quarta-feira, 11 de março de 2009

SUMMA INJURIA, INGRATOS!

Ontem, Sexta-feira – 10 de Março do ano da Graça do Senhor Jesus, o Cristo, fiquei indignado! Indignado com a ausência dos “chefes” (hoje escrevo com letra pequena e entre aspas) dos países da CPLP no funeral do Presidente da Guiné-Bissau – Nino Vieira. Não me venha dizer que foi por questões de segurança! Give me a break, please! Foi sim um desrespeito, uma summa injuria ao Chefe de Estado assassinado e para o povo da Guiné-Bissau. Ponto final!

De alguns, não me admira nada a atitude. Mas de Cabo Verde!? Deus!, como um povo pode ser ingrato! O Comandante Pedro Pires – que sabe como poucos como foram difíceis os dias da guerra da libertação do jugo colonial e do que o Comandante (de cujus Presidente) Nino Vieira fez – não deveria estar ausente. Inadmissível! Nino Vieria, com todos os seus defeitos, era um Chefe de Estado e um herói para os cabo-verdianos! Assim como Amilcar Cabral, não menos... não menos. Senti-me, além de indignado, envergonhado pela acção dos representantes da minha nação, com todo o respeito que me merecem e que lhe devo.

País irmão, uma ova! Sempre que disserem isso, "chefes" – mas pouco! – tereis de lavar a boca se estiverdes perante um cidadão guineense; é uma vergonha, um opróbrio que vos perseguirá até ao fim das vossas vidas. Todos, como um rebanho, boicotaram o funeral do Presidente Nino Vieira. Não se faz turismo diplomático em Bissau, não é? Mas há outras razões, e a seu tempo se saberá! Como dizem os americanos: shame on you! Shame on you...

6 comentários:

Anónimo disse...

Pois, VB o Mugabe também é chefe de Estado, e quando morrer nesta condição, achas que estarão nas exéquias funebres, os chefes de Estado dos países que condenam o regime que impôs à ex-Rodésia, como os EUA, Reino Unido, etc.
Em relação à Guiné, devo lembrar-te que desde do golpe de 1980 Cabo Verde não tinha uma representação diplomática em Bissau, e que afinal nenhum Presidente da República, nem mesmo o de Senegal, como estava previsto inicialmente, foi pessoalmente ao enterro de Nino. Interpreto estas ausências como sinais de coerência e consequentes.
Digo até mais se Nino fosse meu irmão, e se eu fosse Presidente legítimo de algum país africano,não iria nesta qualidade ao enterro, pois estaria a representar toda a minha nação, que decerto condena golpes de Etado como forma de alcance do poder, atentados, violência, perseguições na base da etnia, and so on. Poderia, talvez mesmo, deveria ir a título pessoal, nada mais.

Acho que coerência e consequência são os ingredientes fundamentais para uma política externa séria, e no relacionamento entre as nações e países, não achas VB?

Virgilio Brandao disse...

Oh!, Jessica... mutatis mutandis!

Coerência? Mas, então, o Nino não foi recebido no concerto das nações da CPLP com braços abertos? E não foi ele eleito democraticamente?

Mais importante, Jessica: a fraternidade não é mais importante que a "política externa" e não deve(ria) expressar o que deve ser a um relacionamento de iguais (ainda que diferentes), com solidariedade?

Se fosse outra pessoa a escrever o que escreveste diria que «quase que noto um rancor pelo golpe de 1980». Mas mesmo que fosse, isso (e não será, ainda que possa parecer) é passado remoto.

Ah!, coerência seria essa gente nunca se ter sentado à uma mesa com o Nino Vieria. O problema, Jessica é que outros valores se levantam: a Guiné-Bissau ficou, de repente, sob uma tutela silenciosa da Comunidade Internacional (veremos as consequêcias disso).

Só assim perceberei o argumento da "política externa séria"; ainda que a perceba como política externa da chantagem (sanção, para usar a expressão jurídica da Carta da ONU) - mas que séria, humana e fraterna não é!

E, agora, pergunto-te: quantos Chefes de Estado africanos (e não só) são recebidos com pompa e circunstância em determinados foruns tendo sido responsáveis por violações reiteradas de direitos humanos?

Jessica, dois pesos e duas medidas não é, certamente, nada que se possa considerar justo, adequado e, muito menos, de "política externa séria".

Dia bom, Jessica

Anónimo disse...

Pois, pois VB, mas o meu conceito de política externa séria, é pois a que deve ou devia ser coerente. Infelizmente, mudam os tempos mudam as vontades, e o mundo....

Não tenho rancor nenhum em relação ao golpe de 1980, nem tenho de ter pois em relação a factos não deve haver rancores. E este é um facto histórico! Aconteceu! O caminho é para frente, e os erros dos outros devem permitir-nos entender para não os cometer também.

Em relação à questão da unidade GB/CV, eu quero é reler e revisitar os princípios teleológicos do projecto como ele foi pensado e elaborado pelo seu mentor. E daqui entender se o que foi idealizado, foi de facto o que se tentou implementar. Esta a minha intenção, neste momento.

A análise histórica dos factos não deve ser romântica ou subjectiva. Deve ser objectiva, isenta e imparcial, doa a quem doer, não concordas?

Desta minha pequena (re)incursão, ao pensamento de Cabral, sobre este particular dar-te-ei notícias, como já mo sugeriste aqui neste fórum. ;)

Quanto às democracias representativas formais "exportadas", impostas pela comunidade internacional dar-te-ei nota em outra altura. São ao fim e ao cabo as incongruências e incoerências das políticas externas não sérias, e das políticas de ajuda ao desenvolvimento. A tal história do coelho e da cenoura.(Pavlov neste aspecto será muito útil à análise. rsrsrsr)

Continuação e boa lua cheia :)

Virgilio Brandao disse...

Jéssica, uma das regras fundamentais da «real politik» é de que isso da “coerência” não existe e de que as vontades (dos Estados) mudam com os tempos, as necessidades e as circunstâncias (não foi, Jessica, por essa razão que o PAICV tentou criar em Cabo Verde – com a abertura à democracia – um pluralismo monopartidário e que acabou num pluralismo bipartidário de matriz ideológica monocêntrica?).

Este é um tema ainda não aferido – de forma de adequada e profunda – em Cabo Verde, infelizmente. A coerência é, de todo, incompátivel com a política como arte, como ciência de governar!, em particular nos Estados mais frágeis.

A palavra, Jéssica, é “interesse público objectivo”! E isso não exige coerência mas pragmatismo sustentado nos valores da comunidade que se defende e se protege; em suma: pragmatismo ético e útil.

A “coerência” não defende valores de “bem” objectivo (sou partidário da ideia de um bem objectiva – de uma ideia de Justiça social e de uma ética de bem univesalizável) nem tem flexibilidade social bastante para ser útil. Mas isso, Jessica, não é matéria para desenvolver nesta sede discursiva.

Mas, Jéssica, se reparares bem, o primeiro e o último parágrafo do teu discurso são, em si mesmos, contraditórios e excludentes: o “não sério” é (a realidade o prova!) coerente com os fins que se perseguem com a dita “política externa”! Se me permites, deixe-me aconselhar-te a leitura das memórias de Winston Churchill (que lhe valeram o Prémio Nobel da Literatura!) ou a biografia e a obra de Kissinger que são bem eloquentes neste aspecto.

Jessica, a análise (inclusive a histórica) – como uma leitura adequada do «Discurso do Método» de Descartes nos revela – nunca é “absolutamente” objectiva, pois tem (a) o analisador como como mediador do discurso narrativo e (b) um ponto de partida ou perspectiva de análise.

Isso da imparcialidade, Jessica, é uma ficção discursiva: há sempre um ponto de partida – ainda que meramente metodológico – que determina a análise em sim mesma…

Nunca – por natureza das coisas – nos será possível fazer uma interpretação autêntica do pensamento de Amilcar Cabral, mas poderemos nos aproximar do seu pensamento, das suas ideias, do seu projecto.

“A independência para quê”? –perguntava Cabral. E explicava porque era necessária – mas estava disposto a ser pragmático, mesmo num tempo em que a luta armada era uma regra no continente.

Esse era, Jéssica, uma das facetas do humanismo e da arte de fazer política de Amílcar Cabral. Fico à espera das tuas reflexões neste aspecto.

E, Jessica, «democracias representativas formais "exportadas", impostas pela comunidade internacional»… é – dito assim – uma juízo que leva à conclusões qu es epode considerar, no mínimo ambíguas. Mas fico à espera de saber o que pensas, realmente e na plenitude.

Mas sempre te direi que se é verdade que a «abertura» política que deu origem à II República de Cabo Verde foi mais uma imposição (não da “Comunidade Internacional” mas da situação política internacional – o que é substancialmente diferente) da ética pragmática do que que da “coerência política” do Estado autoritário que geria os interesses da nação caboverdiana durante a I República.

É que a coerência politica e ideológica do Estado e do Partido dirigente da sociedade não era, de todo, coerente com os valores que veio a adoptar na II República. E nem se fale nos actores políticos! Pois, em verdade, quem são os actores da II República que não estavam, directa ou indirectamente, comprometidos com o sistema político da I República? Se filhos eram (são) da mesma mãe – a pátria –, também são-no do mesmo pai: o partido único. Neste aspecto, Jéssica, a história é implacável.

Ah!, já me esquecia: Jéssica, a única coisa sobre a qual se pode ter rancor é sobre um facto. Sem facto motivador do rancor, este não existe. Aliás, o maior e mais célebre rancor que se conhece na História foi a que teve Catão o Velho contra os africanos de Cartago por causa das derrotas e Tesino, Tansimeno e, principalmente, pelo horror e desastre da Canas.

Este facto gerou o grande ódio, o rancor que consumiu Catão – o Velho que gritava sempre no Senado, no final dos seus discursos: delenda est Cartago! (é preciso destruir Cartago).

Mais próximo: sem o Tratado de Versalhes (nos termos em que foi imposto à Alemanha e ao Kaiser) provavelmente não teriámos uma II Guerra Mundial.

A causa, Jéssica? O rancor… o opróbrio da derrota, de perder, de se sentir inferior ao vencedor . o menos capaz do que nos derrota. A natureza humana, Jéssica! Os Estados são gerido por homens – daí se precisar, sempre, de homens bons… é a velha questão – de Platão à Karl Pooper.

Percebes, assim, que não falava de ti – de todo que não! – mas do colectivo que somos nós como objectos de representação política. É um dos males da democarcia representativa, pois claro.

Ajudas ao desenvolvimento da dependência externa – quererás dizer, Jéssica? Aqui, sim, concordarei contigo: há coerência! Mas isso é uma outra conversa – o verbo é outro. E, parafraseando Quevedo, Deus te salve de mais um ongo prólogo!

Dia bom.

PS: Sobre o projecto da Unidade Guiné-Cabo Verde, não sei se o problema não terá sido o da falência ideológica que levou, naturalmente, à queda da URSS.

Tenho como certo que o projecto em si – mesmo com as suas vitualidades ideológicas alicerçadas na boa vontade – não se confrontria, cedo ou tarde, com a natureza das coisas e da pessoa humana (contrariadas no plano ideológico); logo, com a falência do projecto de União de Estados. Mas isso, Jéssica, fica para a tua reflexão.

Anónimo disse...

Boycotar os funerais de Nino Vieira nao estranha ninguem quando olhamos para os alienados e cobardos presidentes africanos que temos!! Assumo os adjectivos e gostaria sobretudo saber qual foi o motivo da visita oficial que fez ha pouquinhos meses o Pedro Pires (sozinho) em Bissau?! Este nosso presidente mais do que qualquer outro deveria ter deslocado pessoalmente para acompanhar nao o morto (que nenhuma compaixao, nem lagrima merece) mas o povo guineense perdido no meio de tanta hipocrisia e batotada. Este povo amigo perante quem os Cabo-verdianos (ingratos) têm incomensuravel divida... Deveria ter sido coerente o camarada Pires, nao perante a opiniao e instituiçoes internacionais, mas perante a historia que nada perdoa. O desprezo do governo cv diz longo sobre a maneira como CV trata a memoria comum e os povos irmaos do continente. Da a entender que estes politicos cv nao têm etica, nem dignidade africana. Se esfregam de uma certa forma as maos porque com Nino foram-se muitos segredos e rancores. As razoes de tao pouca consideraçao estao ainda no "cancer of betrayala"...

Do resto, nao partilho desta vez em nada a tua argumentaçao sobre a coerência, o rancor na historia, a "interpretaçao" da obra de Cabral (que nao pretendia ser qualquer messias da politica)... permaneces numa logica autoreprodutiva bem masculina e absolutista que o meu "bon sens" de mulher refuta.

Anónimo disse...

Queria só informar à amiga Ariane que o Presidente Pedro Pires esteve em missão na Guiné-Bissau, depois das eleições legislativas da GB, para convencer o falecido Nino Viera, a aceitar o veredicto que saiu das urnas e que deu a vitória expressiva ao PAIGC, e nomear o Carlos, Júnior como Primeiro Ministro.

Às vezes é bom conhecer os factos todos, antes de opiniarmos, julgo eu.

Dia bom

:)