Reclining Nude, Toulouse Lautrec , 1897
II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
. Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
. Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos
5 comentários:
Muito bom. Basta ler uma vez para ficar na memória e reconhecer sempre.
Vejo que és, poeticamente falando, nacionalista...
:-)
Não sei se sou nacionalista ou não. O que sei é que não tenho muita paciência para a poesia. Sendo assim é mais fácil se estiver em português. Também não gosto de traduções e só o meu Inglês ou o meu Castelhano estariam à altura. Estou limitada. No entanto de vez em quando tropeço com coisas que fazem sentido até mesmo para mim e acabo por não me esquecer.
Tipo:
O amor dum homem?Terra tão pisada! (...) Um homem? Quando sonho o amor dum Deus...ou
Quási o amor, quási o triunfo e a chama,(...) Ai a dor de ser quási, dor sem fim...ou
Na solidão do teu sonho, sinto-te e vejo-te como és: nua, verdadeira
cheia de encanto vagabundo...
Bom! Assim de repente, e relendo o que escrevi, para quem não gosta de poesia não está nada mau :D
Deus, Joshua! Espanta-me que te lembres de versos meus...
:-)
I know. It`s embarrassing.
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