quinta-feira, 5 de março de 2009

  • GLOBALIZAR A RIQUEZA E O CONHECIMENTO
Lá vai o Sócrates, carregado de Magalhães e de festa (pois claro! – porque será que não faz isso quando visita outros países?), visitar Cabo Verde. Quase que me lembra uma música que ouvi em menino e que todos nós, meninos e adultos, fomos obrigados a cantar:

«Oh na mar, vapor já somá tâ trazê nôs president
Pa v´sitâ soncent
…»

Era, então, uma espécie de Messias que chegava à terra. Nada mudou, então.

Nada mudará, depois de agora. Sócrates quer ficar na história como um reformista (os pensionistas, sim: devem-lhe muito; o salário mínimo nacional portugués, também – bom seria se se aproveitasse a sua visitar para se aprender alguma coisa neste plano) e como o homem do TGV e do lançamento do novo Aeroporto de Lisboa. Pode, até vir a ser conhecido – com alguma felicidade à mistura – como o salvador de Portugal da grande crise que enfrenta há muito.

Enquanto Portugal vai gastar muitos milhões de euros no TGV – para reduzir em cerca de 30/40 minutoa a viagem entre Lisboa e Porto, v.g. – e a União Europeia atribuiu valores astronómico a Polónia e a outros países membros para reconstruir e modernizar a sua rede de transportes, em África ainda se faz transportes de de passageiros e de mercadorias em veículos do mesolitico da revolução industria e os mecanismos de mercado sofrem do que sofrem, duplamente enforcados.

Como é possível, deste modo, haver um mercado competitivo ao nível mundial? Como é que África pode competir no mercado internacional se as armas que detem são ostensivamente desiguais e não se faz uma esforço sério para que saia da idade negra da industria? Há que (re)pensar o modelo de desenvolvimento do constinente africano de uma forma verdadeiramente justa e adequada à realidade de um Mundo verdadeiramente global – e a copperação para o desenvolvimento pode ter um papel importante neste aspecto. Globalizemos a riqueza e o conhecimento – agora!

O «Mundo Novo» das novas tecnologias chega a Cabo Verde – com o Magalhães e outros intrumentos tecnológicos análogos. Mas, na verdade, não é/será um presente envenenado para as famílias cabo-verdianas? Como é que, por exemplo, uma mãe que ganha 12.000$00 (doze mil escudos) por mês, pode possibilitar ao filho ter internet em casa, se a sua remuneração mensal mal dá para fazer face às necessidades mais básicas da família? O Governo fez contas para saber o que o uso da internet vai custar às familias – nomeadamente às mais pobres? É que o preço do acesso à internet em Cabo Verde é proibitivo para as familias pobres – isto é, para a maioria da população.

Deve ter feito as contas, espero. Mas se o fez, se fez o estudo do impacto desta medida (que em si é de aplaudir, mas que tem e terá efeitos boomerang consideráveis) de forma tão célere, admira-me que precise de tempo para estudar o ordenado mínimo nacional (34 anos não foram suficientes?). Se calhar estou enganado, sinceramente enganado, e as familias com crianças em idade escolar e que irão usar o Magalhães terão acesso gratuito à internet e que o preço deste bem de primeira necessidade do primeiro mundo venha a ajudar a ter um preço democrático, justo e adequado à realidade financeira do povo mais povo cabo-verdiano. Seria de espantar se isso acontecesse, num duplo sentido – considerando as prioridades nacionais – mas compreenderia o sentido maior do bem da medida.

Globalizemos o conhecimento, sim. Mas há, também, de globalizar a riqueza e evitar que o conhecimento e o acesso a ele não se torne uma forma de empobrecer ainda mais as familias economicamente mais frágeis e com parte dos seus parcos rendimentos a irem parar na conta bancária da CV Telecom, faltando, depois, o pão. Isso lembra-me a história que um amigo me contou, há alguns anos, escandalizado: em Bissau estava-se a colocar cabos de fibra óptica para telecomunicações enquanto o povo mal tinha dinheiro para comprar arroz e havia esgotos a céu aberto manando pelas ruas cidade. Mutatis mutandis, será uma boa analogia de situação.

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