontamos ou cotejamos o Imperativo categórico de Kant (espelhando em: Kant, Critica da Razão Pura, Gulbenkian, Lisboa, 2001) e a regra de oiro de Jesus Cristo – como consta dos Evangelhos?

  • Imagem: Pequeno aglomerado de galáxias, incluindo uma espiral e uma elíptica. Criação de Adolf Schaller in Cosmos, de Carl Sagan

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