domingo, 12 de abril de 2009

  • PÁSCOA, EQUIVOCOS DA HISTÓRIA E EXERCICIO MATEMÁTICO
A História está cheia de equívocos, as pessoas falam de coisas que não sabem e elas, dando razão ao infame Joseph Gobbels, tornam-se uma espécie de verdade. Um deles, recorrente na discussão entre evolucionistas e criacionistas, é de que o Mundo não pode ter 6.000 anos como dirão os criacionistas mas, de acordo com os testemunhos geológicos, é bem mais velho. É um equívoco tremendo, de que não sabe bem do que se fala no plano Teológico, mas não é isso que me ocupa agora – fica, possivelmente, para outro dia. Atentemos, pois, noutro aspecto.

Os cristãos, na verdade, não dizem que o Mundo tem 6.000 anos. Diriam isso há cerca de 2000 anos atrás, hoje dir-se-á que é um pouco mais – e não será o Mundo, mas o homem como o conhecemos. Foi Sextus Julius Africanus quem legou esta ideia à humanidade. Conhecido no mundo grego como Africano, morreu por volta do ano 240 AC. Juntamente com Clemente de Alexandria e Origenes é, nomeadamente, uma das grandes referências entre os pensadores cristãos do período pré-niceano. Deve-se ao seu labor uma obra de referência histórica e da apologética cristã – a Chronografiai, de que somente sobreviveram alguns fragmentos – sobre a origem do Mundo desde a sua criação até o ano de 221 AD, ano em que, a 26 de Junho, o Imperador Antoninus Eliogábalo adopta o seu irmão Alexandre Severus.
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Africano terá nascido na Líbia – ainda que haja quem coloque a seu nascimento em Jerusalém por um equívoco de interpretação do facto de se considerar um filho da terra santa – e servido o Imperador Septimius Severus no ano de 195 AD, ainda durante a guerra civil (a crise dos quatro imperadores que emegira com a venda do Império ao africano Didius Julianus) e mantido ligações à família imperial, sendo um dos sábios que visitou Alexandre Severus em Roma. O que não era, naturalmente, além da paixão do Imperador pelo conhecimento, ao facto de terem uma origem comum: africana, tendo, inclusive, nascido na mesma terra do avó de Alexandre – Septimius Severus.

Aliás, este imperador estava muito ligado ao cristianismo – tendo, além sábios da África Pro-consular, como Africano e Origenes, recebido vários outros sábios da época e tido realções estreitas com eles. De tal forma assim é que Hipólito de Roma escreveu uma obra que lhe dedicou e que hoje se encontra desaparecida (provavelmente desaparecida no incêndio de Alexandria, perdido nos arquivos do Vaticao ou na colecção privada de um egoísta qualquer) e daria sabe lá Deus o quê para o poder ler: Philosophoumena Stygmata ou Tratado sobre a Ressurreição.

Júlio Africano foi o primeiro a identificar a data de 25 de Dezembro como a data do nascimento de Jesus Cristo. A Chronografiai, que computa cerca de 5723 anos de história, é a primeira grande obra cronológica do Mundo com a perspectiva cristã e, ainda hoje, é a que as religiões cristãs usam na sua escatologia – método que ficou conhecido como Alexandrino. Segundo Júlio Africano, entre a criação e o nascimento de Jesus Cristo decorreram, exactamente, 5499 anos.

Assim, se quiser saber em que ano, a contar desde a Criação, aconteceu o dia Páscoa em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e transformou o dia não no dia de Páscoa mas no dia da Ressurreição, bastará fazer as contas (não… não vou privá-lo desse prazer). Pode, também e se desejar, saber exactamente quantos anos, segundo Julius Africanus, o Mundo tem hoje desde a Criação – e não são 6.000… é cerca de 1/3 mais. Se quiser ser mais rigoroso, deverá ter em conta que considerava que a incarnação de Jesus Cristo ter-se-ia dado em 25 de Março do ano I antes de Cristo (sendo um dos factores de determinação da data do nascimento de Cristo – sem se degradar Hórus e Mitra). Hoje é dia da Ressurreição, do Novo Testamento, mas dizemos Páscoa… pois…

Imagem: Helene e Paris, David

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