terça-feira, 28 de abril de 2009

  • ORQUESTRA NACIONAL CABO-VERDIANA
Umas tímidas gotas de chuva lembrou-me a minha terra, e uma ideia: ter-se, dentro de 5 anos, uma Orquestra Nacional Cabo-verdiana. Não, não é do Manuel Veiga, Ministro da Cultura, não. É de Isaura Gomes, Presidente do Município de S. Vicente – como quem tem o dever de pensar a cultura do país não pensa, pensa ela; por ela e por todos. Muito bem! Pedras no charco, nem que seja à moda de Júlio Verne ou de Leibnitz.

Mas será que a Presidente Isaura Gomes tem a ideia do que é uma orquestra nacional, e do que implica uma estrutura dessa natureza? Estou certo que sim. Confesso que apreio gente que pensa grande, que se atreve a ir onde os demais não colocam o escabelo do pensamento; pena é ser somente em algumas coisas: Cabo Verde tem sido pensado olhando-se pelo lado errado do binóculo. Mas neste particular da música (há que manter o povo alegre, cantando e louvando os deuses, pois claro!) aplaudo a ideia da Orquestra Nacional – que é bem mais difícil de concretizar do que levar a ELECTRA a cumprir com o seu dever de levar electricidade a todos os cantos do país; de Ulisses Correia conseguir fazer da Praia uma cidade tão limpa como Singapura, e os políticos passarem a pensar nas necessidades do povo (salário mínimo, mais emprego, mais segurança, ensino superior de qualidade, estruturas de saúde adequadas, justiça mais célere, igualdade social) e não no oriente da Joana.

A Orquestra Metropolitana de Lisboa (de natureza Municipal), por exemplo, é uma autêntica sociedade das nações, e tem financiamento do Município de Lisboa, de vários ministérios governamentais, de privados e fundos próprios… mas vive, tem vivido ao longo dos anos, com inúmeros problemas; nomeadamente no recrutamento de membros para a orquestra. E Portugal tem 11.000.000 (onze milhões) de habitantes, muitos maestros e concertistas consagrados, escolas e mais escolas de música, conservatórias... etc. Nós… para acompanhar a Cesária Évora (quando despontou no horizonte, e passaram a atentar na sua voz) houve a guerra surda de egos que se sabe, e que levou a que um grupo excepcional de músicos não convivesse durante muito tempo. A cultura é necessária, sim. Mas há cultura que não é democrática. Para se ter uma ideia: um primeiro violino da Orquestra Metropolitana de Lisboa ganha, por mês, mais do que o Primeiro Ministro de Cabo Verde.

Uma orquestra nacional? Sim, venha ela. Se se conseguir músicos bastantes e suficientes para honrar o nome. Uma Orquestra Nacional – lembro-me da de Berlin dirigida por Herbert von Karajan – não é um conjunto de músicos a tocar Cosi fan Tute, O Messias ou Va Pensiero, não. Mas uma orquestra que produzisse grandes obras com base na nossa cultura musical, seria uma coisa bela de se ver, sim. Mas será que temos lençóis para esticar os nossos pés musicais? Sinceramente, não creio. Mas quero crer! Assim, com reticências de Jonas e fé de Job, fico à espera, para ver se a ideia da Presidente Isaura Gomes não é somente emoção do momento ou mera marcação de paternidade de ideia.

Imagem: Apresentação de Kenny Ruiz para La historia del soldado, de Igor Stravinski, estreiada nestes dias em Leganés (Madrid).

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