terça-feira, 7 de outubro de 2008

  • O GUETO GLOBAL OU A FOME PRODUZIDA E SUSTENTADA PELOS EUROPEUS EM ÁFRICA E NOS PAÍSES POBRES
Para os milhões que morrem de fome em todo o Mundo, a solução – muitas vezes a única e última esperança – é emigrar para os países com melhores condições. Mas os europeus – dos primeiros a emigrar, nomeadamente os portugueses para o norte de África para escapar da fome (deixando por lá D. Sebastião e a alma) e depois para o Brasil e África sub-sahariana, seguidos pelos espanhóis para as Américas e os franceses, italianos, holandeses e belgas para África – não desejam os mais pobres nas suas terras.

Na senda dessa emigração conquistadora, os espanhóis dizimaram – num genocídio que só tinha então paralelo com os cometidos pelos israelitas ao entrarem na terra prometida e na destruição de final de Cartago – os povos Maia, Inca e Azteca; os belgas, durante o período colonial, chacinaram 20 (vinte) milhões de congoleses; os portugueses escravizaram os povos africanos até o terceiro quartel do século XX (ah, sim!...), violaram as suas mulheres e, ainda, se sentem orgulhosos de terem criado o «mulato»; os ingleses e os holandeses alimentaram o horrendo Apartheid, além de um rol interminável de atrocidades europeias nas «colónias».

E, convêm lembrar, ainda discutiam em Valhadollid – na Corte do Imperador Carlos V de Espanha e da Europa, em pleno Século de Ouro, se o índio das Américas e o negro africano tinham ou não alma; se eram ou não pessoa humana (Ah, como gostaria de ver os povos indigenas e das américas e os africanos honrarem Bartolomé de Las casas! Mas como a ingratidão é das coisas mais bem distribuidas pela humanidade...). Despojado de dignidade e de todos os bens materiais (quando viajo pelas grandes catedrais e monumentos da Europa, identifico o ouro e os objectos roubados aos povos e às nações vítimas da emigração gananciosa e conquistadora) os europeus sempre se preocuparam em manter os povos oprimidos sob o manto da ignorância.

Mesmo no chamado Século das Luzes, ela só brilhava para alguns, pois muitos achavam que a escravidão era uma necessidade (como Karl Marx, o «defensor do proletariado» – um dos pais do socialismo e mentor maior do capitalismo), pois a «sociedade sem classes» não incluía a massa escrava que, na perspectiva dos europeus, era a que se encontrava nas então colónias de África e das Américas.

Hoje, sub-repticiamente, a Europa procura criar o Gueto Global – remetendo os países pobres à condição de fornecedora de matéria-prima qualificada; neste caso de matéria-prima humana, de maõ de obra qualificada, tornando, na verdade, a pessoa humana um objecto de comércio, desumanizando-a. Depois de Deus, parece que é chegada a hora de declarar-se a morte da pessoa pobre, tornando-o um homem-objecto de troca na economia global de uma «emigração planificada» de acordo com os interesses do mercado europeu!

Voltamos, lentamente, ao pior do Século de Ouro e do Século das Luzes.

O mundo economicamente desenvolvido, a Europa em particular, deve muito do seu bem-estar passado e presente aos povos que hoje emigram para o seu território; mas parece que isso não importa, que entre os europeus não existe nem memória nem consciência colectiva. E, não raras vezes, a desgraça estrutural em que o colonizador europeu deixou África é objecto de jocosidade e de mensagens subliminares de «pobreza negra». Demasiadas palavras, cansam! Palavras sem obras são como a fé, mortas!

Hoje, a Europa não quer imigrantes «pobres», «sem qualificações»; não. Quer é emigrantes qualificados, com capacidade económica – quer é ficar mais rico e empobrecer ainda mais os países pobres, em particular no plano do motor do desenvolvimento real – o desenvolvimento humano. A noção de técnica e jurídica de imigrante, ao que parece, terá de ser revista para se adaptar à vontade do Grande Legislador europeu (Ah, Churchill, o teu pecado de juízo renasce com novos rostos e novo formato) que não está, na prática, muito longe do propugnado pelo PNR português. E os pobres vão cedendo, cedendo e cedendo... até não haver nada mais que um «gueto global» para os pobres; com outros pobres menos pobres a guardá-los para o Senhor europeu. Será que um bocado de pão vale o que se pede a dada gente?...

O mundo desenvolvido não quer, nunca quis e nunca quererá alimentar o desenvolvimento dos continentes pobres, pois isso é criar, alimentar a concorrência e, no actual sistema global – absolutamente predatório – não se deseja concorrência externa, mas alvos a abater (basta vermos, por exemplo, as políticas de subsídios e de subvenções à agricultura da UE...).
É um ciclo de opressão económica que poucos países estão e estarão em condições de vencer – em África, países como Angola, o Sudão ou a Nigéria (por terem recursos naturais consideráveis) estão em condições de sair desse ciclo, mas têm cadeias invisiveis a travar o seu desenvolvimento; o mesmo se diga nas Américas, com o Brasil e a Venezuela a romperem o ciclo de pobreza e a entrarem num novo patamar de desenvolvimento; mas por méritos próprios e dos seus governantes, pois os ricos desejam ou desejariam tê-los nopatamar de consumidores e não de produtores de bens e de riqueza. Mas, nem por isso, o seu peso real no concerto das nações é reconhecido...

E depois falam e falam em solidariedade, desenvolvimento e responsabilidade... Bastará ler o «2008 Index of Economic Freedom» da Heritage Foundation e do Wall Street Journal e o «2008 Ibrahim Index of African Governance» para percebermos que os países pobres estão lançados aos lobos, que, como dizem os meus amigos brasileiros, estão «num mato sem cachorro». Não se admirem que, um dia destes, os oprimidos pelo egoísmo – fartos de tanta reserva mental – os mande trotear com a Messalina que passeia pelas suas almas.

A oriente, opera-se uma revolução silenciosa; que os pobres deste Mundo saibam tirar partido estratégico disso. É tempo de, nós os pobres, acabarmos com esse homini lupus homini ocidental! Sobreviver é preciso! By any means necessary, diria Malcolm X; pois, de outro modo, Darwin terá razão - «os fortes sobrevivem e os fracos perecem». E o pobre, pensam os ricos, são sempre o elo mais fraco.

  • Imagem: Topological abduction of Europe - Homage to Rene Thom, Salvador Dali (1983)

2 comentários:

Anónimo disse...

Afinal quem é forte e quem é fraco?! As demonstraçoes europeias/ocidentais seculares e actuais sao mais provas de fraqueza atavica, de pobreza espiritual, de mediocridade social do que de potência... A rarificaçao do ouro negro evidência hoje-em-dia o fracasso desta civilizaçao que parasitou as outras para existir e expandir-se. Nem falaremos dos seus herois como o corsico Napoléon Bonaparte que deu legitimidade ao "Code Noir". Nao sofrem, nem conhecem a vergonha!! A classificaçao dos negros permanece atraves por exemplo dos testes ADN e outras invençoes machiavelicas que até negrinhos como o ex ministro Victor Borges aplaudem. Nem pressintam no entanto que chega ao seu fim este ciclo colonial como tragicamente acabam os casamentos forçados e contra natureza!! Nos declararam uma guerra que perderam ha milhares de anos, pois sem nos da Africa nao existem. Tenho a intuitiva convicçao que a humanidade sabe bem disso...

Virgilio Brandao disse...

Ariane,
a questão genética não é, na verdade, importante quando falamos na humanidade como um todo; só importa(rá) quando o individual é que conta, quando se sobrepõe ao colectivo, ao bem comum. É uma «isca» a que o cidadão adere, mas não é real... pois os interesses são de outra ordem.

Infelizmente, os novos colonialismos não irão desaparecer com tanta facilidade; afrontar-nos-ão – aos pobres deste mundo – ainda por algum tempo. Mas História prova que não há mal que sempre dure; tudo o que o homem cria para oprimir o seu próximo tem pés de barro.

A fraqueza do engenho humano é, assim, razão de esperança e não de desesperança.

Dia bom