- FOME E BATATA
Lógica da batata? Bem, ela bem que pode dizer que devemos amar o que nos alimenta que não estaria errado; mas o homem é guloso...
Platão e Leibnitz poderão ter as suas razões – cada um vê ou percebe o que é capaz. Há quem se fique pela sombra e quem, invocando Horácio e Erasmo, diga que in medio stat virtus.
Pensava nisso quando o meu poeta me perguntou:
– VB, qual é o papel da batata no mundo?
– Depende de ti, meu poeta – respondi.
– Não! Batata é batata. Serve para alimentar as pessoas, para comer – retorquiu o meu poeta.
– Então conclui-se, meu poeta, que a batata tem um papel (mais do que um, na verdade, mas o egoísmo...) na existência: alimentar os homens. Este papel – o prosopon do teatro grego e mais tarde a persona dos latinos – é o quê na batata, meu poeta?
– Bem, VB, deixa ver... (o meu poeta anda lerdo, do seu amor cultiva só silêncio e ser afligido pela neve dos missionários) batata assada, puré... hidratos de carbono?
– Ó meu poeta! O seu papel depende(rá) de como a vês ou a percebes na perspectiva da tua necessidade, desejo de viver ou do teu medo da morte (no sentido cristão este é nada mais do que a separação do divino). Por ela és e serás capaz de matar, de roubar, de te prostituíres, de te amibares solitário na noite – é o connatus essendi de Espinosa, meu poeta... Afinal, só se vive com a batata, não é? Toda ela, não somente a parte que se vê em dados momentos. Afinal, meu poeta, uma batata é prosopon que tem muito que se lhe diga; e deixemos para lá o transpersonalismo e o panteísmo – que me ocorrem – pois ambos vêem espécies e formas diversas de batatas.
– ...
O meu poeta sorriu, silencioso, e foi pensar.
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- Imagem: Uma batata
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