quarta-feira, 22 de abril de 2009

  • A FAÇANHA DE ESTRELAR UM OVO E A LÓGICA DA MULHER NECESSÁRIA E BURRA
Homens há, dizem, que nem um ovo sabem estrelar; e mulheres também – digo eu. Cozinhar é uma forma de poética amorosa, basta ler A Festa de Babete de Isak Dinesen (Karen Blixen) ou ver o extraordinário filme com o mesmo nome para se ter uma dimensão aproximada desta realidade. Mas existe uma dimensão, menos poética e mais terrena da comida, do alimento necessário; ah, sim!

– «Aprendam a cozinhar, pois podem ter o azar de um dia se casarem com uma mulher que não saiba fazer nada» – disse-nos um dia, a mim e ao meu irmão, a minha Mãe.

Assim, aprendemos a cozinhar. Mas não é que Ela tinha razão?... Sim, o meu irmão casou-se… com uma mulher que não sabia nada de cozinha. Nem estrelar um ovo! Isso mesmo: nem estrelar um ovo. Mas o problema ficou (mais ou menos) resolvido: ela foi à casa da sogra fazer um estágio de cozinha para aprender a cozinhar com ela e a cunhada – esta uma cozinheira compulsiva e apaixonada pela arte de fazer coisas boas. Coitado do meu irmão… ela aprendeu a cozinhar as iguairas que ele gosta(va) mas não apreendeu a sua realidade, não atentou na essência do que é cozinhar. Assim, o que aprendeu em casa materna foi-lhe bastante útil. Ah, pois!

Mas não foi ele que me disse, um dia:

– Dji, no dia que me casar… não casarei com uma mulher que seja nem muito bonita nem muito inteligente.
– Porquê, Naice? – perguntei-lhe, meio espantado, pois não é isso que um homem mais deseja: uma mulher bonita para alimentar-lhe os sentidos, capaz de fazer-lhe esquecer todas as demais, e suficientemente inteligente para ser um desafio à alma, de ensinar-lhe coisas que a condição masculina deixa naturalmente escapar?
– Bem, sabes como é… – hesitou um pouco.
– Eu? Não sei, não… – volvi, intrigado, para logo acrescentar: – Mas vais me dizer.

E surpreendeu-me, surpreendeu-me com uma lógica de caserna, mas eficiente e profético:

– Bem, Dji, se casar com uma mulher muito bonita, ela será constantemente assediada por uma multidão de homens que andarão atrás dela. E, se porventura cair em tentação e me enganar; será inteligente o bastante para evitar que eu nunca venha a descobrir.

Fiquei com a alma parva! Compreendi as suas razões, mas não podia concordar com elas, com nada de nada das suas razões. Mas a verdade é que devemos ter cuidado com o que pedimos a Deus – pois Ele pode conceder o que deseja o nosso coração. Sim, isso mesmo aconteceu aos israelitas quando pediram um Rei – e Deus deu-lhes Saúl; pois é, Saúl. E não é que o meu irmão casou-se com uma mulher à perfeita imagem e semelhança do que queria, do que me disse?

Só os feios dizem que beleza interior é que importa – digo eu, e o meu poeta concorda. É finito, efémero, mas conta no rosário dos olhos. Na verdade, uma mulher precisa de ter três qualidades fundamentais – uma degrada-se, as outras não. Pela ordem de importância: (a) um bom coração; (b) inteligência e (c) beleza. Esta última é como a juventude – uma espécie de gripe formal e cronológico que o tempo cura. O resto, bem… o resto que na verdade é tudo, permanece para lá da forma – pois é a substância, a mater do que somos. A mulher necessária e burra é uma utopia da segurança que, por vezes, aprende a estrelar um ovo. E não me chameis machista, não. O mesmo juízo se aplica(rá) aos homens, mutatis mutandis – pois nunca vi um homem belo.

Agora, para quem não sabe fritar um ovo, ensino como se faz – como eu gosto.
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Agarre duas fatias de pão de Mafra ou tipo caseiro, barre-os com pasta de alho, coloque no meio delas umas ervas aromáticas ao seu gosto (casadas uma com a outra, para o aroma das ervas entranhar-se no pão), e coloque-os no forno por cinco minutos (pode ser no micro ondas, mas não tanto tempo).

Quando estiverem prontos, não tostados, retira-os e coloque-os num prato. Então, coloque a frigideira no fogão, com um pouco de azeite de oliveira; e quando este estiver quente o bastante (não demasiado), parta dois ovos – de preferência ovos caseiros – na frigideira, tendo o cuidado de colocar um pouco do azeite sobre a gema, acrescentado uns grãos de sal grosso. Não os deixe ficar muito tempo na frigideira, senão estragará as gemas… ficarão demasiado cozidas, e perderão a cor de por-do sol, fundamental num bom ovo estrelado. É que o ovo estrelado, quando fica com a cor de hímem fora de prazo… perde parte substancial do seu sabor.

Retirando-os da frigideira, com uma espátula de cozinha, coloque-os directamente em cima das fatias de pão espugadas da erva aromática. Coma-os, acompanhado de um queijinho fresco com sal e pimenta, e uma taça de vinho branco fresco (se for de manhã, poderá ser por um sumo de maça ou de laranja natural – ou até um café aromático: um Etiópia ou de Santo Antão – se tiver a sorte de o encontrar). Verá que é uma espécie de ovo estrelado-poema. É um bom pequeno-almoço, para se tomar ainda na cama.

Imagem: Ovo cru, aberto. Quando for colocado na frigideira deverá ser tratado com carinho, para ficar com essa forma (a que se vê na imagem) na frigideira e dela sair íntegra. É que os olhos, também se alimentam.

5 comentários:

Gabi disse...

VRB, ou Dji, onde posso arranjar dois ovos, ainda por cima caseiros? Aqui onde estou não tem nacionais, ie, crioulos?

eh eh
~
Continuação

Joshua disse...

Divertiu-me esta tua produção matinal.

:)

Eu que pouco mais sei do estrelar um ovo.

Virgilio Brandao disse...

Gabi,
se estiver perto de Lisboa, vá à Odivelas (junto à Rua Guilherme Gomes Fernandes - onde param os autocarros da Carris - 36) e encontrará. Eh, eh

:-)

Virgilio Brandao disse...

Joshua,
alegra-me isso: fazer-te sorrir. Tu, pelos vistos, não fizeste «estágio» com a sogra e a cunhada. Eh, eh...

:-)

marisa disse...

eh eh,è para ficar de boca aberta ou ... vou tirar um curso de culinària ainda k haja tempo,ahah... dia bom.