sábado, 18 de outubro de 2008

  • POETA ATÉ DEPOIS DO FIM E PRESCRIÇÃO
O local onde Federico García Lorca terá sido enterrado com os companheiros fuzilados em 1936 vai ser removido e os corpos exumados por decisão do juiz Baltazar Garzón que investiga as mortes e os desaparecimentos ocorridos durante a Guerra Civil de Espanha (muita gente foi morta, executada liminarmente, e lançada em valas comuns, ao estilo nazi em Auchwitz, Dachau... e das ditaduras militares sul-americanas, Chile, Argentina ou dos khmer vermelhos de Pol Pot...).

Diz arcana lenda nascida no dia da morte do poeta que, perante o pelotão de fuzilamento que o arrebataria do mundo e o levaria à Valhalla dos poetas imortais, abriu a boca, como se o Sol sobre os seus olhos fosse um beijo a desfolhar o luar – o que então podia –, e disse:

E el Sol, todavia nasce...

E calou-se nesse dia, pois hoje, ao amanhecer, veio nos raios de Sol repetir o prenúncio do teu nome em letras de mar e sílabas definitivas. Poeta, sim; poeta mesmo depois do fim.

– Porque Baltazar Garzón, do seu gabinete da Audiência Nacional em Madrid, quer desenterrar o, hoje, mais vivo de todos os espanhóis do Século XX? Sim, porquê é que os mortos não cuidam de si mesmos e deixam os vivos em paz? Sim, porquê?... – pergunta-me o meu poeta.

– Porquê os crimes contra a humanidade são imprescritíveis – respondo-lhe.

O meu poeta, torcendo o nariz ao que – como Baltarzar Garzón – penso, pediu-me tempo para pensar. O meu poeta adora as coisas impossíveis como Deus – disse-me um dia destes. É..., cada um com a sua dor, não é?

E el Sol, todavia nasce...
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  • Imagem: Federico García Lorca

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