- AL PSU, Ó ESTEVES
sexta-feira, 29 de maio de 2009
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- MUDAM-SE OS TEMPOS…
E, adivinhe só quem está a ganhar milhões com estas crises gripais? Sim, isso mesmo: Donald Rumsfeld! A Empresa a que preside é dona das patentes das vacinas, para a gripe das aves, da gripe suína… e sabe lá Deus o que por aí virá a seguir. O homem, decididamente, sabe que a desgraça dos outros é a sua Fortuna. Por vezes, como agora, penso em Malthus… de certeza que adoraria conhecer Donald Rumsfeld! Seria, como se dizia no Mindelo quando eu era menino, o encontro da fome com a vontade de comer. Da ilha de Patmos: quem tem ouvidos…
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- PROVÉRBIOS DO INFERNO
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quarta-feira, 27 de maio de 2009
The Wheel of Fortune, Edward Coley Burne-Jones
- EU E O MEU POETA
– VB, e quando se diz uma mentira e ela se torna a verdade, a realidade? – volveu o meu poeta.
– Bem, meu poeta – respondi –, aí não se pode fazer nada, pois estamos então perante a
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– Ah, sim! Agora entendo, ó VB, porque dizes para se ter cuidado, cuidado com o poder…
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segunda-feira, 25 de maio de 2009
- DESPOJOS DE DOMINGO CANIBAL
É Domingo. O perdão da divida externa dos países pobres, a pena de morte, a Nova Ordem, o corporativismo judicial, o mal como situação não necessária, a pobreza estrutural e a miséria humana – as suas causas são tanto ou mais dolorosas do que elas mesmas – azucrinam-me a alma enquanto escuto Albinoni, Corelli e Bellini no meu momento de reflexão. Melhor é não pensar – diz o poeta. Fumo um ducados (que saudades tenho de um cigarillo negro cohiba ou de um popular sem filtro!), e resolvo ler um pouco: reli um texto, enviado por um amigo, sobre Ugolino e passo os olhos por Emanuel Swedenborg – tem prioridade não técnica nestes dias.
O universo cai aos bocados, podre pelo norte, de ausência de pão a sul, de afectos dementes, com a dor esmolando pelas ruas, a lua e a amante da rosa desertas. Estaciono na poesia – leio The Ship of Death and Other Poems de D.H. Lawrence, e paro em «Snake»:
A snake came to my water-trough
On a hot, hot day, and I in pyijamas for the heat,
To drink there.
[…]
The voice of my education said to me
He must be killed,
For in Siciky, the black, black snack are innocent, the gold are venomous.
[…]
And a voice in me said, If you were a man
You would take a stick and break him now, and finish him off.
Terrível… Espreito a alma de T. S. Eliot (Little Gidding):
[…]
Quick now, here, now, always –
A condition of complete simplicity
(Costing not less than everything.)
And all shall be well
When tonges of flame are in-folded
Into the crowned knot of fire
And the fire and the rose are one.
Não, as rosas ardem, queimam demais na primavera. Como diz Camilo (Shakeaspeare, The Winter´s Tale, IV.3):
I should leave geazing, were I of your flock,
And only live by gazing.
Nada disso, não. Talvez seja de seguir o conselho de Hamlet (Shakeaspeare, Hamlet, II.1): “By indirections find directions out” e, como me diz Wordsworth, haja “A virtue which erradicates and exalts / Objects through widest intercurse of sense”. Mas a verdade, assume a voz de José Gomes Ferreira (Poesia I, XXXIII):
Nasceste por engano nestes céus
lua de sangue
– pintada dos corações de todos os mortos.
O que quero, é o Domingo – a alma do sagrado. Não há vozes sobre os céus, hoje. Miguel brigou, e perdeu o meu poema de figos maduros para as potestades do ar. Estaciono a alma em Ezra Pound (Ezra Pound, De Aegyito) consolado:
Eu, até mesmo eu, que conheço as estradas
Através do céu, e o seu vento no meu corpo.
Eu vi a Senhora da Vida,
Eu, até eu, que voarei com a andorinha.
Sim, com as andorinhas felizes. Essas que banharam Rosália de Castro de sonhos (Rosália de Castro, Dos Palomas):
¡Felices esas aves que volando
libres en paz por el espacio corren
de purísima atmósfera gozando!
E o Domingo foi-se com a noite. Lembro-me de Helvius Pertinax – esta memória é o maior dos conselhos. Ugolino não matou a fome: a natureza suplanta todos os afectos – aqui reside a razão maior do mal. Por isso é inextirpável – como diz-nos Emmanuel Kant em A Religião nos Limites da Simples Razão. Estas coisas também matam um Domingo, e muitos outros dias. Deveria ter trocado isto pelos Lusíadas, dar uma braçadas… como diz um peixinho que sabe teclar mas lê pouco. Ai Voltaire! A tua velha… era feliz. Não acrescentava dores às dores, lá isso não fazia ó Coélet.
Imagem: Veneziana de costas virada para o mar…
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- VOZES DE ATENTAR…
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domingo, 24 de maio de 2009
- A CRISE SELECTIVA E A ARISTODEMOCRACIA
Assim vai Portugal – uns a viver de forma escandalosamente opulenta e outros a sobreviver nas ruas, debaixo das pontes e em casas onde não há ar condicionado, sedas, marfim, presunto pata negra e de pato, Barca Velha e Albariño, caviar beluga e champanhe a rodos... mas sim ratos, piolhos e, com sorte, uma côdea de pão com manteiga para comer com leite com prazo a expirar do Banco Alimentar. A crise existe, sim. Mas é selectiva, muito selectiva. «Os pobres que paguem a crise» – é o lema da aristodemocarcia política, os nobres da moderdinade, esses que emergiram da Revolução e das independências para livrar os povos oprimidos do jugo opressor. O povo, assim como a instauração da República em 1910, trocou um jugo por outro.
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Mas pode ser que um dia o povo acorde, e faça uma revolução silenciosa nas urnas – pois Abril, nunca mais se verá; os militares estão adormecidos e domesticados pelas delicias de Cápua e pela «ordem democrática». E lembro-me, agora, do poema Os Conjurados de Jorge Luis Borges – sim, oxalá este meu desejo de despertar do povo seja profético.
Imagem: BMW série 7
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- VOZES DE ATENTAR
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sábado, 23 de maio de 2009
- PAI UNIVERSALIS
Para os que se interessam por questões políticas, cá fica este comunicado do Sector do PAICV em França (editado como recebido, na forma e conteúdo). Interessante… Ah, um passarinho, aliás vários, me disseram que o Presidente do JPAI, de passagem da viagem à França, iria inaugurar o sistema de emissão de Certidões de Registo Criminal on line da Embaixada de Cabo em Lisboa (o sistema que já tinha sido inaugurado – e que é uma mais valia para a comunidade, diga-se an passant), aproveitando para ter reuniões análogas aos que teve em Paris. Tudo na normalidade – pensar-se-á na terra. O que a oposição tem a dizer disso? Vou ficar à espera, mas a reacção será um tanto ou quanto extemporrânea.
Comemorações do X Aniversário do Sector de França encerradas em grande!
As comemorações do X Aniversário da criação do Sector do PAICV de França foram encerradas com chave de ouro, numa sessão que decorreu do início da tarde de Domingo, 17, até por volta das 21h00 no Centro “Robert Lavargne” de Asnieres. O Salão transbordava de gente provinda dos quatro cantos de Paris e de outras cidades, os assentos não chegaram pela enchente e muitos assistiram de pé. Um clima de muita amizade e de convívio fraternal perdurou até o fim. O programa não poderia ter sido melhor: um mix de comunicações de interesse para a comunidade, asseguradas pelo Ministro de Estado e da Saúde, Basílio Ramos, sobre “Os Desafios de Cabo Verde” e pelo Embaixador,. José Duarte, sobre o Acordo de Mobilidade com França, no quadro da Parceria Especial Cabo Verde/União Europeia, com um breve historial da criação e evolução do Sector do PAICV em França, apresentada pela dinâmica 1ª Secretária do Sector, Etelvina Teque e um programa cultural riquíssimo com intérpretes de qualidade invejável.
Mas todo o conteúdo do programa das comemorações primou pela qualidade. A componente política contou com um encontro entre a delegação da Direcção Nacional do PAICV, chefiada pelo seu Secretário-Geral Dr. Basílio Ramos e o Conselho do Sector de França e militantes de base, bem como as delegações dos Sectores de Itália, Holanda e Portugal, chefiadas pelos respectivos primeiros secretários; Um encontro de jovens com o Presidente da JPAI, Nuías Silva; um encontro de mulheres, onde se empossou a Secretária do Sector para as Mulheres, Fernanda Semedo, presidida pela Secretária Nacional das Mulheres do PAICV, Joanilda Alves.
É de se realçar que, como habitualmente e fazendo jus às excelentes relações entre o PAICV e o PSF, o Sector de França contou com apoio do PSF nestas comemorações. Os encontros políticos decorreram, todos, nas sedes do PSF e da Fundação “Jean Jaurès”.
O Deputado da Nação, eleito pelo Círculo Eleitoral da Europa e Resto Mundo, Manuel Monteiro, tomou parte activa nas comemorações, tendo sido lembrado, também, como um dos fundadores do Sector do PAICV em França, juntamente com Orlando Livramento, Sérgio Sanches, Francisco Santos, Annie Lacerda, e muitos outros.
Para além da sessão pública de encerramento do Programa, realizou-se, ainda, um encontro com a comunidade em Creil, na manhã de 17 de Maio, presidido pelo Ministro de Estado e da Saúde, Dr. Basílio Ramos, onde foram levantadas várias questões respeitantes à actual realidade em Cabo Verde e na diáspora.
Sem dúvida que o Sector de França, a sua Direcção e os militantes e amigos do PAICV, estão de parabéns. Foi esse o sentimento de todos os que participaram nesses eventos.
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a dizer-te em penitência de querer-te:
«O meu sonho de ti
é pomba imolada no eros-altar,
é cordeiro em incensário florido,
é canto de louvor feito sacrifício,
é amor gerado de dor branca,
é ramo de palma emoldurando-me a alma,
é navio sem porto-descanso,
é desejo sem paragem,
é sentimento sem forma-destino nem imagem,
é encanto sem forma de desencanto,
é vago temor de te amar,
é vontade de tocar-te profundamente…
é nódoa que não mancha,
é negritude perdida em cristalino,
é opacidade de redenção denunciada,
é emancipação da redenção expiada,
é cópula silenciada de silêncios,
é bem e é mal libertário,
é divino e é profano,
é absoluto e é miragem,
é Alfa plenilúnio de Agosto em Mindelo,
é proto-Ómega que se reduz
às formas tremendas da tua alma
quebrada em corpo-raízes-sim».
Imagem: KD Aubert
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- RAÍZES/ROOTS
Fica aqui, para a multidão dos meus familiares que, como eu, nunca o conheceram.
Imagem: Nhô Pedro Nhana (Pedro Alexandrino Brandão) – meu bisavô.
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sexta-feira, 22 de maio de 2009
- NOTA DE UM POETA A BEIRA-MAR
– os ribeiros-beijos, confessados pelos serafins,
trouxeram a aurora dos argonautas.
Muitos universos chegam
à esta praia sedenta de amanhã
mas o oceano atlante em espuma és tu.
Porque te admiras, norma mortal,
proto-sombra de tudo?
Estou sedento, vou beber o mar; todo.
Imagem: Binette, Nana Sousa Dias
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- MOMENT(O) ZEN
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quinta-feira, 21 de maio de 2009
- O COMUNICADO DO PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA E A PRESCRIÇÃO DO CRIME ELEITORAL
Alguém não fez o seu trabalho – e, como ficou claro, esse alguém não foi a PGR mas sim a Assembleia Nacional. Lembro que aquando de uma quaestio com o M.I. Casimiro de Pina e o destemido Nuno Ferro Marques, a propósito da Petição/Acção Popular subscrita pelo ex-Primeiro Ministro Carlos Veiga e agora candidato a liderança do MPD, ficou claro que tinham apresentado uma Petição no Parlamento no sentido de haver acção penal contra o Primeiro Ministro José Maria Neves (o que, na altura, estava já prescrito – como defendi então).
Mas porquê não se iniciou o procedimento penal para, de seguida, o mesmo seguir para a PGR? – perguntar-me-ão. Isso é para se perguntar aos parlamentares, aos deputados da nação. O PGR, assim, não é responsável pela prescrição, pois – como fica claro na Nota de Imprensa – «o Procurador-Geral da República não recebeu da Assembleia Nacional nenhum requerimento solicitando procedimento criminalmente contra qualquer pessoa que seja membro do Governo, razão por que não existe, contra o actual Primeiro Ministro de Cabo Verde, Dr. José Maria Pereira Neves, qualquer processo-crime cujo procedimento pudesse prescrever nas instâncias do Ministério Público».
Imagem: The Theotokos, Dionisios
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- O CRIME ELEITORAL, O PRIMEIRO MINISTRO E A PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA[1]
A Procuradoria Geral da República teve tempo mais do que suficiente, passados mais de dois anos, para propalar uma decisão sobre esses factos. A verdade é que, em opinião clara e liminar, o Primeiro Ministro José Maria Neves violou objectivamente – com consciência ou não da ilicitude da sua acção – a norma penal em causa. Agora, que houve lugar à prescrição do crime, lá isso não resta, também, nenhuma dúvida.
O problema é que se no plano judicial a questão parece e é simples, no plano político resulta(rá) penoso para o Primeiro Ministro a manutenção deste espectro judicial, e que poderá vir a prejudicá-lo nas próximas eleições (sejam elas no quadro do fim da legislatura ou antecipada – esta situação é sempre possível… em particular no quadro da Revisão da Constituição; que a negociação do calendário eleitoral poderá fazer abortar), além de que a oposição e os cidadãos cabo-verdianos merecem ser esclarecidos pelas entidades competentes se ouve ou não lugar a um ilícito criminal praticado pelo Primeiro Ministro e se este prescreveu ou não.
E é um dever da Procuradoria Geral da República fazer isso – até porque o actual Procurador Geral não tem responsabilidades na prescrição do crime, mas começa a ter responsabilidades se não for emanado o competente Despacho a decidir esta questão. Todos os cidadãos são iguais perante a lei – e houve, parece-me, uma protecção desmedida do Primeiro Ministro neste processo, pois a PGR deveria ter avançado como o processo em tempo útil, e isso, que se saiba, não foi feito. Agora, o que acontece neste momento – a cada dia que passa – prejudica politicamente o Primeiro Ministro, e mina o capital de confiança que o Procurador Geral da República (digo o PRG porque é ele quem, em última análise, responde pelas acções e omissões do Ministério Público) merece como guardião e defensor da legalidade.
O timing político desta questão, da perspectiva do PAICV, esgotou-se há muito (direi que se esgotou com as Eleições Autárquicas…) e sua manutenção é que é inusitada. Até perceberei – de um eventual ponto de vista do actual Procurador Geral da República – a questão da inoportunidade de propalar-se uma decisão próximo de umas eleições Autárquicas para não projudicar um partido ou beneficiar outro; mas não agora. Começam a faltar-me argumentos de bondade para perceber esta omissão. Dura lex sed lex – a nação agradece que assim seja.
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[1] Pela utilidade da mesma, repristino este texto publicado no Liberal
Imagem: Fyodor Dostoevsky, por Vasily Petrov (1872)
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Etiquetas: direitos humanos, justiça, politica, sociedade
Tendo tomado conhecimento de notícias, escritas em jeito de artigos de opinião por dois eminentes cidadãos e Ilustres Juristas cabo-verdianos residentes no estrangeiro, veiculadas por um dos jornais electrónicos do país, acusando o Ministério Público e a Procuradoria-Geral da República de, por omissão, ter deixado prescrever o procedimento criminal relativo a factos susceptíveis de integrar crimes praticados no dia 22 de Janeiro de 2006 pelo actual Primeiro Ministro de Cabo Verde, Dr. José Maria Pereira Neves, a Procuradoria-Geral da República vem esclarecer o seguinte:
1. No ordenamento jurídico cabo-verdiano, como no de quase todos os Estados de Direito Democrático, o exercício da acção penal está constitucionalmente atribuído, quase em exclusivo, ao Ministério Público, o qual, no exercício das suas funções, se sujeita, entre outros, aos princípios da competência, da legalidade, oficiosidade e estrita objectividade.
2. Em virtude do regime de responsabilidade criminal dos membros do Governo estabelecido na Constituição da República de Cabo Verde, nos seus artigos 180º, nº 2, alínea d) e 198º, cabe à Assembleia Nacional promover acção penal contra membros do Governo, incluindo o Primeiro Ministro.
3. A supremacia do Estado de Direito constitucional comporta, inexoravelmente, a estrita observância das imunidades estabelecidas e do regime de responsabilidade criminal dos membros do Governo definido na Constituição da República de Cabo Verde de 1992.
4. Desde de que tal regime de responsabilidade criminal dos membros do Governo entrou em vigor, o Procurador-Geral da República não recebeu da Assembleia Nacional nenhum requerimento solicitando procedimento criminalmente contra qualquer pessoa que seja membro do Governo, razão por que não existe, contra o actual Primeiro Ministro de Cabo Verde, Dr. José Maria Pereira Neves, qualquer processo-crime cujo procedimento pudesse prescrever nas instâncias do Ministério Público.
Procuradoria-Geral da República, Cidade da Praia, aos 18 de Maio de 2009.
Júlio César Martins Tavares
Procurador-Geral da República e Presidente do Conselho Superior do Ministério Público
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- LIVROS QUE MERECEM MAIS DO QUE SER LIDOS
Imagem: (Selva, de noite), Tarzan, Burne Hogart
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quarta-feira, 20 de maio de 2009
- O LIXO DOS CABO-VERDIANOS
Será que temos consciência que a capacidade de Cabo Verde armazenar lixo é muito limitada? Parece que não. Mas é bom sabermos que a única coisa que temos de ilimitada na terra é a garganta, e os super homens, os que fazem e sabem tudo. Mas até isso, até isso irá para o caixote do lixo da história depois de chegarmos ao 1888 ou, para alguns, no julgamento eleitoral.
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- VOZES DE ATENTAR
É a ideologia transvestida, mas faz sentido. A vergonha, não!
Imagem: Trabalhadores belgas em greve pela crise que ameça os seus postos de trabalho
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- BENEDICTUS XVI, BARACK OBAMA E A PALESTINA
Uma questão emerge: será que os palestinianos estarão na disponibilidade de, verdadeiramente, viver em paz com os israelitas? Será que a ideia de «lançar Israel ao Mar» – como Nasser anunciou, e se pensou fazer com a Guerra dos Seis Dias – é coisa do passado, que a ideia não pode, a todo o momento, ser repristinada? Não creio, de tudo. É uma possibilidade latente, à espera de revelação.
Ademais, há que considerar que Israel dificilmente admitirá um Estado Palestiniano nas fronteira de Jerusalém, pois tal seria hipotecar o sonho profundo de de Moshe Dayan e dos israelitas de ver o Templo de Salomão erigido no seu local natural – na Mesquita de Omar, a Cupula do Rochedo. Para o cidadão comum, e até mesmo para um estratega político, o problema maior talvez seja a água (sim, isso mesmo!), mas não para Israel como povo – nem para políticos como, v.g., George W. Bush e Donal Rumsfeld. Não creio que Barack Obama e Benedictus XVI ignorem o problema maior da questão palestiana, mas mexer nela, na sua verdadeira essência (o plano religioso), é abrir uma guerra com efeitos imprevisíveis. E ninguém quer isso, mas também ninguém quer ficar calado e ver o conflito eternizar-se. São boas vontades, mas de circunstância, e para o Mundo ver – mas que, de forma alguma, irá resolver o problema palestinano.
Imagem: Benedictus XVI beijando o chão do Santo Sepulcro em Jerusalém
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terça-feira, 19 de maio de 2009
- LA MUERTE DEL CUERPO
Así, ojo picado de soledad desnuda,
Estoy en la tierra: no hay sueños y eternidad.
Pero no, no es verdad – lo ser poeta y la certeza.
Imagem: Mario Benedetti
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- O PÓ DAS ESTRELAS
Quando escutares d´Ela: “Tenho saudades tuas…”
não temas, não te espantes na hora-fenda.
O que te penetra os tímpanos e alma
é o rugir do útero-sonho,
o ressoar da tua genealogia, o adubo da eternidade.
Lembra-te, ó homem. Quando chegar a hora…
Abre a boca, e sorve a seiva do pó das estrelas.
Imagem: Amor, Gustav Klimt (1895)
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- A RIQUEZA DE PEDRO PIRES E OS LADRÕES DA REPÚBLICA
Toda a gente sabe, e não o escondo: nas últimas eleições votei em Carlos Veiga para Presidente da República, e em José Maria Neves para Primeiro Ministro. Por uma questão de sistema político e a bem da nação me pareceram as escolhas óbvias e adequadas – até porque o Presidente Pedro Pires fizera um mandato que não deixava saudades: inócuo como Presidente da República. E não raras vezes o tenho criticado – e, perdoem-me a imodéstia, sempre com razão de situação (fosse a decisão criticada viciada ou não) –, mas nunca coloquei em causa a sua honorabilidade e honestidade.
Pedro Pires, quando se fizer a história de Cabo Verde sem paixões exacerbadas, será considerado muito melhor Primeiro Ministro do que Presidente da República – tenho para mim, e tenho-o dito repetidas vezes, que tem desperdiçado este mandato para deixar uma marca profunda sobre o sentido do exercício do poder presidencial. Mas são circunstância da história, e não só – é claro. Poderia ter enriquecido com o dinheiro do povo, com o erário público; mas não o fez, como fizeram a maioria dos lideres africanos dos sistemas autoritários e pró-socialistas e socialiantes emergentes das lutas de libertação e da Revolução de Abril. Os casos de José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola, de alguns ex-governantes da terra da morabeza, e até de Portugal, são paradigmáticos.
Pedro Pires, não! Depois de 15 anos como Primeiro Ministro, nem uma casa própria tinha quando deixou o Governo na sequência da emergência da democracia pluripartidária e da II República. Somente neste segundo mandato (depois de mais de vinte anos como Chefe de Governo e de Estado) é que fez a sua casa, tendo recorrido, como qualquer outro cidadão, a um empréstimo bancário para o efeito (estas coisas deveriam ser levados ao conhecimento do povo, pois há coisas boas a serem noticiadas). Que eu saiba, não tem contas bancárias de muitos dígitos, mansões e casas sumptuosas em Cabo Verde ou no exterior – extorquidos ilegitimamente ao povo. Também não andou a comprar fatos de 300 contos no Rosa & Teixeira, em Lisboa, mas num modesto – e nem por isso menos digno – Pronto-a-vestir do Largo do Rato (e, se calhar deveria fazer compras no Rosa & Teixeira, por uma questão estética e de dignificação da imagem presidencial; o que eu acharia mais do que normal, necessário até). Mas há quem o tenha feito (e mais, muito mais), com o erário público – isto é, como dinheiro de cidadãos que chegam a ganhar míseros 10 contos por mês.
Ter um Presidente da República – ou qualquer governante – que não enriqueceu à custa do povo é uma coisa extraordinária! E não somente em África, não. Em Portugal, os ex-Ministros passam de Ministros a Banqueiros (sim, não é bancários, mas banqueiros) ou a gestores das maiores empresas da nação – ser Ministro é "tese de doutoramento" e tirocínio que habilita quem por lá passa a ser gestor pago a peso de ouro. Pedro Pires não seguiu essa senda, manteve as suas mãos limpas, e isso dignifica não somente a sua pessoa mas também o seu povo. Posso até ter razões para criticá-lo por desmandos e inomináveis abusos feitos durante o sistema político autoritário da I República (critícas que se estenderiam a outros políticos de ambas as barricadas partidárias), mas não posso acusá-lo de ter-se locupletado com os bens do povo, da República. Isso, não.
Merece ser louvado? Na verdade, não merecia – pois quem cunpre com o seu dever não merece nenhum louvor. Acontece que, no contexto em que vivemos, o que fez, neste plano, é extraordinário – e tudo o que é extraordinário (no sentido que se dá hoje à palavra) merece ser salientado. «Mas mesmo assim, não votou nele nas últimas eleições. Porquê?» – perguntar-me-á. Em causa não estava a honestidade das pessoas, mas sim o bem da nação e o seu equilíbrio político – o meu voto seguiu aquilo que achei que era o melhor para o país. Aliás, haverá hoje em Cabo Verde quem – tendo consciência política (e não estando politicamente engajado em nenhum partido político) – que não defenda que o melhor para o país é ter um Presidente da República da esfera de influência diferente da maioria parlamentar que sustenta o Governo? Sim, haverá quem não defenda este tipo de equilíbrio para as próximas eleições?
Mas falava da riqueza, e de Pedro Pires. A riqueza de Pedro Pires, é o exemplo que deixa como um líder que não enriqueceu à custa do erário público cabo-verdiano. Um bom exemplo, que merecia ser recompensado – ser ressaltado como exemplo. Quem sabe se, assim, alguns clepocratas deste Mundo não venham a se sentir envergonhados. Mas os Senhores dos Relatórios, dos Observatórios, esses… andam a dormir. Tenho de dizer: obrigado! Obrigado, Presidente Pedro Pires, porque em 23 anos de execício do poder não roubaste o teu povo.
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segunda-feira, 18 de maio de 2009
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domingo, 17 de maio de 2009
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- REMEXENDO NA HISTÓRIA
A África do Sul e o Rwanda tiverem soluções dolorosas, Cabo Verde uma lei de reconciliação inócua; Portugal baniu o fascismo. Mas acabaram, a sua maneira, de servir os interesses dos povos em causa. Lula, pelos vistos, não pensa assim. E faz bem! A verdade é um direito do povo brasileiro, toda a verdade.
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sábado, 16 de maio de 2009
- OS LUSÍADAS
Nuda veritas, Gustav Klimt (1899)
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sexta-feira, 15 de maio de 2009
- LA NOCHE OSCURA
– dicer-te a la hora del abismo arcano
que la lluvia es lágrima-corazón que planto,
que yo planto en el rincón del mundo que ajustas
en el jardín y me hace demente de amor.
Sí, yo soy el devorador de tus sueños,
el regulador de las horas nocturnas y tudo
– Dios no puede calcular este dolor
ao mirarnos de su castillo de oro y sangre
que migra al Tormes frío y cerrado.
---- in Notas del Tormes, Virgílio Brandão
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- A (IN)SEGURANÇA DA NOITE
Atente-se na barbárie e na violência destas imagens. Se for sensível, não veja este vídeo. Por onde andarão esses homicidas? O que aconteceu com a vítima? Aconteceu a porta do Bar-Discoteca no Centro Comercial Stop na Rua de Heroísmo, Porto. Pode acontecer em qualquer lugar da noite (inclusive no interior dos estabelecimentos), pois a selvajaria e a (in)segurança é o que se vê. Bárbaros, esses jovens desmiolados e maus! Mas há que atentar na omissão de auxílio dos seguranças, das pessoas presentes...
“Ver um crime com calma é comete-lo” – José Marti.
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- INSCRIÇÃO
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
---- in Clepsidra, Camilo Pessanha
Imagem: Mulher sentada de pernas abertas, Gustav Klimt
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Etiquetas: cultura, humana conditio, sociedade
quinta-feira, 14 de maio de 2009
- BERLUSCONI E O PERIGO EUROPEU
O que é triste é que o que Berlusconi diz não é fruto do novo fascismo italiano que ele encarna, não: é o pensamento de grande parte dos líderes europeus e parlamentares no Parlamento Europeu. A Directiva de Retorno (que foi aprovado na ausência de alguns parlamentares que se dizem defensores dos direitos dos imigrantes – como é o caso da socialista Ana Gomes) é a prova acabada deste pensamento excludente, desta aparofobia militante de grande parte dos políticos europeus e que a «crise» ajuda a sustentar e a justificar.
Berlusconi pode ser uma nulidade (só pode ser!, para dizer o que disse) na história do seu país – aquele que mais frutos deu no plano da multiculturalidade e que não tem nada a ver com a “esquerda” – mas não é um político inocente. E porque é um político inocente que recordo as palavras do Reichsmarschal Hermann Goering, Comandante da Luftwaffe (Força Aérea da Alemanha Nazi), durante os Julgamentos de Nuremberga: «Com voz ou sem ela, o povo pode sempre ser levado a submeter-se à vontade dos dirigentes. É fácil. Tudo o que se tem de fazer é dizer-lhe que está a ser atacado, e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e por exporem o país ao perigo». É esta a escola política de Silvio Berlusconi, Jean- Marie Le Pen e outros que seguem os seus passos, ainda que digam o contrário – a verdade é que fazem o mesmo. A vergonha de Lampedusa pode ser vista em Ceuta, Mellila, Dover...
Um dia destes vamos ver este campos de contenção de imigrantes invasores a serem instalados, além de Marrocos, em Cabo Verde e outros países africanos da costa do Mediterrâneo. O que digo não é um exercício de prognosticação; não. É mais simples e previsível das situações e que o mais comum dos mortais deve(rá) esperar. Não me admiraria nada que esse ponto viesse a ser uma das bases do Acordo Especial entre Cabo Verde e a União Europeia – um dos aspectos é segurança, logo, subsumível ao PESC: Política Europeia de Segurança Comum que justificam Schengan, Lampedusa, Mellila, a Directiva de Retorno.
A lógica de sociedade fortaleza versus sociedade de mão-de-obra fast food trará a Europa muitos mais dissabores do que se mostra capaz de prever. É um sono da razão? Talvez seja, pois como bem diz Goya: «o sono da razão engendra monstros»; digo mais: alimentámo-los. E temos alguns a caminhar entre nós. Agora, de repente, lembrei-me, de uma carta que li no outro dia: de PIO XII a Adolfo Hitler – silenciarmo-nos perante os monstros ou ignorá-los, é uma forma de os alimentar, sem dúvida. Uma Europa que quer ser campeã dos Direitos Humanos não pode tolerar fascistas e ditadores disfarsados de democratas como Silvio Berlusconi & co., nem ter as políticas de imigração que tem, pois perde toda a sua autoridade moral para apontar o dedo a Hugo Chavez, ao Castrismo, ao embargo norte-americano a Cuba (cuja indignidade os europeus fingem não existir) e outras maldades que grassam no Mundo.
Imagem: Foto da capa de uma das primeiras edições do livro A Minha Luta, de Adolfo Hitler (livro editado em tempo de grande crise...).
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- ECLIPSE EM LISBOA
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Etiquetas: agenda
quarta-feira, 13 de maio de 2009
- FINISTERRA
e um espartilho de alma e verbo.
Eu, como não sou grande nem quero,
tenho-te a ti – tecedora das horas-sonho.
Onde tu estás, seiva, tudo começa – termino.
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Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
---- Luíz Vaz de Camões
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terça-feira, 12 de maio de 2009
Tem sido longa a luta das mulheres contra um jugo antinatural que – segundo a tradição judaica e cristã – tem explicação (de ordem psicológica) no facto da mulher ter sido criada da «costela» de Adão. De espantar o nível de conhecimento de psicologia que o scriptore (Moisés) do Genesis tinha... Guardiãs dos arcanos segredos dos nefelins, foram expurgadas de uma posição activa na sociedade durante séculos, colocadas nas margens do saber pela inquisição, acusadas de bruxas e, durante muito, impedidas de aceder ao conhecimento pelo barbarismo social que é a desigualdade.
A razão mais evidente é simples: o homem sempre temeu o poder no feminino. Sempre que as mulheres alcançaram o poder foram tidas como bruxas – a causa era ou sua beleza de origem satánica, as pretensas práticas mágicas ou devassidão sexual ou moral. Exemplos acabados disso foram Ester na corte de Assuero, Ana Bolena com Enrique VIII, Cleópatra – a última raínha do Egipto, herdeira plotomaica e grande guardiã da Biblioteca de Alexandria – que é vista como a amante de Júlio César e de Marco Aurélio e não como uma grande estadista e intelectual (que é o que era, na verdade). Isso para não falar de Hatchepsut, Nefertiti, Júlia Maesa, Júlia Domna, Júlia Mammea ou até mesmo Faustina, Lucrécia Borgia ou Isabel I com quem a história não foi, não é, muita simpática; na verdade é injusta, muito injusta.
A mulher sempre teve e tem armas armas que os homens não têm – é um juízo (re)corrente entre os homens. Sim, é verdade! Mas não o dizem no sentido de elogio, mas com acinto. As capacidades inerentes à sua condição humana e de natural igualdade é desconsiderada amiúdas vezes – mesmo hoje, pois ainda restam resquícios do tempo em que a mulher era pouco mais do que uma incapaz ou um mero objecto sexual. Há 35 anos, v.g., ainda havia em Portugal (Metrópole e Ultramar) leis que permitiam ao homem tutelar a mulher e exercer o «poder de moderada correção» sobre ela – isto é: dar-lhe uma sova não escandalosa.
O próprio casamento, enquanto contrato, aparece como uma instituição para proteger a mulher da ganância dos homens; assim como aparecem as normas para as proteger do vitúperio. Não é por acaso que estas leis aparecem quando, na sombra, eram mulheres que tutelavam os jovens imperadores romanos. Mas esta opressão histórica, paradoxalmente, não diminuiu as capacidades das mulheres, pelo contrário: acicatou-as e hoje, cada vez mais, as mulheres tomam conciênca das suas capacidades e, por via do da democratização do conhecimento como forma de sustentar a ganância humana, a sociedade caminha, inexoralvelmente, para uma sociedade matriarcal.
O único perigo de uma sociedade matriarcal baseada no império do conhecimento é que ela, fatalmente, será destruída pela barbárie – o homem nunca cederá o poder que seja o seu espelho. É que, infelizmente, o poder tem o mesmo efeito corrompedor sobre as mulheres como tem sobre os homens, e a natureza sensível das mulheres não é bastante para vencer a do poder. De Lucrécia Borgia a Benazir Bhutto, passando por Julia Maesa (que sacrificou o próprio neto para se manter na sombra do poder) e Maria Spiridonova que sujeitaram ao imperativo do poder – by any means necessary, como diria Malcolm X.
Neste aspecto, Darwin e António Vieira têm toda a razão possível: os fracos perecem, os mais fortes sobrevivem; os grandes comem os pequenos. A força da razão acabará, infelizmente, cedendo à razão da força. Lamento este meu cepticismo, mas a realidade impele-me a tê-lo como certo. Espero estar sinceramente errado. Bom seria que fosse possível uma sociedade de conhecimento real, profundo e alicerçado na raiz da nossa humanidade mais primária e em que a diferença entre os géneros fosse vista não como diferenças de grau ou de qualidade, mas sim como manifestações do espírito humano. Ainda que, confesso, tenha para mim que não foi Adão que foi criado em primeiro lugar… mas Eva. Mas isso, é outra história.
***
O homem sente-se ameaçado pelo feminino, e socialmente discriminado em determinados sectores da vida social. Conversas ocasionais, e até recorrentes com pessoas tidas como esclarecidas, levaram-me a esta conclusão. Mas é discurso em circuito fechado, raramente proposto ao feminino. Existem algumas excepções, como o fórum de discussão
Equality for Men que defende publicamente que, no actual estado das coisas, o homem está a ser discriminado e demandar proteção e um nivelamento igualitário da acção social. Interessante, e de atentar. Até porque não é um discurso estéril; longe disso.Imagem: Gustav Klimt, Die Musik
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PROVÉRBIOS DO INFERNO
«Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas», William Blake, «Provérbios do Inferno (15)», in O Casamento do Céu e do Inferno
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segunda-feira, 11 de maio de 2009
- MOMENTOS DA HISTÓRIA
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Etiquetas: cultura, história, momentos da história..., o mal
- EL VESTIR
Y él respondió, diciendo:
Vuestra ropa esconde mucho de vuestra belleza y, sin embargo, no cubre lo que no es bello.
Y aunque buscáis en el vestir el sentiros libres en vuestra intimidad, podéis hallar en él un arnés y una cadena.
¡Cómo pudiérais enfrentar al sol y al viento con más de vuestra piel y menos de vuestro ropaje!
Porque el aliento de la vida está en la luz del sol y 'la mano de la vida en el viento.
Algunos de vosotros decís: "Es el viento del norte el que ha tejido las ropas que usamos."
Y yo digo: ¡Ay! Fue el viento del norte.
Pero fue la vergüenza su telar y la debilidad de carácter dio sus hilos.
Y, cuando terminó su trabajo, rió en el bosque.
No os olvidéis que el pudor no es protección contra los ojos del impuro.
Y, cuando el impuro no exista más ¿qué será el pudor sino los grillos y la impureza de la mente?
Y no olvidéis que la tierra goza al sentir vuestros pies desnudos y los vientos anhelan jugar con vuestros callellos.
---- Khalil Gibrain, El Profeta
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14 de Maio de 2009, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Sala 5.2 (Sala de Mestrados) pelas 18.30h.
Organização: Cátedra Alberto Benveniste
Imagem: Lucrécia Borgia (a única mulher da história a exercer as funções político-temporais atribuídas ao Papa), de Bartolomeo Veneto.
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- O PRIMEIRO LIVRO QUE LI EM INGLÉS E ALVARO CUNHAL
O primeiro livro que li em inglês, não foi de cabalistas, não. O primeiro livro que li em inglês chamava-se Rivers of Living Water, de John Osteen. O problema é que não sabia inglês. Assim, comprei um curso de inglês do Readers Digest e, além dos dicionários e o vocabulário do curso, comprei um dicionário Inglés/Português-Português/Inglés e comecei a ler o livro. Cada palavra era uma dificuldade, cada frase uma odisseia. Levei meses a ler e a entender o livro; mas li-o. E relio-o, várias vezes… até não precisar do dicionário. Assim, quando voltei a estudar (depois de desertar a escola em menino), conhecia os rudimentos da língua – e fiquei surpreendido com o quanto sabia. Anos depois, chegaram os grandes livros em inglês: The Great Gatsby, Scott Fitzgerald; U.S.A, John dos Passos; As I lay Dying, William Faulkner; One Day in the Life of Ivan Denisovich, Alexander Solzhenitsyn; Paradise Lost, John Milton… Era, necessariamente, um novo rumo estético.
Lembro-me, agora, do primeiro livro que li em espanhol. Foi um livro propriedade de Álvaro Cunhal (por razões que agora não vem ao caso, tive acesso à sua biblioteca pessoal na casa da irmã, D. Eugénia, na Rua Sousa Martins em Lisboa e que fora, entre outros, um dos seus refugios) e, além de umas obras que me foram muito úteis em termos formativos – como, v.g., o An Enquiry Concerning Human Understanding, de David Hume, An outline of the Universe de J.G. Crowther –, li o meu primeiro livro técnico em espanhol: Prolegomenos a Toda Metafisica Del Futuro, de Kant. Livros cujas cópias com nota autógrafa de Álvaro Cunhal (uma ou outra com testemunho da sua passagem pelo Forte de Peniche) se encontram por aí, descansando numa multidão de outros livros então reproduzidos.
E o que estranho é que a admiração intelectual que nutro por Alvaro Cunhal – para mim o maior português do século XX (e não há neste juízo nada de ideológico) – não é extensível, em dimensão, a John Osteen que, hoje, considero de um pensamento teológico muito frágil. Mas Rivers of Living Water foi, a data, importante para mim – no plano espiritual e prático. No outro dia relia um texto de Álvaro Cunhal: As Seis Características Fundamentais de Um Partido Comunista (2001), e dei por mim a pensar que ele era menos ortodoxo do que se pensa, nomeadamente dos actuais líderes do Partido Comunista Português e que, se calhar, o que o país precisava, hoje, era de um Álvaro Cunhal vivo e na plenitude das suas capacidades para pensar-se uma sociedade mais justa, objectivamente justa e sem o mofo dogmático das teses que, como a realidade demonstra, falharam.
Álvaro Cunhal tinha consciência disso; mas o tempo não lhe deu tempo para reinventar o pensamento.
Imagem: Álvaro Cunhal, Henrique Matos
Publicada por Virgilio Brandao à(s) 1:56:00 da manhã 0 comentários
Etiquetas: cultura, humana conditio