domingo, 26 de abril de 2009

  • DEPOJOS DE LIBERDADE E CAÇOBODYS

1. Acordo a ouvir Liu Fang e Enka (música japonesa da era Meiji, emergente dos despojos da era Tukugawa) de Godai Natsuko, Teresa Teng e Fuyumi Sakamoto que partilharei com alguns amigos. Ontem, 25 de Abril, fiz anos e tive uma prenda: uma monumental dor de cabeça. É justo: entrei no Mundo a gritar, com uma palmada no rabo, e empurrado pelo grogue.

2. Um passarinho soprou-me ao ouvido – e a outros atentos – que um membro do Governo e um ilustre Advogado da Kapital foram vítimas de caçobody às portas do Bar Garage. Será que isso irá ajudar as gentes que governam o burgo praiense e a nação berdiana a pensar mais na segurança, na necessidade de haver mais e melhor policiamento, mais e melhor iluminação e, acima de tudo, uma política criminal que seja verdadeiramente preventiva? Não creio, mas a natureza humana é assim mesma: quando nos toca à porta o inforúnio, grita-se: daqui d´El Rey. No caso, o rey vai nu – depojado de haveres na noite escura. Há coisas que tocam a todos. Shadows and dust – diriam os estoicos…

3. Carlos Veiga voltou ao MPD! – diz-se. Ilusão: Carlos Veiga nunca saiu do MPD. É o momento do MPD deixar de ter uma liderança bi-céfala, do partido ventoínha matar (ou não) o pai e/ou as lideranças deixarem de ter uma tutela sombra na figura do ex-Primeiro Ministro. Os militantes do partido serão capazes disso? Jorge Santos, acredita que sim – que pode vencer Carlos Veiga. A JPD, cautelosa, não joga – nem em cartas viciadas. E faz bem, faz bem – juventude prudente… coisa rara, verdadeiramente rara.

Isaura Gomes, que já não tem em Carlos Veiga o seu candidato tem (segundo as suas palavras de 08.04.2009) o caminho aberto para se candidatar às Presidenciais de 2011. Ou não? Se Jorge Santos conseguir manter a liderança do MPD – coisa que poucos acreditam que venha a acontecer, mas que não é nenhuma impossibilidade... –, não perdoará Isaura Gomes que deverá alinhar ao lado de Carlos Veiga e tentar sobreviver ao terrromoto político para cujo ninho segue voando alegre e contente. Sim, estará ao lado do regressado D. Sebastião, pois não tem perfil para, como o Miguel Monteiro, ficar na indecisão – no vamos ver no que isto dá: é demasiado ciente da sua propagandeada e propalada irreverência para não tomar partido... do aparentemente óbvio.

Neste momento Jorge Santos sentir-se-á, naturalmente, traído. E tem mais do que razões para isso; mas não deveria: o que acontece hoje era mais do que previsível há muito, muito tempo. A política é uma ciência, e as ciências têm uma considerável dimensão de previsibilidade. Um líder não vale somente pelas suas qualidades técnicas e pessoais, mas também por quem tem ao seu lado, por quem o aconselha, o ajuda a prever e a construir o futuro. Se Jorge Santos pensa a volta de Carlos Veiga é um caçobody ao seu MPD, deveria ter-se prevenido. O líder do MPD não é ingénuo. Não pode ser; e sei que não é. A pólvora, ao contrário do que pensam alguns iluminados, não se descobre – a pólvora, hoje, faz-se; e usa-se para se construir caminhos, mesmo entre montanhas.

4. Fez-se dois túneis para ligar Porto Novo/Janela. Obra louvável, necessária; não é tarde, porque para realizar-se coisas boas nunca é tarde. Agora, que os túneis (com duas vias) são estreitos, lá isso são! Temos de pensar no futuro, não ter ambições estreitas, pensar pequeno e imaginar que construímos o maior dos Mundos possíveis. O tunél precisava de um Marquês de Pombal cabo-vediano para o pensar e atrever-se a construi-lo; não para o útil hoje, mas para as gerações futuras.

5. Desta janela: os pássaros cantam, picam-se… e namoram. Afinal, como diz Robert Hayden, estão «encarnando o seu sonho da coisa necessária e bela».

Imagem: El venado herido, Frida Khalo

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