sábado, 8 de novembro de 2008

  • MEMÓRIAS DE LIVROS

Hoje, sabe-se lá porquê, tropecei em O Fim da Eternidade de Isaac Assimov. Lembro-me agora, dos tempos em que lia (devorava) Tolkien, Ray Brandbury, Artur C. Clark... e uma multidão de outros autores cujas obras hoje invadem as telas dos cinemas.

Eram, na altura, uma literatura menos literária – diziam muitos; como alguns, ainda hoje, dirão de Alexandre Dumas, de Júlio Verne e Edgar Rice Burroughs, mas não se atreverão a dizer isso de outros que, estando na mesma linha, tinham uma escrita fantástica não somente na substância mas também na forma, como é o caso de Rudyard Kippling («O Livro da Selva» e «O Homem Que Queria Ser Rei» são obras espantosas), sendo que as histórias do Tarzan, do Mogli e do «ressurrecto» Alexandre trazem mensagens subliminares de ordem racista e/ou racialista não despiciendas.

Lembro-me, ainda, com uma estranha nostalgia, da colecção Vampiro, primeiro a de bolso, depois a de formato de «livro» e de deliciar-me com os mistérios engendrados por Erle Stanley Gardner, Agatha Christie, A.A. Fair, George Simenon... Adolescente, ainda.

Mais atrás no tempo, lembro-me de ter aprendido a distinguir um bom livro dos maus (mas existirá, realmente, tal coisa para o faminto?). Paradoxalmente, foi a ler livros que não se consideram de «grande» literatura que fiz essa descoberta, em pleno Mindelo, menino e moço ainda a descobrir jogos de papai e mámãe.

Lia de tudo, mas mesmo de tudo (imagine-se que cheguei a ler os famosos «caprichos», as fotonovelas – Corin Tellado, Simplesmente Maria, Grande Hotel e toda a ordem de «caprichos»... – que foram mortas pelas telenovelas), pois a quantidade era escassa e a sede e a fome de leitura dava para consumir o mar imenso que fustigava a Matiota e a Laginha.

Sendo o meu primeiro grande autor Júlio Diniz (que não me farto de agradecer ao velho Djindjuca por me introduzir na grande literatura), a verdade é que foi a ler livros de cowboys – da colecção bisonte e outros... – que descobri o que eram os bons e os maus livros. E foi por exclusão – descobri primeiro o que era mesmo mau, no caso os livros de Marcial LaFuente Estefánia – que cheguei lá.

É estranho, mas não me recordo dos autores desses livros fast food, mas recordo-me de Marcial LaFuente Estefánia; descobri o que era o estilo de um autor com ele. Lia-se um livro e era como se se tivesse lido todos. A minha ideia de lone wolf, de western tipo e do que é um bom livro deve-se, em larga medida, a Marcial LaFuente Estefánia. E os seus livros eram maus...

  • Imagem: Tarzan, desenho de Hogarth (prefiro Russ Manning – quando tropeçar num dos livros dele, algures num caixote guardador, prometo partilhar uma ou outra prancha do mais imaginário Tarzan e do seu filho, Korak)

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